HQ TERRITORIO NEUTRO  | O SURFISTA PRATEADO

Por Léo Banner

Hoje vamos falar de um dos mais adorados e cultuados personagem da Casa das Ideias: o SURFISTA PRATEADO!
A rigor, entretanto, ele não seria exatamente uma criação de Stan Lee, mas de Jack Kirby apenas! Ainda que hoje seja um fato amplamente conhecido pelos aficcionados, vale a pena rememorarmos brevemente como se deu a criação do personagem! Já foi mencionado em outro post o chamado “método Marvel” de criação de histórias, utilizado por Stan Lee em função da sua absurda carga de trabalho como roteirista e editor, no qual ele escrevia uma breve sinopse de duas ou três páginas para uma determinada trama e depois a entregava ao respectivo desenhista do título, a quem cabia “interpretar” aquela sinopse de modo que ela preenchesse as 22 páginas habituais! Quando Jack Kirby começou a trabalhar a sinopse de FANTASTIC FOUR #48 se deparou com a trama de um ser de poderes divinais chamado GALACTUS, um ser acima da dicotomia bem-mal, uma força elementar da natureza cósmica, assolado por uma fome que só podia ser saciada pelo consumo das energias de planetas pujantes e repletos de recursos naturais, o que resultava no total extermínio da vida no planeta consumido! Ao se dirigir para Terra objetivando consumi-la, obviamente GALACTUS se depararia com o Quarteto Fantástico, que tentaria impedi-lo a todo custo de conseguir seu intento.

No entanto , ao desenvolver o argumento de Lee, Kirby pensou que um ser de tamanho poder deveria possuir um ARAUTO que anunciasse sua chegada, e no decorrer da trama inseriu um personagem em seus desenhos para tal finalidade, o SURFISTA PRATEADO! Stan Lee se surpreendeu quando viu aquele personagem que não constava em sua sinopse originária mas adorou não apenas a ideia como também o personagem. A partir daí, vimos o Surfista se afeiçoar ao planeta e se aliar ao Quarteto e ao Vigia para impedir que Galactus devorasse a Terra! Como punição por tal afronta, Galactus criou uma barreira que aprisionou o Surfista Prateado nos limites do planeta Terra, impedindo-o de singrar o espaço profundo de volta ao seu planeta natal Zenn-La! Essas histórias foram publicadas aqui no Brasil algumas vezes, mas, salvo engano, com cortes de páginas. A primeira vez que elas saíram a contento por aqui foi na COLEÇÃO OFICIAL DE GRAPHIC NOVELS IV – QUARTETO FANTÁSTICO – A VINDA DE GALACTUS, da Editora Salvat em 2016. Stan Lee se apaixonou de tal forma pelo personagem que o Surfista passou a figurar entre uma de suas mais queridas criações uma vez que, além de novas participações no título do Quarteto Fantástico, passou a figurar também em outros títulos. Algum tempo depois, o incrível Hulk decide abandonar a humanidade e sair do planeta Terra se utilizando de um “disco voador” que ele encontra singrando os céus; o que o gigante verde não sabia era que o “disco” em questão era o atormentado Surfista Prateado! Certamente desse encontro resulta um confronto e uma boa história que foi mostrada em Tales To Astonish #92-93 (publicadas por aqui em Coleção Histórica Marvel – Os Defensores vol. 4 da Panini Comics de agosto de 2016). Mas o Surfista, que se mostrou um grande sucesso entre o público, acabou ganhando seu título próprio em agosto de 1968, o que permitiu a Stan Lee não apenas aprofundar a história do personagem como também dar vazão a toda as suas próprias reflexões pessoais e digressões filosóficas sobre a vida e a existência!

Assim sendo, a partir de SILVER SURFER #1, Stan Lee, agora ao lado do lendário John Buscema nos desenhos, começou a detalhar as origens daquele personagem dramático e atormentado num título, a princípio bimestral e com o dobro do número de páginas em relação aos títulos de linha convencionais até a edição #7, passando a oferecer a estrutura de 20 páginas a partir de SILVER SURFER #8! Nessas histórias, Stan Lee nos brindou com belas histórias cheias de reflexões existenciais onde conhecemos os motivos que levaram Norrin Radd a se tornar o Surfista Prateado, bem como embates colossais contra o Poderoso Thor, o Estranho, o Abominável , Homem-Aranha, Tocha Humana e Mefisto, a mais recorrente aparição vilanesca dessa série, que buscava a todo momento conspurcar e corromper a nobreza espiritual e a bondade do personagem! Há um detalhe curioso sobre essa primeira série do Surfista, que teve seu encerramento em SILVER SURFER #18, em 1970; a história dessa edição, cujo singelo título foi “PARA ESMAGAR OS INUMANOS”, era para ser um ponto de virada no cânone do personagem, pois mostra um colossal embate do Surfista contra os Inumanos que o levaria a uma mudança de postura em relação à humanidade! Vale destacar que essa história foi desenhada por JACK KIRBY. No entanto, por alguma razão desconhecida, o título nunca teve a edição #19 e se encerrou com a trama em aberto!

Aqui no Brasil boa parte dessas histórias foram publicadas de forma esparsa pelas editoras RGE e Abril, mas saíram compiladas integralmente nas belas edições de BIBLIOTECA HISTÓRICA MARVEL – SURFISTA PRATEADO volumes 1 e 2 . A partir da década de 1970, Stan Lee foi se afastando gradativamente da produção de histórias em quadrinhos para se dedicar à função de publisher da Marvel e a outros compromissos externos que ocupavam boa parte de seu tempo! Ainda assim, o Surfista Prateado permaneceu como sendo um de seus personagens favoritos de tal forma que Stan sempre se opunha à criação de um novo título do personagem porque ele não tinha mais tempo de escrever suas histórias! Mas essa resistência acabou arrefecendo com o passar do tempo e um novo título bem longevo do Surfista surgiu na segunda metade da década de 1980 com uma competente equipe criativa que produziu ótimas histórias! No entanto isso não quer dizer que Stan Lee não voltou a trabalhar com um de seus mais adorados personagens! Antes de encerrar esse post podemos destacar dois grandes e marcantes momentos do Surfista Prateado em histórias fechadas! Um deles é a sensacional PARÁBOLA, na qual Stan Lee se junta ao sensacional MOEBIUS, lenda francesa dos quadrinhos europeus, para nos brindar com aquela que considero como sendo A MELHOR HISTÓRIA produzida por Stanley Martin Lieber! Seu roteiro crítico e reflexivo aliado à soberba e incomparável arte de Moebius nos dão uma história que nos faz refletir sobre vários aspectos da miséria humana e do fanatismo religioso como instrumento de manipulação das massas! Uma trama que merece ser conhecida e apreciada várias e várias vezes! Essa história foi publicada pela primeira vez no Brasil pela editora Abril em 1989 e republicada em 2019 pela Panini Comics! Por fim, outro momento memorável é a graphic novel O JUÍZO FINAL, que surgiu a partir de uma ideia de John Buscema (que também amava o personagem, apesar de não gostar de quadrinhos, mas não falaremos disso agora, ok?) e Tom DeFalco, que envolvia o Surfista Prateado, Galactus e sua arauto Nova e o demoníaco Mefisto numa trama em que cada quadro era uma obra de arte de página inteira ilustrada por Buscema! Stan Lee revelou que ao escrever o roteiro dessa magnífica história se condoía ao elaborar a diagramação para os textos e os balões nas páginas com as belas ilustrações de Buscema! Essa história também foi publicada pela primeira vez no Brasil pela Editora Abril em 1991 e relançada recentemente pela editora Panini Comics em um formato diferenciado que valoriza ainda mais a arte de John Buscema! O preço está salgado, mas não é nada que uma bela promoção ou um bom cupom de desconto não resolvam! Vale a pena!

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