POLTRONA 6 | QUARTETO FANTÁSTICO : PRIMEIROS PASSOS ⭐⭐⭐

Adilson Carvalho

O Quarteto Fantástico foi a primeira hq da era Marvel em 1962, sucesso imediato que serviu de origem para um universo de heróis nascido da imaginação de Stan Lee e Jack Kirby. Engraçado que tenha demorado tanto tempo para que estes ganhassem um live action de sucesso, depois de 4 tentativas anteriores, com todo o respeito para os filmes de Tim Story, que apesar de alguns troncos e barrancos foram bem regulares. O que a nova empreitada em torno dos personagens fez sabiamente foi deslocar a ação para uma realidade paralela aos eventos do MCU, afinal de contas como justificar que o Quarteto – tendo um gênio científico como Reed Richards (Pedro Pascal, ótimo no papel) – não se envolveu nos eventos da saga de Thanos retratada nos 11 filmes estendidos nas fases 1 a 3 ? A decisão criativa de Kevin Fiege resolveu a questão e permitiu criar uma deliciosa atmosfera retro-futurista remetendo aos trabalhos de Lee e Kirby, muito bem retratados no roteiro feito a quatro mãos por Josh Friedman, Eric Pearson, Jeff Kaplan e Ian Springer. Estes fizeram a vinda de Galactus (Ralph Inneson) crível dentro da narrativa, sem medo de abraçar a história original apesar de mudanças como do gênero feminino do Surfista Prateado (Julia Garner), tornando-o funcional na narrativa. Os fãs de longa data, como eu próprio, sentirão falta da figura do Vigia e do Nulificador Total presentes no arco de histórias publicado em Fantastic Four #48, #49 e #50 (1966), mas a inocência sessentista de Lee e Kirby estão bem justificadas e adaptadas ao público não iniciado na leitura das hqs originais sem ofender aos leitores de longa data. O que atrapalha um pouco é a velocidade com que as viagens ao espaço ocorrem na escola, mesmo sabendo que verossimilhança cientifica não deve contar numa história do gênero. O ritmo acelerado acaba não permitindo desenvolver, por exemplo, o Coisa (Ebon Moss Bacharach) – personagem riquíssimo em dramatização, o Toupeira (Paul Walter Hauser, o Arraia de Cobra Kai) se torna um mero adereço se comparado ao que personagem representa nas histórias do Quarteto. Tocha Humana (Joseph Quinn) tem seus bons momentos, mas o filme é muito bem centrado na figura da Mulher Invisível / Sue Storm (Vanessa Kirby). Esta se torna o fio condutor da trama, seja na gravidez ou depois do nascimento de Franklin Richards (Ada Scott). Seu poder não era apenas o de uma super heroína salvando o mundo, mas de uma mãe lutando com garras e dentes para salvar seu filho cujo poder latente é cobiçado por Galactus. Para quem lembra da primeira versão live action de 1994 (aquela nunca lançada nas telas), os atores Alex Hyde White, Rebecca Stabb, Jay Underwood e Michael Bailey Smith que formavam o Quarteto de Roger Corman aparece rapidamente na tela os dois primeiros como reporteres e os outros dois como tralhadores da Usina. A cena pós crédito é curiosa por apontar que o Quarteto voltará em Vingadores: Doomsday (2026), mas não tem o mesmo efeito de outras empregados na fase áurea do MCU, que se está por um lado desgastado depois do resultado inferior de filmes como Capitão América: Admirável Mundo Novo (2025) e Thunderbolts* (2025), por outro mostra que tem fôlego para honrar o acervo incrível da editora, o que o Quarteto Fantástico mostra em seus primeiros passos.

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