Marcelo Kricheldorf

Cidade dos Sonhos (Mulholland Drive, 2001) é um filme surrealista e neo-noir dirigido por David Lynch, que desafia a narrativa tradicional e explora a complexidade da identidade humana. Neste artigo, vamos analisar os principais elementos do filme, incluindo a desconstrução da narrativa, a representação da identidade, o uso da câmera e da montagem, a crítica à indústria cinematográfica, a exploração do subconsciente, a relação entre sonho e realidade, a representação da mulher e a influência do surrealismo.
A narrativa de Cidade dos Sonhos é não linear e complexa, desafiando a compreensão do espectador. O filme começa com uma jovem mulher chamada Betty (Naomi Watts) que chega a Los Angeles para se tornar atriz, e logo se envolve em uma misteriosa relação com uma mulher chamada Rita (Laura Harring). No entanto, à medida que o filme avança, a narrativa se torna cada vez mais confusa e fragmentada, com cenas que parecem não ter conexão lógica entre si. Essa desconstrução da narrativa é uma característica marcante do estilo de Lynch, que busca criar uma atmosfera de sonho e realidade confusa.
A identidade é um tema central em Cidade dos Sonhos, e o filme explora a complexidade e a fragilidade da identidade humana. As personagens de Betty e Rita são exemplos disso, pois ambas têm identidades múltiplas e confusas. Betty é uma jovem mulher que busca se tornar atriz, mas também é uma pessoa insegura e vulnerável. Rita, por outro lado, é uma mulher misteriosa e enigmática, cuja identidade é gradualmente revelada ao longo do filme. A representação da identidade no filme é complexa e multifacetada, refletindo a complexidade da experiência humana. O uso da câmera e da montagem é fundamental no filme, criando uma atmosfera surreal e onírica. Lynch utiliza uma variedade de técnicas de câmera, incluindo planos fechados, planos abertos e ângulos oblíquos, para criar uma sensação de desconforto e instabilidade. A montagem também é usada de forma criativa, com cenas que são cortadas e editadas de forma não linear. Isso cria uma sensação de confusão e desorientação, refletindo a complexidade da narrativa. Cidade dos Sonhos também é uma crítica à indústria cinematográfica, que é retratada como uma máquina que manipula e explora os sonhos e as aspirações das pessoas. O filme mostra como a indústria cinematográfica pode criar e destruir identidades, e como ela pode manipular a realidade e a percepção do público. Essa crítica é uma reflexão da própria experiência de Lynch na indústria cinematográfica, e é um tema que é explorado em muitos de seus filmes.

A exploração do subconsciente é outro tema central em Cidade dos Sonhos. O filme mostra como os desejos e os medos reprimidos das personagens podem emergir em seus sonhos e fantasias. A personagem de Rita, por exemplo, é um exemplo disso, pois sua identidade e seus desejos são gradualmente revelados ao longo do filme. A exploração do subconsciente é uma característica marcante do estilo de Lynch, que busca criar uma atmosfera de mistério e intriga.
A relação entre sonho e realidade é um tema fundamental em Cidade dos Sonhos. O filme mostra como os sonhos e as fantasias das personagens podem se misturar com a realidade, criando uma atmosfera de confusão e desorientação. A personagem de Betty, por exemplo, tem sonhos e fantasias que são gradualmente revelados ao longo do filme, e que se misturam com a realidade de sua vida.
A representação da mulher é outro tema importante no filme. As personagens de Betty e Rita são exemplos disso, pois ambas são mulheres complexas e multifacetadas, com identidades e desejos próprios. A representação da mulher no filme é complexa e nuançada, refletindo a complexidade da experiência feminina. Cidade dos Sonhos é um filme que é fortemente influenciado pelo surrealismo, um movimento artístico que busca explorar o subconsciente e a irracionalidade. O filme utiliza elementos surrealistas, como a narrativa não linear e a atmosfera oní que criam uma atmosfera de sonho e realidade confusa. A influência do surrealismo é uma característica marcante do estilo de Lynch, que busca criar uma atmosfera de mistério e intriga.
Lynch utiliza uma variedade de planos para criar uma atmosfera única e perturbadora em Mulholland Drive. Alguns dos planos mais notáveis incluem:
- Planos fechados: Lynch frequentemente utiliza planos fechados para enfatizar a intimidade e a claustrofobia dos personagens. Por exemplo, o plano fechado da boca de Diane (Naomi Watts) enquanto ela fala ao telefone é um exemplo de como Lynch usa esse tipo de plano para criar uma sensação de desconforto.
- Planos abertos: Em contraste, Lynch também utiliza planos abertos para mostrar a vastidão e a complexidade da cidade de Los Angeles. O plano aéreo da cidade à noite é um exemplo de como Lynch usa esse tipo de plano para criar uma sensação de amplitude.
- Planos subjetivos: Lynch utiliza planos subjetivos para colocar o espectador na perspectiva dos personagens. Por exemplo, o plano subjetivo de Betty (Naomi Watts) enquanto ela caminha pela rua é um exemplo de como Lynch usa esse tipo de plano para criar uma sensação de identificação com o personagem.
Lynch é conhecido por seu uso inovador de ângulos de câmera, e Mulholland Drive não é exceção. Alguns dos ângulos de câmera mais notáveis incluem:
- Ângulos baixos: Lynch frequentemente utiliza ângulos baixos para criar uma sensação de poder e autoridade. Por exemplo, o plano do personagem Cowboy (Monty Montgomery) enquanto ele fala com Diane é um exemplo de como Lynch usa esse tipo de ângulo para criar uma sensação de domínio.
- Ângulos altos: Em contraste, Lynch também utiliza ângulos altos para criar uma sensação de vulnerabilidade e fragilidade. O plano de Diane enquanto ela está sentada no sofá é um exemplo de como Lynch usa esse tipo de ângulo para criar uma sensação de desamparo.
- Ângulos oblíquos: Lynch utiliza ângulos oblíquos para criar uma sensação de desconforto e instabilidade. O plano de Betty e Rita (Laura Harring) enquanto elas estão no apartamento é um exemplo de como Lynch usa esse tipo de ângulo para criar uma sensação de tensão.
A montagem é um elemento fundamental em Mulholland Drive, e Lynch utiliza uma variedade de técnicas para criar uma narrativa complexa e não linear. Alguns dos elementos mais notáveis da montagem incluem:
- Cortes abruptos: Lynch frequentemente utiliza cortes abruptos para criar uma sensação de choque e surpresa. Por exemplo, o corte abrupto entre a cena do acidente de carro e a cena de Betty e Rita no apartamento é um exemplo de como Lynch usa esse tipo de corte para criar uma sensação de desorientação.
- Transições: Lynch também utiliza dissolvências para criar uma sensação de continuidade e fluxo. O uso de dissolvências entre as cenas de Betty e Rita é um exemplo de como Lynch usa esse tipo de transição para criar uma sensação de conexão entre as cenas.
- Imagens recorrentes: Lynch utiliza imagens recorrentes para criar uma sensação de unidade e coerência no filme. A imagem da caixa azul é um exemplo de como Lynch usa esse tipo de imagem para criar uma sensação de mistério e intriga.
A narrativa de Mulholland Drive é complexa e não linear, e Lynch utiliza uma variedade de técnicas para criar uma sensação de confusão e desorientação. Alguns dos elementos mais notáveis da narrativa incluem:
- Narrativa não linear: A narrativa do filme é não linear, e Lynch utiliza uma variedade de técnicas para criar uma sensação de desorientação e confusão. O espectador é forçado a reconstruir a narrativa a partir de fragmentos e pistas.
- Personagens enigmáticos: Os personagens do filme são enigmáticos e complexos, e Lynch utiliza uma variedade de técnicas para criar uma sensação de mistério e intriga. A identidade de Rita, por exemplo, é um mistério que é gradualmente revelado ao longo do filme.
- Tema da identidade: O tema da identidade é central no filme, e Lynch utiliza uma variedade de técnicas para explorar a complexidade e a fragilidade da identidade humana. A dualidade de Betty e Diane é um exemplo de como Lynch usa esse tema para criar uma sensação de perda de identidade.
Ficha Técnica
- Título: Cidade dos Sonhos
- Título Original: Mulholland Drive
- Direção: David Lynch
- Roteiro: David Lynch
- Produção: Neal Edelstein, Tony Krantz e Michael Polaire
- Música: Angelo Badalamenti
- Cinematografia: Peter Deming
- Edição: Mary Sweeney
- Distribuição: Universal Pictures
- Lançamento: 2001
- Gênero: Drama, Mistério, Surrealismo
- Duração: 147 minutos
- País: Estados Unidos
- Idioma: Inglês
- Orçamento: $15 milhões
- Receita: $20,1 milhões
Elenco:
- Naomi Watts como Betty Elms/Diane Selwyn
- Laura Harring como Rita/Camilla Rhodes
- Justin Theroux como Adam Kesher
- Ann Miller como Catherine “Coco” Lenoix
- Mark Pellegrino como Joe
- Robert Forster como Detetive Harry McKnight
- Brent Briscoe como Detetive Neal Domgaard
Prêmios e Indicações:
- Prêmios:
- Festival de Cannes 2001: Prêmio de Melhor Diretor (David Lynch)
- Indicações:
- Oscar 2002: Melhor Diretor (David Lynch)
- Globo de Ouro 2002: Melhor Diretor (David Lynch)