AS VARIAS FACES DE DRACULA

Adilson Carvalho

Drácula é sem dúvida um dos personagens mais adaptados da literatura, com representações algumas mais fiéis do que outras, fora as reinterpretações e versões não oficiais, a começar por Nosferatu (1922) de F. W. Murnau, que foi refilmado em 1979 e , mais recentemente, em 2024 por Robert Eggars. Com a estreia de Drácula – Uma História de Amor Eterno, de Luc Besson, vamos rever alguns dos melhores intérpretes do vampiro saído das páginas de Bram Stoker, publicado pela primeira vez em 1897.

BELA LUGOSI (1931). O ator húngaro viveu Drácula nos palcos antes de estrelar o filme de Tod Browning, e apesar de ser seu único filme no personagem, seu impacto ecoou por toda sua carreira. O visual clássico de capa, o sotaque europeu de Lugosi, até mesmo seu penteado moldando sua cabeça tal qual um morcego fizeram dele a imagem do vampiro clássico. A banda Balhaus o eternizou na canção gótica Bela Lugosi is Dead. Quando morreu em 1957, o ator foi enterrado com seu figurino do filme. Trivia: Os produtores não deixaram gravar a cena em que Dracula morreria Renfield (Dwight Frye) por medo de conotações homossexuais, que não eram aceitas na época de produção do filme.

CHRISTOPHER LEE (1958 – 1973). O melhor intérprete de Drácula foi o inglês Christopher Lee, que estrelou 9 produções da Hammer Films, e uma produção francesa independente. Foi o primeiro intérprete do personagem a usar os caninos escorrendo sangue e os olhos vermelhos, encarnando o medo sem jamais perder o ar aristocrático e sedutor. Sua atuação é muito próxima da forma como Bram Stoker o descreve nas páginas de seu livro: Um ser que representa a própria morte encarnada, perseguindo sua presa implacavelmente. Mina (Melissa Stribling) é mostrada no filme como esposa de Arthur e sem relação direta com Jonathan Harker (John Van Eyssen), que no filme vai ao castelo do conde ciente de sua natureza malévola e com intenção de destruí-lo. A Hammer acentuava o lado sensual do vampirismo, bem como caprichava na cenografia gótica. Apesar das mudanças, Lee tornou-se icônico no papel mesmo tendo apenas 13 falas em todo o filme. Ao seu lado, o ótimo Peter Cushing como seu nêmesis, o Professor Van Helsing. Nos Estados Unidos, o filme foi rebatizado de Horror of Dracula, para evitar confusão com o filme de Lugosi.

RUBENS DE FALCO (1979). Estreou no Brasil então a adaptação do livro de Stoker para o formato de telenovela entitulada Drácula – Uma História de Amor escrita pelo renomado crítico de cinema e escritor Rubens Ewald Filho. A novela, filmada no município paulista de Paranapiacaba, trazia o conde romeno, interpretado pelo ótimo Rubens de Falco, ao Brasil onde conhece Mariana (Bruna Lombardi) que é a reencanação de sua amada e namorada de seu filho Rafael (Carlos Alberto Riccelli). A novela, cuja direção ficou a cargo de Walter Avancini,  teve quatro capítulos transmitidos pela TV Tupi, entre Janeiro e Fevereiro de 1980, sendo então interrompida quando a emissora carioca entrou em falência. Cinco meses depois, a novela reestreou na Rede Bandeirantes, rebatizada de Um Homem Muito Especial e com a direção de Antonio Ambujamra. Muito antes que a Rede Globo produzisse novelas bem sucedidas como Vamp (1991) e O Beijo do Vampiro (2002) foi Rubens Ewald Filho quem trouxe o vampirismo para a teledramartugia brasileira.

FRANK LANGUELA (1979). O ator é o mesmo papel que fizera o papel nos palcos da Broadway alguns anos antes, e – inclusive – interpretando o vampiro sem presas, tal qual Lugosi no filme de 1930, algo que Langella exigiu quando aceitou o papel. Badham queria que o filme fosse em preto e branco, seguindo os passos do filme de Tod Browning, mas a Universal recusou a ideia. Os papéis de Mina (Jan Francis) e Lucy (Kate Nelligan) estão invertidos nesta versão de Drácula. No livro de Bram Stoker e em outros filmes, Mina era a noiva de Jonathan Harker (Trevor Eve) e Lucy era sua amiga que se torna uma vampira. Aqui, Lucy é a noiva e Mina se torna a vampira. Lançado em um ano cheio de adaptações de Drácula como Nosferatu (1979) de Werner Herzog e a comédia Amor à Primeira Mordida (1979) de Richard Benjamim com George Hamilton como o conde vampiro.

GARY OLDMAN (1993). Francis Ford Coppola prometeu a versão mais fiel ao romance de Stoker, mas apesar de muito boa, é uma romantização do personagem, que no livro não tem a história de amor eterno com Mina (Winona Ryder), tal qual retratada no filme. Drácula, no entanto, é vivido com admirável intensidade pelo excelente Gary Oldman. Os nomes de Mina e Lucy estão invertidos nesta versão de Drácula. No livro de Bram Stoker e em outros filmes, Mina era a noiva de Jonathan Harker e Lucy era sua amiga que se torna uma vampira. Aqui, Lucy é a noiva e Mina se torna a vampira.

RICHARD ROXBOUGH (2003), O ator australiano viveu um Drácula muito afetado e histriônico nesta produção realizada com a intenção de gerar uma franquia centrada na figura de Van Helsing (Hugh Jackman) unificando todos os monstros clássicos da Universal a partir da visão de Stephen Sommers, que dirigiu os bem sucedidos A Múmia (1999) e O Retorno da Múmia (2001). Apesar dos esforços, o filme ficou muito abaixo do esperado e teve as sequências pretendidas canceladas.

LESLIE NIELSEN (2005). Deliciosa comédia de Mel Brooks, que fazer o filme em preto e branco, assim como O Jovem Frankenstein (1974), para dar ao filme a sensação dos antigos filmes da Universal sobre Frankenstein. Essa ideia foi descartada pelos produtores, no entanto, alegando que muitos dos grandes filmes do Drácula eram coloridos, especificamente os filmes da Hammer estrelados por Christopher Lee e Drácula de Bram Stoker (1992), de Francis Ford Coppola, que serviu de base para o roteiro aqui, aproveitando o sucesso de Leslie Nielsen de Corra que a Polícia Vem Aí (The Naked Gun: From the Files of Police Squad, 1988).

LUKE EVANS (2012). A Universal fez de Drácula – A História Não Contada (Dracula Untold), uma nova tentativa de um Universo de monstros, fundindo a figura histórica do príncipe Vlad Tepes (Luke Evans), inspiração para a criação de Drácula por Bram Stoker, com o personagem literário. No meio da invasão turca na Transilvânia, Vlad ganha poderes do mestre vampiro (Charles Dance) para proteger seu povo e sela assim seu destino. Em uma versão inicial do filme, o Mestre Vampiro seria revelado como sendo o imperador romano Calígula. Essa ideia foi abandonada com a intenção de revelá-la em uma sequência, caso o filme se tornasse parte do Dark Universe da Universal. O filme, assim como o projeto seguinte, o remake de A Múmia (2017), com Tom Cruise, naufragou nas bilheterias. O Drácula de Evans ficou mais parecido com um super herói do que p monstro imaginado por Stoker.

ADAM SANDLER (2022). Criado por Gendy Tartakovsky, de O Laboratório de Dexter, o longa animado Hotel Transilvânia trouxe o comediante Adam Sandler (dublado por Alexandre Moreno) fez um simpático monstro que é pai amoroso de Mavis (Selena Gomez), e responsável por receber todos os monstros em seu hotel, que serve de refúgio dos humanos assustadores. O filme teve mais três continuações.

NICOLAS CAGE & JAVIER BOTET (2023). O ator exagerou no tom de sua versão de Drácula, praticamente um coadjuvante em Renfield – Dando o Sangue Pelo Chefe, lançado no mesmo ano que Drácula – A Última Viagem do Deméter, em que Javier Botet viveu uma versão bem mais assustadora do personagem em roteiro calcado em Alien – o 8º Passageiro (1979), e adaptando um capítulo do livro de Stoker, e expandindo a história.

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