Leandro “Leo” Banner

Atualizado em 02/08/2025.
Dia 6 de julho foi aniversário de um dos mais célebres, famosos e geniais artistas de quadrinhos de todos os tempos: JOHN BYRNE! Sim, de fato, ele é um dos melhores de todos os tempos, mas sua genialidade e seu brilhantismo vêm na mesma medida das controvérsias e confusões em que se via enredado ao longo de sua prolífica carreira.
John Lindley Byrne nasceu em 1950, na cidade de West Bromwich, Inglaterra, e imigrou com os pais para o Canadá ainda com 8 anos, onde foi naturalizado tempos depois. Alguns anos mais tarde matriculou-se no curso de belas artes do Alberta College of Art, em Calgary, sem concluí-lo! Iniciou seu trabalho com quadrinhos na Charlton Comics na década de 1970, e seu primeiro trabalho na Marvel foi na Giant-Size Dracula #05 em 1975. Começou a despertar atenção e interesse tanto do público quanto da editora em seu trabalho com o Punho de Ferro no título IRON FIST, ao lado do roteirista Chris Claremont. Sua escalada ao estrelato se iniciou quando passou a desenhar o título THE UNCANNY X-MEN a partir da edição #108 de dezembro de 1977, comandado também por Chris Claremont. Com a arte-final de Terry Austin, além de desenhar magistralmente o grupo de mutantes, Byrne também passou a contribuir com Chris Claremont no processo criativo, e o grupo teve aquela que é considerada por muitos uma de suas melhores fases.

Por ser habilidosamente rápido, Byrne também atuava concomitante e eventualmente em outros títulos como Marvel Team-Up assim como numa rápida passagem pelo Quarteto Fantástico com seu lápis finalizado pelo lendário Joe Sinnott, desenhando histórias roteirizadas por Marv Wolfman, Bill Mantlo e por ele mesmo algum tempo depois! No entanto, a parceria com Claremont em X-Men começou a se desgastar, e ainda que tenha gerado excelentes frutos, como A Saga da Fênix e a criação da Tropa Alfa, Byrne e Claremont já não se entendiam mais, e o canadense deixou o título após desenhar a seminal “Dias de Um Futuro Esquecido”. Nesse meio tempo, ainda teve tempo de se dedicar eventualmente a algumas edições de AMAZING SPIDER-MAN, THE AVENGERS e numa curta e marcante sequência de histórias do título CAPTAIN AMERICA ao lado de um de seus poucos amigos, o roteirista Roger Stern. No entanto, ciente do talento do artista, a Marvel ofereceu a ele a oportunidade de comandar o projeto “De Volta ao Início”, em 1981, visando revitalizar o Quarteto Fantástico, dando-lhe não apenas carta branca mas também a possibilidade do total controle criativo para escrever, desenhar e arte-finalizar as histórias do grupo. A fase no Quarteto foi sua consagração definitiva como um dos melhores e mais renomados autores de HQs daquela época, e é tida por muitos como sendo A melhor do grupo de todos os tempos, equiparável apenas à fase de Stan Lee e Jack Kirby. Em 1983, com as histórias do Quarteto indo de vento em popa, Byrne cria o título THE THING, com histórias dedicadas ao Coisa, mais famoso e carismático membro do grupo, estabelecendo maior profundidade à sua histórica amizade com Reed Richards e a seu passado. Nessa mesma época, escrevendo o título do Coisa com desenhos de Ron Wilson, percebeu que tinha algumas histórias e pontas soltas a fechar do grupo que criara com Claremont anos antes durante seu período em X-Men: a TROPA ALFA. A Marvel aprovou a ideia e em 1983 surgiu mais um título de sucesso, THE ALPHA FLIGHT, com roteiro e arte de Byrne.

No entanto, em 1986, depois de assumir brevemente o título THE INCREDIBLE HULK, Byrne se desentendeu com o então todo-poderoso da Marvel à época (Jim Shooter) e foi para a DC COMICS, na qual, atendendo ao convite e sugestão do lendário Dick Giordano, foi convocado para reformular o SUPERMAN após a maxissérie CRISE NAS INFINITAS TERRAS, que reiniciou parcialmente a cronologia da editora. Depois da minissérie em seis edições THE MAN OF STEEL, onde restabelece os fundamentos do Homem de Aço para uma nova audiência, Byrne assumiu os títulos SUPERMAN , ACTION COMICS e ADVENTURES OF SUPERMAN prosseguindo na sua marcante redefinição do Superman. Retornou à Marvel em 1988 produzindo os títulos STARBRAND (apenas as últimas histórias do personagem Estigma do chamado “Novo Universo” à época), AVENGERS WEST COAST e AVENGERS. Em 1989 iniciou o título THE SENSATIONAL SHE-HULK, com uma abordagem da MULHER-HULK adorada por muitos até os dias de hoje, e também de boas e marcantes fases do HOMEM DE FERRO (apenas como roteirista, acompanhado dos talentosos John Romita Jr e Paul Ryan) e do NAMOR, O PRÍNCIPE SUBMARINO, numa fase finalmente publicada em sua totalidade pela primeira vez no Brasil num parrudo OMNIBUS da Editora Panini Comics em 2023. Depois disso, já no decorrer da década de 1990, Byrne já não estava tão em evidência, muito disso provavelmente por causa de seu temperamento forte e dificuldade de aceitar críticas ao seu trabalho, mas ainda assim produziu trabalhos marcantes como a série SUPERMAN & BATMAN – GENERATIONS (também republicada em sua integralidade em formato OMNIBUS pela Panini Comics), sua fase de três anos no título da MULHER-MARAVILHA (também publicada pela primeira vez na SAGA DA MULHER-MARAVILHA, mais uma vez da Panini) e também a primeira história de HELLBOY, “SEMENTES DA DESTRUIÇÃO”, publicada algumas vezes no Brasil pela Mythos Editora, que escreveu baseado nos conceitos do amigo MIKE MIGNOLA, uma vez que este não se considerava na época (1992) apto o suficiente para roteirizar sozinho uma história em quadrinhos.

Em 1998, mais uma vez Byrne foi convocado para revitalizar um personagem que não andava bem das pernas, o Homem-Aranha. Com a série SPIDER-MAN – CHAPTER ONE, Byrne revisitou os primórdios do personagem e atualizou algumas situações. Mas depois de um certo tempo essas alterações foram desconsideradas. Nessa mesma linha, em 1999 também escreveu um anual do Hulk – THE INCREDIBLE HULK – CHAPTER ONE (inédito no Brasil) onde também atualizava de forma bem satisfatória a origem do Hulk. Mas foi a série X-MEN: THE HIDDEN YEARS a responsável pelo rompimento definitivo de Byrne com a Casa das Ideias, pois a proposta do canadense com o título era preencher as lacunas deixadas entre a última história inédita do grupo em 1970 e a clássica GIANT-SIZE X-MEN #1, de 1975. A ideia original eram de 60 edições, Byrne escrevia e desenhava ao lado do lendário arte-finalista Tom Palmer. No entanto, o título não emplacou do jeito que a Marvel esperava e o título foi cancelado na edição #22 pelo então novo editor-chefe Joe Quesada. Com isso, Byrne prometeu que jamais trabalharia para Marvel novamente, e vem mantendo a promessa até hoje. No começo do século 21, Byrne teve uma breve passagem pela DC no título do Superman, mas apenas desenhando os roteiros de Gail Simone acompanhado pela polêmica arte-final de Nelson DeCastro, e também atuou na série THE ALL-NEW ATOM também com Simone nos roteiros e arte-final de Trevor Scott. Pela IDW lançou também o autoral TRIO e em 2013 roteirizou uma edição de STAR TREK.

Atualmente suas produções estão bem escassas e raras, mas é possível encontrar algumas fanfics de sua autoria envolvendo os X-Men e outros personagens no sítio virtual do artista. Você pode chamá-lo do que quiser, rabugento, intransigente, insuportável, difícil de se lidar, mas a grande verdade é que John Byrne sempre foi um excelente contador de histórias, e mesmo que você não goste delas é impossível que essas histórias não lhes cause alguma reação, seja de assombro, seja de regozijo, seja de alegria ou qualquer outro sentimento. A verdade é que as histórias de Byrne lhe causarão algum impacto, não importa de que forma seja! John Byrne sempre foi visionário, um artista à frente de seu tempo. Posso mencionar alguns exemplos disso na sua vasta obra! Atualmente representatividade e empoderamento feminino são aspectos que vêm sendo valorizados e exigidos em todos os meios, e os quadrinhos não poderiam ser diferentes. Mas Byrne já tratava desses temas muito antes de eles se tornarem “evidentes”. Nas histórias da TROPA ALFA, já víamos vislumbres da homossexualidade de Jean Paul Baubier, o Estrela Polar, sendo trazidos ao conhecimento do público, enquanto que na DC, durante seu mandato em SUPERMAN criou a cativante Maggie Sawyer, oficial de polícia do Departamento especializado em atividades super-humanas. Maggie havia se casado e tido uma filha, mas estava infeliz no casamento até se dar conta de sua homossexualidade e largar o marido para viver com a mulher amada. Tudo isso foi mostrado de forma muito sutil nos títulos do azulão e Maggie foi crescendo em importância muito tempo depois.

Sobre empoderamento feminino, foi justamente Byrne que definiu Susan Richards, a Mulher Invisível, como membro mais poderoso do Quarteto Fantástico (até então Susan só servia para ser a donzela em perigo do grupo), pois seu poder não apenas de ficar invisível, mas de criar e projetar campos de força invisíveis dos mais variados tipos lhe conferia habilidades que excediam as de seus pares. E o que não falar da Mulher-Hulk, que Byrne fez questão de trazer para o Quarteto Fantástico e aprofundar sua história e delimitar mais apropriadamente seus poderes e sua história?… Tudo isso em plena década de 1980. Algum tempo depois, ainda que numa linguagem totalmente atípica, exaltou as capacidades e a independência da Mulher-Hulk. Byrne realmente era um artista visionário, mas seu temperamento difícil sempre foi algo que esteve sempre em evidência entre o artista e seu trabalho. Entre outras características , a dificuldade no trato geralmente é algo associado a grandes gênios, e essa é uma característica que certamente pode muito bem ser atribuída a John Byrne, muito apropriadamente chamado de “Gênio Indomável” numa biografia com sua história publicada aqui no Brasil, de autoria de Rodrigo Talayer. E ainda que atualmente não tenhamos nada exatamente novo desse mestre das HQs, surgiram nesses últimos anos vários lançamentos de Byrne que valem a pena ser conhecidos!
Vida longa e próspera ao mestre rabugento. 🖖🏻