Adilson Carvalho

O que separa a noção de justiça da vingança pessoal ? Até onde você está disposto a sacrificar para fazer o que julga certo? Essas perguntas sempre instigaram debates calorosos encenados em diversos filmes. O diretor e roteirista Gustav Moeller nos conduz a um presídio, um ambiente claustrofóbico e deprimente onde Eva (Sidse Babett Knudsen), agente penitenciária idealista que enfrenta um dilema quando o agressivo Mikkel (Sebastian Bull), jovem que faz parte de seu passado é transferido para a prisão onde ela trabalha. Sem revelar a ninguém que ele é o assassino de seu filho, ela pede para ser alocada no bloco do rapaz, o mais violento da instituição. Começa assim um perturbador thriller psicológico, em que Eva sacrifica sua atitude outrora idealista e valores humanistas em nome de uma revanche. O diretor e co-roteirista não tem pressa de contar sua história e tece cuidadosamente seu retrato de uma mulher cuja dor a transforma, daí o lento desenrolar que cria uma atmosfera gradativamente soturna, perfeita para o talento da atriz dinamarquesa Sidse Babett Knudsen. Ela preenche a tela com uma mistura de pena e revolta, mas que envolve o espectador questionador do jogo que se encena onde a moralidade é posta em cheque. A cenografia e a iluminação escura parece querer denunciar os conflitos internos e a culpa alocada em clima propositalmente claustrofóbico. A violência não é só física, mas também moral e o diretor não faz concessão em suavizar nada. Por isso, não é um filme para todos os gostos, mas pode despertar debates em meio ao clima depressivo que toma conta de seus 100 minutos de duração. O filme fez parte da seleção oficial do Festival de Berlim e chega agora aos nossos cinemas, a partir de hoje (31/07).