Adilson Carvalho

Em 1985 o diretor Tom Holland (homônimo do ator que fez o Homem Aranha) decidiu misturar comédia adolescente, filme de vampiro e mistério hithcockiano em uma história que resgatasse os clássicos filmes da Hammer e o resultado foi A Hora do Espanto (Fright Night). Na época os clássicos sangue sugas estavam ultrapassados e o terror nas telas era regido por monstros alienígenas ou figuras como Jason e seus similares slashers. A própria Columbia Pictures estava reticente quanto ao filme, desesperada por bilheteria depois do fracasso de Perfeição (Perfect), lançado no mesmo ano. A história escrita por Tom Holland nos apresenta a Charlie Brewster (William Ragsdale), um adolescente fã de filmes de terror que ao observar Herry Dandridge (Chris Sarandon), seu novo vizinho, acredita que ele é um vampiro. “Eu disse na época que para se aproximar de Janela Indiscreta, seria necessário modernizar o tema, mas a Universal recusou o roteiro alegando que vampiros estavam desgastados e funcionais apenas em comédias como Amor à primeira mordida”, disse Holland em uma entrevista. A ideia inicial era de que o icônico Vincent Price (1911- 1993) assumisse o papel de Peter Vincent, o “destemido” caçador de vampiros veterano, mas o ator, aos 74 anos, estava com a saúde muito delicada e desinteressado em voltar a atuar em filmes do gênero. Em seu lugar entrou o igualmente saudoso Roddy McDowell (O Planeta dos Macacos), na ocaisão com 57 anos. “Meu papel é o de um ator veterano, quero dizer, um péssimo ator”, comentou McDowall em uma entrevista de 1985 para a revista Monster Land. “Ele teve um sucesso moderado em alguns filmes isolados, mas todos eram produtos muito ruins. Basicamente, ele interpretou um personagem em 8 ou 10 filmes, pelos quais provavelmente recebeu quase nada. Ao contrário das estrelas de filmes de terror que são ótimos atores e interpretaram muitos papéis diferentes, como Peter Lorre, Vincent Price ou Boris Karloff, esse pobre coitado interpretou sempre o mesmo personagem, o que era horrível.”

Chris Sarandon (A Sentinela dos Malditos) assumiu o papel de Dandridge, o charmoso vampiro. Foi sua ideia que Amy (Amanda Bearse) tivesse semelhança com um amor de seu passado, suavizando assim sua vilania. A equipe de Richard Edlund, a mesma responsável por Caça-Fantasmas (Ghostbusters, 1984), fez sensacional trabalho de maquiagem transformando o rosto bonito de Sarandon em uma criatura morcego – homem com mãos parecendo garras tal qual o clássico Nosferatu (1922) de F.W. Murnau. O apelo sensual de Dandridge envolvia a sedução de Amy, ou mesmo uma relação homo erótica com seu assistente Billy Cole (Jonathan Stark). O fato do vampiro seduzir Amy, uma adolescente, estava bem distante dos ecos de pedofilia de tempos mais atuais. O personagem que rouba a cena, no entanto, é Ed “maldoso” (Stephen Geofreys), o nerd que mesmo incrédulo, ajuda Charlie no início para se tornar vampiro ao final. O filme tem uma sequência de referências para os fãs do terror clássico: A atmosfera gótica da vizinhança remete ao terror da Hammer, o apartamento de Peter Vincent decorado com itens do gênero (incluindo uma máscara de macaco), os canônicos poderes e fraquezas do vampiro, tudo misturado à uma fina ironia como Dandridge assobiando “Strangers in the Night” de Sinatra ou Ed assombrando Charlie com a frase “Você é um barato, Brewster” (You’re so cool, Brewster). O roteiro é genial por restaurar a coragem de um desacreditado Peter Vincent (MacDowell) através da amizade criada com Charlie (Ragsdale) que vem a fazê-lo assumir sua missão no final, completando a jornada do herói.

O filme fez parte de uma série de filmes de terror, sem conexão nenhuma entre si, batizados pelas distribuidoras brasileiras como Espantomania, e intitulados “A Hora do …. ” (A Hora do Pesadelo, A Hora dos mortos vivos, A Hora do Lobisomem, A Hora da Zona Morta). A sequência A Hora do Espanto II (Fright Night 2) veio a ser realizada em 1989, reunindo William Ragsdale e Roddy MacDowell enfrentando a vampira Regine (Julie Carmen), irmã de Jerry dandrige, que busca vingança. Esqueca a refilmagem de A Hora do Espanto de 2011, que está muito abaixo do original. A história do file original continuou na forma de dois livros Fright Night: Origins (2022) e Fright Night : Aftermath (prevista para esse ano ainda) expandem o universo da história, este último prometendo explicar inclusive o retorno anunciado de Ed “maldoso” ao final do filme de 1985. Holland, que escreveu o roteiro de Psicose II (Psycho II, 1983) e dirigiu Brinquedo Assassino (Child’s Play, 1988), o filme que introduziu o personagem Chucky, entregou um fã service com claras referências até mesmo ao clássico Drácula, de Bram Stoker. Seu último filme para o cinema foi A Maldição (Thinner, 1996), antes de ficar restrito a produções de TV, e atualmente, podcasts. Como o próprio afirmou tempos depois, “Cresci assistindo aos filmes de Christopher Lee como Drácula. De uma certa maneira ‘Eu sou Charlie Brewster‘”. Meu caro diretor, todos somos Charlie também.
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