GALERIA DE ESTRELAS | DICK YORK, O ETERNO JAMES STEPHENS

Por Adilson Carvalho

O sucesso de qualquer série centrada na figura de um casal depende totalmente da química entre os atores que o interpretam. Personagens de mundos diferentes geram conflitos diversos, o que A Feiticeira tinha de sobra quando o roteiro de Sol Saks (1910-2011) imaginou uma lindíssima bruxa interpretada por Elizabeth Montgomery se casando com o mortal Darrin Stephens, rebatizado no Brasil de James Stephens. Durante 5 temporadas, Dick York divertiu o público com sua constante frustração de não conseguir viver uma vida normal de casado e ainda ter que conviver com os feitiços e as visitas mais inusitadas de parentes e amigos de sua esposa Samantha (Montgomery). York tinha o tom certo de transição entre sua persona romântica, apaixonado e íntegro, com as caras e bocas com as quais dava vazão ao seu desespero. Em um episódio podia ser transformado em um animal, noutro poderia ser enfeitiçado e ter as orelhas gigantes ou o corpo reduzido ao tamanho de um polegar fora as calorosas discussões com sua sogra, a fabulosa Agnes Moorehead (Endora), que era amiga pessoal de York fora das câmeras. O sucesso de York o levou a ser indicado ao Emmy de melhor ator em 1968, quando a série estava em sua 4ª temporada.

Nascido Richard Allen York em Fort Wayne, Indiana, filho de um vendedor e uma costureira, Dick cresceu em Chicago, onde uma freira católica reconheceu sua bela voz e aos 15 anos de idade tornou-se estrela do programa de rádio da CBS That Brewster Boy. Também apareceu em centenas de outros programas de rádio e filmes instrutivos antes de ir para Nova York, onde atuou na Broadway em Tea and Sympathy e Bus Stop. Atuou ao lado de estrelas como Paul Muni e Joanne Woodward em transmissões ao vivo pela televisão e com Janet Leigh, Jack Lemmon e Glenn Ford em filmes, incluindo My Sister Eileen (1955) e O Vento Será Tua Herança (1960) no qual se destaca como um professor acusado de heresia por ensinar a teoria da evolução de Charles Darwin, baseado em fatos reais. Ao longo da década de 50 também teve vários trabalhos na TV em episódios de Papai Sabe Tudo (1958), Alfred Hithcock Apresenta (1957/1962), Além da Imaginação (1960/1961), Os Intocáveis (1960), Dr. Kildare (1961), O Homem de Virgínia (1963), e outras até ser escalado para interpretar o marido de Samantha, o que fez de 1964 a 1969. Durante as filmagens do filme They Came to Cordura (1959), com Gary Cooper e Rita Hayworth, ele sofreu uma lesão permanente e incapacitante na coluna. Nas palavras do próprio York, “Gary Cooper e eu estávamos impulsionando um carro de mão que transportava vários homens ‘feridos’ pelos trilhos da ferrovia. Eu estava no curso inferior desse tipo de mecanismo de gangorra que fazia o carro de mão funcionar. Eu estava levantando a alavanca quando o diretor gritou “corta!” e um dos membros “feridos” do elenco se aproximou e agarrou a alavanca. Agora, em vez de levantar o peso esperado, eu estava subitamente, de forma surpreendente, levantando todo o peso dele da plataforma – 180 libras[a] ou mais. Os músculos do lado direito de minhas costas se romperam. Eles simplesmente estalaram e se soltaram. E esse foi o começo de tudo: a dor, os analgésicos, o vício, a carreira perdida“.

Com Gene Kelly e Spencer Tracy em O Vento Será Tua Herança

Os anos que se seguiram foram gradativamente difíceis para o ator, que se ausentou de vários episódios da última temporada de A Feiticeira, ou teve sua participação reduzida devido aos seus problemas de saúde, até que a partir da 6ª temporada foi definitivamente substituído por Dick Sargent, uma decisão de acordo mútuo entre York e William Asher, o diretor da série. York nunca mais voltaria a andar, ficando dependendo de remédios, mas ainda acreditando no poder de ajudar a quem precisasse e assim fundou uma ONG para ajudar os desabrigados, arrecadando um bom dinheiro para a caridade. Chegou a tentar retomar sua carreira com participações especiais em episódios de A Ilha da Fantasia (1978) e Carga Dupla (1981), mas parou de receber convites quando seu agente não conseguiu registrá-lo no Screen Actors Guild (Sindicato dos Atores) levando-o a se aposentar do show business. Em seu livro de memórias, The Seesaw Girl and Me, publicado postumamente, ele descreve a luta para acabar com seu vício e enfrentar a perda de sua carreira. O livro é, em grande parte, uma carta de amor para sua esposa, Joan, a garota do balanço do título, que o acompanhou nos momentos difíceis. York morreu de complicações de enfisema no Blodgett Hospital em East Grand Rapids, Michigan, em 20 de fevereiro de 1992, aos 63 anos. Ele está enterrado no cemitério de Plainfield, em Rockford, Michigan.

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