Adilson Carvalho

Quando garoto, devia ter uns 6 ou 7 anos lembro que adorava a hq, hoje esquecida, A Vaca Voadora, publicada pela RGE entre janeiro de 1977 e outubro de 1977. Inspirada na série de livros da Autora Brasileira Edy Lima, as histórias em quadrinhos da Vaca Voadora foram desenvolvidas pela equipe que contava com Milton Sardella (desenhos) e Sandra Siqueira (roteiros). A personagem título era uma vaca como todas as outras, mas que por conta de um elixir mágico conseguia voar. Ela vivia em um sítio no interior, que pertencia a duas senhoras. Uma delas, a Tia Quiquinha, uma estudiosa de conhecimentos científicos antigos que dominava a alquimia, era capaz de transformar ovos comuns em ovos de ouro e de conversar com gnomos. Um dia Lalau, o sobrinho da Tia Maricotinha e Tia Quiquinha, foi morar com elas, o que levou a vaca a beber o tal de elixir de levitar da Tia Quiquinha, e que causaria uma série de confusões. Entre os personagens também apareciam o Tio Gumercindo e e Aniceta, seu grande amor. Na época do lançamento de A Vaca Voadora, a RGE era uma das grandes editoras a competir no mercado de quadrinhos, publicando heróis como Fantasma e Mandrake ou personagens como Riquinho, Bolota e Recruta Zero. A editora, de propriedade da família Marinho (da Rede Globo), buscava abrir espaço entre os segmentos do mercado e abriu uma divisão de quadrinhos nacionais, o Estúdio RGE, comprometido em lançar personagens brasileiros em meio aos populares personagens estrangeiros que vendiam como água.

Esta mesma divisão viria a produzir a hq do Sítio do Pica Pau Amarelo, no embalo do sucesso do programa da TV. O editor de arte Ambrósio Moreira usava e abusava da criatividade para levar a obra adaptada de Edy Lima para a linguagem de quadrinhos. Quando os personagens entravam em uma floresta, o quadrinho toma a forma de uma folha, quando os personagens falavam de amor, toma a forma de corações. Essa diagramação era inédita no Brasil na época. Edy Maria Dutra da Costa Lima, mais conhecida como Edy Lima (1924-2021) foi uma criativa escritora brasileira, tendo escrito sete livros de A vaca voadora, além de cerca de diversas outras obras inspiradas no folclore brasileiro. Também foi produtora de discos infantis, autora de novelas para televisão e editora. Seu trabalho merecia ser revisitado como uma das grandes autoras de nosso país. Foram apenas 10 edições e mais um almanaque mas deixou saudades da Tia Quiquinha e seu elixir que fazia minha imaginação voar com uma vaca.