GALERIA DE ESTRELAS | SEAN CONNERY

Por Adilson Carvalho

Lembro muito bem quando assisti pela primeira vez um filme de 007 estrelado por Sean Connery. Foi na Tv, aos 14 anos, me impressionando com sua performance, me fazendo ter vontade de crescer para ficar igual a esse escocês, nascido em Edinburgh em 25 de agosto de 1930 e que se vivo estivesse completaria hoje 94 anos.

Filho de pai católico e mãe protestante, Connery começou a vida como leiteiro na Escócia, sua terra natal, serviu na Marinha Real, foi motorista de caminhão e modelo vivo para artistas do Colégio de Artes de Edimburgo. Nesta época ele foi terceiro colocado no concurso de Mister Universo de onde, através da insistência de um amigo, saiu para fazer os testes para uma peça, que acabou lhe abrindo o caminho para os palcos, a televisão e o cinema. Estrelou cerca de 10 filmes que não traziam nada de extraordinário, incluindo papel de vilão em A Maior Aventura de Tarzan (1959) até ser escalado para o papel de 007. Todos os fãs do personagem de Ian Fleming viram em Connery a encarnação perfeita do charme e da ação do personagem que fez seu nome conhecido, embora curiosamente o próprio Fleming discordasse da escolha. Mas mesmo Connery não nutria grande afeição pelo personagem que interpretou por 7 vezes, se recusando a voltar a ele com apenas duas exceções. Em 1971, depois que George Lazenby foi retirado do papel, Connery voltou em 007 os Diamantes são eternos, e em 1984, no filme não-oficial Nunca Mais Outra Vez, título saído da própria recusa do ator em outras ocasiões.

Na verdade, o intérprete era maior que o personagem, e Thomas Sean Connery provou seu talento ao público e à indústria cinematográfica inúmeras vezes. Foi o Robin Hood envelhecido de Robin & Marian (1976), contracenando com Audrey Hepburn: dividiu a tela com o amigo, na vida real, Michael Caine no excelente O Homem que queria ser rei ( 1975 ) e roubando a cena como o policial Jim Malone, seu único Oscar, como coadjuvante em Os Intocáveis (1987). A versatilidade foi marca registrada de uma carreira vivida no set de grandes diretores como Sidney Lumet (Assassinato no Expresso do Oriente), de 1974; Alfred Hitchcock (Marnie – Confissões de uma Ladra), de 1966, ou Richard Altenborough (Uma Ponte Longe Demais) em 1978.

Embora possuísse uma beleza viril e rude, nunca permitiu que essa imagem limitasse seu talento. Uma tenacidade forjada em uma infância pobre e uma juventude de desafios. Foi terceiro colocado no concurso de Mister Universo, serviu na Marinha Real, sobrevivendo com muito esforço. Apesar de sempre buscar trabalhos desafiadores, nunca deixou de imprimir seu nome em blockbusters ao longo das décadas de 80 e 90. Foi o mestre de Connor McLeod em Highlander ´O Guerreiro Imortal (1985), o monge sherlockiano saído das páginas de Umberto Eco em O Nome da Rosa (1986) e, somente ele mesmo poderia ser o pai de Indiana Jones em Indiana Jones & a Última Cruzada (1989). Os papeis sempre surgiam renovando os fãs que vibravam com as participações do ator em filmes como A Caçada ao Outubro Vermelho (1988) e A Rocha (1989) até o derradeiro papel em A Liga Extraordinária (2003), quando anunciou sua aposentadoria.

Todos os méritos adquiridos em carreira prolífica e bem sucedida o ajudaram a se expressar politicamente, tendo sido sempre um apoiador da separação da sua amada Escócia do Reino Unido, o que não o impediu de ser sagrado “sir” pela rainha Elizabeth, em, 2000. Suas convicções sempre foram inabaláveis e coerentes. Teve que recusar o papel do Vulcano Sybok em Star Trek V: The Final Frontier por conflitos de agenda, mas seu nome foi usado no filme com a grafia e pronuncia modificada “Sha Ka Ree” referindo –se ao planeta visitado pela Enterprise. Seu filho Jason Connery também tornou –se ator e; e seu neto Dashiell Connery, nascido em 1997, também segue os passos desse legado (sua mãe é a atriz Mia Sara de Curtindo a vida adoidado). Seu falecimento foi em 31 de outubro de 2020, nas Bahamas, cenário de filmes como O Satâncio Dr.No, fechando um ciclo iniciado quando pela primeira vez disse “Bond… James Bond”.

Sean Connery nunca parou de me impressionar, e deixou uma marca indelével no cinema, uma vida extraordinária e um exemplo a ser seguido por gerações. Connery, o durão, o justo, o mentor, o imortal.

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