GALERIA DE ESTRELAS | GENE KELLY

Por Adilson Carvalho

Parecia ter asas nos pés, ele simplesmente flutuava quando dançava e imprimia vigor e sedução a cada passo. Foi ator, coreógrafo, diretor, embora formado em economia. Em outubro de 1997, ele foi classificado em 26º lugar na lista dos 100 maiores astros do cinema pela revista Empire (Reino Unido), praticamente meio século depois de chegar à Hollywood. Se vivo estivesse completaria hoje 112 anos, celebramos aqui a vida e a carreira de Gene Kelly.

Com Judy Garland em O Pirata

Nasceu Eugene Curran Kelly em 23 de agosto de 1912 na Pensilvânia. Era o terceiro filho de James Patrick Joseph Kelly, um fonógrafo vendedor, e sua esposa, Harriet Catherine Curran. Aos oito anos, a mãe de Kelly matriculou Gene e seu irmão James em aulas de dança. Como Kelly lembrou mais tarde, ambos se rebelaram: “Nós não gostávamos muito e estávamos continuamente envolvidos em brigas com os meninos da vizinhança que nos chamavam de maricas … Eu não dancei novamente até os 15 anos”. Tempos mais tarde, ingressou na Universidade Estadual da Pensilvânia formando-se em jornalismo, mas após a crise de 1929, ele precisou de um trabalho para ajudar sua família financeiramente. Foi então que juntou-se ao seu irmão Fred Norbert Kelly, para se apresentarem em boates locais, ganhando prêmios em dinheiro em concursos de talentos. Voltou ao ambiente acadêmico em 1931 cursando economia. Sua família abriu um estúdio de dança no vizinhança Squirrel Hill de Pittsburgh, e Gene passou a dar aulas de dança. Não demorou muito para que estrelasse espetáculos na Broadway começando com Leave It To Me, de Cole Porter e, ao final dos anos 30, assumiu pela primeira vez a função de coreógrafo, chamando assim a atenção de Hollywood. Foi Judy Garland quem convenceu David Selznick a vender o contrato de Gene Kelly para a MGM possibilitando que o ator iniciasse uma carreira em Hollywood.

Na Metro-Goldwyn-Mayer fez seus primeiros filmes estreando ao lado de Judy Garland em Idílio em Dó-Ré-Mi (1942), e logo alcançando uma boa posição no estúdio, sendo eventualmente emprestado à Columbia onde fez Modelos (1944) ao lado de Rita Hayworth e Phil Silvers. No final de 1944, Kelly se alistou no Serviço Aéreo Naval dos EUA e foi contratado como tenente júnior. Ao fim da Segunda Guerra brilhou em Marujos do Amor (Anchors Aweigh) de 1945, dançando ao lado de Frank Sinatra e superando os limites técnicos de uma era pré CGI ao dançar com Jerry, o rato, sequência realizada pela dupla de animadores William Hannah e Joseph Barbera. Gene Kelly recebeu então sua única indicação ao Oscar de Melhor Ator. Conforme sua carreira seguia em ascenção, não demorou para que Gene fosse comparado a Fred Astaire, a quem muito admirava e com quem colaborou em número de dança de Ziegfeld Follies (1946).

Nesse ponto de sua carreira vieram quatro papéis extraordinários: Serafin, o artista circense que se faz passar por um pirata, reunindo-o com Judy Garland no filme O Pirata (1948) de Vincent Minelli, o espadachim D’Artagnan das páginas do romance de Alexandre Dumas em Os Três Mosqueteiros (1948) de George Sidney e um jogador profissional de baseball em A Bela Ditadora (1949), contracenando novamente com Frank Sinatra. Ambos ainda estariam juntos em Um Dia em Nova York (1949) onde interpretam marinheiros. A década de 50 traria para Gene Kelly seu auge artístico no gênero musical, sendo nessa época que conheceu Stanley Donen com quem firmaria uma criativa parceria. Juntos assinaram a direção e a coreografia de Um Dia em Nova York, ousando ao decidir tirar o filme da gravação em estúdio e realizando externas, atípico na época. Na divisão de tarefas, Donen assumia a responsabilidade pela encenação e Kelly cuidava da coreografia. Kelly foi ainda mais longe e introduziu balé moderno em suas sequências de dança. Apesar do sucesso de Um Dia em Nova York, Gene buscou um papel que somente usasse seu talento de ator, e não como dançarino ou coreógrafo, no drama Mão Negra (Black Hand), de 1950. No mesmo ano se reuniu pela terceira vez com Judy Garland em Casa, Comida & Carinho (Summer Stock) voltando a dançar e atuar. Na ocasião Judy passava por muitos problemas, principalmente de saúde e Gene usou de seu prestígio para garantir que a atriz pudesse gravar quando se sentisse bem disposta. Esse foi o último filme de Judy para a MGM.

A era de ouro do gênero chegou ao ápice com Sinfonia de Paris (1951), de Vincent Minelli, vencedor de 6 Oscars, e – talvez o maior de todos os filmes musicais – Cantando na Chuva (1952). Como co-diretor, ator principal e coreógrafo Gene entrou para a história do cinema cantando a alegria de se estar vivo debaixo de um temporal criado no estúdio e encenado com Gene Kelly febril, mas com um vigor e energia impressionante. Outros momentos inesquecíveis foram Good Morning, dançando com Donald O’Connor e Debbie Reynolds, Moses Supposes ao lado de Donald O’Connor e Broadway Melody ao lado de maravilhosa Cyd Charisse. Em 1951, Kelly recebeu um Oscar Honorário por sua contribuição para filmes musicais e a arte da coreografia. Rusgas abalaram a relação de Gene e Donen quando o primeiro teve uma envolvimento com Jeanne Coyne, a esposa de Stanley. Os dois ainda colaboraram pela última vez em Dançando nas Nuvens (1955), seguido dois anos depois de Les Girls (1957), último filme do gênero de Kelly para a Metro. Com o declínio dos musicais, Gene continuou no teatro e voltou às telas no drama O Vento Será Tua Herança (1960) no papel de um cínico repórter. Em 1960, Kelly se casou com sua assistente coreográfica Jeanne Coyne, que já havia sido casada com Stanley Donen entre 1948 e 1951 Gene recusou a direção de A Noviça Rebelde (1958), mas dirigiu Barbra Streisand e Walter Mathau em Alo Dolly (1969). Como ator Gene foi gradativamente reduzindo suas atuações, chegando a interpretar a si mesmo em Adorável Pecadora (1960) em uma participação especial. Em 1976 juntou-se a Fred Astaire na coletânea Isto Também Era Hollywood. Depois de algumas aparições na TV, Gene esteve no fraquissimo Xanadu (1980) ao lado de Olivia Newton-John. Seu canto do cisne se deu afinal na minisserie de TV Pecado Original (1986), afastando- se a partir daí dos holofotes. Em 1993 o ator foi consultor de dança para o show de Madonna The Girlie Show. Gene morreu em 2 de fevereiro de 1996, aos 83 anos, de complicações de dois derrames. O fim de uma era !

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