HQ: CRISE NAS INFINITAS TERRAS | 40 ANOS DA MAIOR SAGA DA DC COMICS

Leandro “Leo” Banner

Uma onda de antimatéria avança sobre o Universo de matéria positiva ameaçando destruir todas Terras existentes no Multiverso. A primeira a ser obliterada é a Terra-3, onde imperava o chamado SINDICATO DO CRIME, uma versão corrompida e deturpada da LIGA DA JUSTIÇA. E a onda avassaladora prossegue avançando não apenas sobre infinitas Terras, mas também para todas as eras simultaneamente, ameaçando tribos pré-históricas, heróis do passado, presente e futuro que, para assegurar sua salvação precisam não apenas se unir contra a mais terrível de todas as ameaças, mas também formar alianças jamais imaginadas anteriormente. E assim tem início a fantástica maxissérie CRISE NAS INFINITAS TERRAS (Crisis on Infinite Earths, no original), publicada originalmente pela DC Comics entre 1985 e 1986, com 12 edições escritas por MARV WOLFMAN e magnificamente ilustradas por GEORGE PÉREZ. Este evento marcou um divisor de águas no universo DC, sendo uma das primeiras e mais influentes mega-sagas das histórias em quadrinhos, que neste ano de 2025 completou 40 anos de lançamento, razão pela qual achamos oportuno falar a respeito desse verdadeiro marco dos quadrinhos mainstream.

Antes da CRISE…, a DC Comics havia acumulado décadas de continuidade com várias versões de personagens e múltiplas “Terras paralelas” — como a Terra-1, Terra-2, Terra-S, entre outras, como se verificou no texto dedicado ao lançamento CRISE NAS MÚLTIPLAS TERRAS. Essa complexidade que criava um emaranhado cada vez mais confuso, incoerente e difícil de acompanhar gerava incontáveis inconsistências nas histórias, o que acabou afastando não apenas antigos, como também novos potenciais leitores, o que levou a DC COMICS a pensar numa forma de mudar essa situação. Para tal finalidade, incumbiu MARV WOLFMAN, que havia retornado pouco tempo antes à sua antiga casa depois de alguns anos como roteirista e editor da MARVEL COMICS GROUP, desse empreendimento verdadeiramente ambicioso no qual decidira apostar todas as suas fichas para tentar reverter a situação de afastamento dos leitores. Wolfman então iniciou, no começo da década de 1980, um hercúleo , criterioso e dedicado trabalho de pesquisa a fim de promover um levantamento de TODOS os personagens da DC COMICS desde a Era de Ouro, incluindo os das Terras alternativas, para que figurassem na ambiciosa trama que objetivava unificar todo o multiverso em uma única continuidade coerente, eliminando contradições e personagens redundantes. Enquanto a trama tomava corpo, a escolha do artista recaiu sobre o já consagrado GEORGE PÉREZ, pois ainda que a relação do artista com WOLFMAN não tenha começado da melhor forma na Marvel, naquele momento os dois já formavam uma das mais celebradas duplas dos quadrinhos por conta de sua memorável fase à frente dos NOVOS TITÃS, e também pela grande predileção de Pérez de desenhar multidões de personagens. Segundo o próprio Wolfman revelou certa vez, quanto mais personagens numa cena, mais Pérez ficava feliz. 🤣

Assim sendo, a história começa com o surgimento de uma entidade chamada Antimonitor, proveniente do universo de antimatéria. Ele deseja destruir todas as realidades e consumir o multiverso. Para enfrentá-lo, surge o Monitor, seu oposto positivo, que começa a reunir heróis e vilões de várias Terras para tentar deter a destruição iminente. A princípio, Monitor recruta alguns personagens para proteger dispositivos deixados em diferentes eras e Terras que seriam essenciais para deter a onda de antimatéria que se alastrava de forma avassaladora apagando mundos inteiros. Ao longo da trama, os acontecimentos vão se desenrolando de forma surpreendente, mundos colapsam, alianças improváveis são formadas e personagens importantes morrem heroicamente, como:
Supergirl (Kara Zor-El), que se sacrifica para salvar o Superman, numa batalha de tirar o fôlego sendo, na opinião deste escriba, o primeiro momento realmente relevante da personagem que aqui se mostrou como algo mais do que apenas a versão feminina de seu primo. O sacrifício de Kara abala a todos e deixa os heróis com o moral arrasado nesse primeiro round contra o Antimonitor que acaba como uma fragorosa derrota;
• Barry Allen, o Flash, que corre até se desintegrar para destruir a arma do Antimonitor; no entanto, a situação do Flash é a mais deprimente, por assim dizer, porque o herói passa o tempo todo sozinho e separado dos demais depois de conseguir se transportar para a base do Antimonitor, passando boa parte da trama sendo torturado pelo Pirata Psíquico. Seu sacrifício é um dos mais heróicos e tristes porque sua morte é deduzida pelos demais nas últimas páginas da história.

No final, após batalhas épicas no fim dos tempos e no início do universo, com mais sacrifícios e perdas, os sobreviventes conseguem deter o Antimonitor. O multiverso deixa de existir e nasce uma nova Terra única, onde a história é reiniciada com elementos fundidos de várias realidades. Esse “reinício” gera alguns paradoxos porque a continuidade de alguns personagens prossegue normalmente a partir daquele momento, ao passo que as de outros foram reiniciadas. Certamente podemos usar a justificativa da fusão de realidades e reintegração desses novos elementos ao novo e unificado Universo da DC, mas nos primeiros momentos pós-Crise é difícil não se deparar com essa estranheza.

De fato, CRISE NAS INFINITAS TERRAS teve consequências profundas, a saber:

  • Reinícios de títulos icônicos, como os promovidos na minissérie SUPERMAN: O HOMEM DE AÇO (John Byrne), BATMAN: ANO UM (Frank Miller e David Mazzucchelli ), MULHER MARAVILHA (George Pérez, Greg Porter e Len Wein), CAPITÃO ÁTOMO (Cary Bates e Pat Broderick), entre outros;
  • Fim do Multiverso original da DC, substituído por uma continuidade única (até o retorno do conceito de multiverso anos depois);
  • Inspiração para futuros eventos, como Zero Hora, Crise Infinita, 52 e Crise Final;
  • Adaptação para TV, no crossover do Arrowverse (2019–2020), reunindo décadas de produções da DC em uma só narrativa.

No Brasil a maxissérie foi publicada pela primeira vez pela Editora Abril em vários títulos de linha da DC Comics entre 1987 e 1988, sendo republicada pela mesma editora em três edições encadernadas em 1996 ainda em formatinho. Teve sua primeira publicação no formato americano em duas edições da Panini Comics em 2003, Edição Definitiva também pela Panini em 2016, com um relançamento em 2018, bem como na série DC Comics – Coleção de Graphic Novels: Sagas Definitivas # 1 da Editora Eaglemoss também em 2018, e mais recentemente foi republicada na série Grandes Eventos DC, novamente da Panini Comics, em 2022. CRISE NAS INFINITAS TERRAS não foi apenas uma história em quadrinhos, mas um evento histórico na indústria. Pode não ter sido o primeiro grande crossover de quadrinhos mainstream com consequências profundas e duradouras, mas indubitavelmente foi – e certamente ainda é – uma das maiores, mais bem estruturadas e melhores sagas dos quadrinhos de todos os tempos, que, com sua narrativa épica e consequências reais, redefiniu a forma como os quadrinhos lidam com continuidade e multiversos, e seu legado continua influenciando a DC Comics e outras editoras até os dias atuais.

Vida longa e próspera e até a próxima!🖖🏻

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