HQ TERRITORIO NEUTRO | HOMEM ARANHA ESSENCIAL PARTE III

Adilson Carvalho

Em 1973 as histórias do Homem Aranha alcançaram um tom dramático sem precedentes com a morte de Gwen Stacy. Não era apenas a morte da namorada de Peter Parker, mas o fim da inocência representado pelo fato de que o herói não salvava a jovem. A arte imitava a vida já que nesta sem sempre havia um final feliz e a morte era o destino irremediável de todos (ao menos até então). Stan Lee se distanciava de suas criações tendo assumido o cargo administrativo da editora, e Gerry Conway, que já estava escrevendo o herói há algum tempo, manteve o posto de roteirista de Amazing Spider Man, enquanto a arte ficaria com Ross Andru (1927-1993), desenhista vindo da DC Comics onde havia feito uma fase de 9 anos à frente do título da Mulher Maravilha de 1958 a 1967, além de ter criado ao lado de Robert Kanigher os Homens Metálicos (Metal Men) em Showcase #37 (abril de 1962). Andru tinha um senso incrível de dimensão espacial; conseguindo desenhar painéis de batalha pelos telhados de Nova York, sem jamais diminuir a intensidade dramática ou o foco no personagem. A dupla começou esta proveitosa fase em Amazing Spider Man #123 (agosto de 1973), e dois meses depois o público brasileiro já conferia o resultado em Homem Aranha #55 pela editora Ebal. Esta conseguiu o feito incrível de se aproximar da cronologia americana, o que foi por água abaixo quando a Bloch assumiu a Marvel pouco depois decidindo republicar tudo do início. Assim, somente em quando a RGE passou a publicar a Marvel que o público brasileiro conseguiu reencontrar a fase Conway / Andru em Homem Aranha #19 (julho de 1980).

Para começar, pelas mãos de Conway e Andru, o público acompanhou o luto de Peter Parker, conheceu o Justiceiro introduzido em Amazing Spider Man # 129 (fevereiro de 1974), mesma edição em que surge o vilão Chacal cuja identidade seria parte do mistério desta fase inicial durante os meses seguintes. Em seguida, a dupla criou o vilão Tarântula, iniciou o relacionamento entre Peter Parker e Mary Jane, que permaneceu ao lado de Peter durante o luto, transformou Harry Osborne no segundo Duende Verde, trocou Flash Thompson de rival para amigo fiel, e ao final de Amazing Spider Man # 144 (maio de 1975) impactou os leitores mostrando Gwen Stacy revivida !!!! Nas edições seguintes revelou-se que esta não era nenhuma impostora mas um clone da Gwen original, criada pelo Chacal para atormentar Peter e ao final… matá-lo. Esse arco de histórias, conhecido até hoje como a Saga do Clone original, se estendeu até Amazing Spider Man #150 (novembro de 1975). Nele o Chacal se revela como sendo o Professor Miles Warren, que tomado por um surto esquizofrênico após a morte de Gwen, por quem era secretamente apaixonado, planejou o fim de Peter Parker como vingança. Esse arco de histórias chegou ao Brasil pela primeira vez em Homem Aranha # 29 a # 31 (maio a julho de 1981). Depois do epílogo escrito por Archie Goodwin em que Peter Parker se tortura por não saber se ele próprio é um clone ou não, começa uma nova fase com Len Wein  os roteiros e Ross Andru nos desenhos a partir de Amazing Spider Man # 151 (dezembro de 1975). Algumas histórias dessa fase são bem inocentes e até bobas se comparadas com a narrativa contemporânea como Dr. Octopus perseguido pelo fantasma do Cabeça de Martelo, o casamento de Octopus com Tia May, a volta do Aranha móvel transformado em uma máquina assassina, a volta do Rei do Crime que extrai a força vital do Homem Aranha, além de vilões meia boca como o Miragem e Stegron, o homem dinossauro. 

Em janeiro de 1976, Andru voltou a se reunir com Gerry Conway para produzir a edição histórica Superman vs Homem Aranha, primeiro crosssover entre Dc & Marvel, anunciado como a Batalha do Século, que chegou ao Brasil pela primeira vez em 1977 pela Ebal, sendo republicado anos depois pela Editora Abril em 1986 e 1993. Voltando às aventuras solo do aracnídeo favorito dos leitores, Wein e Andru acertaram, no entanto, no arco publicado entre Amazing Spider Man # 176 e Amazing Spider Man # 180 (janeiro a maio de 1978) em que o Duende Verde ressurge mas não é Harry Osborne. Mais sanguinário do que nunca o vilão, que ameaça todos a volta de Peter Parker, se revela afinal como o Dr. Barton Hamilton, terapeuta de Harry Osborne. Wein e Andru constrói um suspense gradativamente crescente com ação e drama em perfeito equilíbrio. Também coube à dupla uma história curiosa publicada em Amazing Spider Man # 169 (junho de 1977) em que Stan Lee aparece como um pedestre passando pela rua, pura metalinguagem que antecipa o hábito de Lee de ter aparecido em todos os filmes da primeira fase do MCU. Len Wein e Ross Andru encerraram sua fase em Amazing Spider Man com a arco dos terceiro Duende Verde, deixando uma marca inegável na história do personagem. Em paralelo o Homem Aranha nessa período aparece em três títulos mensais,  além do título principal que continua sendo Amazing Spider Man, nas páginas de Marvel Team Up e Peter Parker – The Spectacular Spider Man. Destes dois últimos falamos no final do mês. Acompanhe abaixo os dois primeiro artigos dessa série sobre o querido Cabeça de Teia :

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