Paulo Telles
E Vamos para mais um caso nos extraordinários bastidores da velha Hollywood!!!
Em 1954, o diretor Billy Wilder (1906-2002) lançou a comédia romântica Sabrina (Sabrina), estrelado por Humphrey Bogart (1899-1957), Audrey Hepburn (1929-1993) e William Holden (1918-1981). Entretanto, esta deliciosa produção, um romance de puro conto de fadas, teve por trás dos bastidores uma das maiores encrencas que se tem notícia no mundo do cinema. Tudo começou quando Bogart queria que a esposa, a atriz Lauren Bacall (1924-2014) interpretasse a personagem-título, que foi dada a Audrey Hepburn, então uma recém ganhadora do Oscar de Melhor Atriz em 1953 por sua atuação em outra obra do romancismo cinematográfico, A Princesa e o Plebeu (Roman Holiday, 1953), de William Wyler (1902-1981). William Holden, que no mesmo ano também conquistou sua estatueta por sua atuação em Inferno 17 (Stalag 17, 1953), outro filme dirigido por Billy Wilder, era o terceiro nome no elenco.
Quando se iniciou as filmagens de Sabrina, Holden, que enfrentava uma crise em seu casamento, passou a namorar de verdade Hepburn, e se apaixonou pela atriz. Bogart, que não gostava de Audrey e nem de Holden, fazia questão de assumir pessoalmente que ambos os astros conspiravam contra ele, e que Audrey era uma péssima atriz e que não deveria estar na produção para fazer o papel que, segundo Boggie, mereceria sua esposa Lauren Bacall. As alfinetadas de Bogart não ficaram apenas a criticar Hepburn. Holden estava ganhando bem mais que Bogart, e este não perdeu a oportunidade de provoca-lo. Na verdade, os salários de Audrey Hepburn e William Holden em Sabrina eram mais altos que o do astro principal. Nesta altura, e cada vez mais apaixonado por Audrey, com quem pretendia se casar depois das filmagens, Holden, que fez de tudo para controlar sua ira contra Bogart, certa noite não aguentou. Em um dos grandes momentos de bebedeira, Boggie mais uma vez criticou abertamente Holden e Audrey, acusando-os de conspiradores. Foi nesse momento que Holden, já não suportando mais a virulência dos ataques verbais contra ele e contra sua amada Audrey, pulou em cima de Bogart, agredindo a socos e tentando estrangula-lo. O diretor Billy Wilder, desesperado, precisou chamar os seguranças da Paramount para conter Billy Holden, então mais alto, forte e atlético que Boggie. No entanto, o profissionalismo falou mais alto tempos depois, e os últimos dias de rodagem de Sabrina se seguiram sem incidentes entre os três principais astros. Humphrey Bogart, um ano depois, pediu desculpas, não para Holden e para Audrey, mas para Billy Wilder pelo seu comportamento, justificando que passava por problemas pessoais.
Se viesse Boggie a se desculpar com William Holden com certeza seria bola fora, pois este jamais o perdoou e nunca gostou do astro, e numa entrevista para televisão registrada em 1977, ao ser questionado o que ele achava da lenda Humphrey Bogart, ele respondeu:
– Por Deus! como eu odiei esse bastardo!
Quanto ao relacionamento de Holden e Audrey Hepburn, este chegou ao fim pouco depois, porque Audrey queria ter filhos, e Holden havia feito vasectomia. Ela se casaria com o ator Mel Ferrer, deixando Holden abalado, e há quem diga que o vício da bebedeira do astro de Suplício de Uma Saudade e A Ponte do Rio Kwai tenha começado nesta época.
Mais um caso em nossos registros, afinal Isto é Fato… Não Fita!
Paulo Telles é crítico de cinema, escritor e radialista (DRT 21959-RJ) além de colunista e redator do blog Cine Retro Boavista.
“Isto é Fato… Não Fita! “ Era um quadro do extinto programa Cine Vintage, pela Web Rádio Vintage.
cinemacompoesia.com 