Por Adilson Carvalho

Antes de tudo quero dizer que sou um grande fã de Renato Russo. Comprei todos seus discos (Era a época pré CD, e pré spotify), fiz de tudo para aprender a letra de Faroeste Caboclo (ainda hoje erro) e estive no útimo show da Legião Urbana no Rio de Janeiro em 1995. Então, imagine a emoção de ver a vida de Renato encenada nas telas. O filme Somos Tão Jovens não cobre toda a trajetória de vida do artista, problema em todo biografado, mas serve como um lampejo emocionante no processo de transformação de Renato Manfredini Junior em Renato Russo, e na gênese da composição de canções icônicas como Geração Coca Cola, Eu Sei, Fátima, Tempo Perdido entre outras. O filme foi inicialmente pensado em 1999 como um documentário, com a permissão da família de Renato. Em 2005 a ideia do documentário foi descartada, e transformada em um longa-metragem produzido pela produtora de Antonio Fontoura, a Canto Claro Produções Artísticas.

O filme faz um recorte da vida de Renato começando em 1973, pouco após da família de Renato se mudar para Brasília, Renato Manfredini Júnior (Thiago Mendonça), com apenas 13 anos, fica preso por uma doença degenerativa numa cama. Sem muito a fazer, o jovem começa a compor poesias e sonha em se tornar o líder de uma grande banda de rock. Depois que é curado, ele descobre o movimento punk e adota o nome de Renato Russo, formando a banda Aborto Elétrico. Insatisfeito com a repercussão de seu trabalho e aos conflitos com o restante dos integrantes da banda, ele deixa o grupo e segue em carreira solo, se recriando como O Trovador Solitário, época em que cria canções mais narrativas, tais como Eduardo e Mônica e Faroeste Caboclo. O filme prossegue até o ano de 1982, quando se junta a Marcelo Bonfá (Conrado Godoy) e Dado Villa-Lobos (Nicolau Villa-Lobos, filho de Dado) para formar a Legião Urbana.

O filme, inicialmente se chamaria Religião Urbana, mas o título foi trocado a pedido da mãe de Renato que alegou que Renato sempre repudiou qualquer aspecto messiânico atribuído a ele. O ator Thiago Mendonça, que em 2009 havia vivido o cantor Luciano em Dois Filhos de Francisco, ficou com o papel de Renato e cantou as canções sem playback durante as filmagens. Inicialmente, o ator que interpretaria Marcelo Bonfá seria o filho dele, João Pedro Bonfá, porém, semanas antes do início das filmagens o ator teve problemas de saúde. As filmagens não podiam ser adiadas, portanto, ele foi substituído por Conrado Godoy, ex-integrante da banda de Pedro Bonfá. A atriz Bianca Comparato ganhou o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro por sua atuação como Carmem Teresa, a irmã de Renato. Lançado em 7 de março de 2013 no 4° Encontro do Cinema Nacional em Florianópolis, com distribuição pela Imagem Filmes e Fox Filmes, o filnme teve pré-estreia no Cine Odeon Rio, pela primeira vez no Brasil sendo transmitida simultaneamente via satélite para salas da Rede Cinemark em oito capitais brasileiras. O filme serve como um bom vislumbre, ainda que sem a pretensão de ser um retrato completo do artista, de um dos maiores poetas de nossa música, cujas letras ainda são incrivelmente atuais, profundas e reflexivas, que nos alertou “nos deram espelhos, e vimos um mundo doente“, mas como ele próprio também disse “temos nosso próprio tempo, afinal somos tão jovens!“.