Adilson Carvalho

Dwayne Johnson pode vir a conseguir uma indicação ao próximo Oscar por seu papel em Coração de Lutador (The Smashing Machine), cinebiografia do lutador Mark Kerr. Na cena inicial do filme dirigido por Benny Safdie (Jóias Brutas), vemos imagens granuladas de Mark Kerr (Dwayne Johnson), estrela das artes marciais mistas e do Ultimate Fighting Championship, em sua primeira luta amadora. Kerr ganhou notoriedade originalmente como lutador, e para afastar qualquer crítica de que seja uma luta livre falsa, ela termina com Kerr agachado em cima de seu oponente, agredindo-o com um soco atrás do outro, sem piedade, reduzindo seu rosto a uma massa sangrenta. Enquanto tudo isso acontece, ouvimos a voz de Kerr na trilha sonora — uma voz encantadoramente gentil e doce — descrevendo, para um entrevistador, a euforia que sente quando destrói seu oponente no ringue e consegue sentir aquele momento decisivo em que o outro lutador desaba e se rende. Isso faz sentido para nós, mas, ao mesmo tempo, não parece muito diferente da descrição de um serial killer sobre a euforia que sente ao estrangular alguém até a morte. “Quando você vence”, diz Mark, “nada mais no mundo importa”. Ele está falando sobre luta livre, mas também está falando sobre violência: a emoção dela, o ato de matar. Mark tem uma aparência bastante marcante. Com seus dentes brancos de tubarão e cabelos cacheados e oleosos, sobrancelhas que parecem afundar na parte inferior da testa e um físico de super-herói tão musculoso que o deixa ligeiramente curvado, ele poderia ser uma paródia do típico atleta americano que mora ao lado. Ele é como um boneco gigante — uma figura de ação ambulante cruzada com o Hulk. E não é apenas sua aparência que parece uma mistura; ele fala como alguém que aprendeu a se expressar em um seminário de autoajuda. Seus pensamentos são expressos de forma suave e cuidadosa, com uma civilidade testada no mercado. (Ele fala assim mesmo quando está em sua própria sala de estar. Dwayne Johnson, mudando toda a sua aparência (parece um novo ator), investe nesse lado silencioso, temperamental e oculto de Mark com uma qualidade de mistério. Ele oferece uma atuação extraordinária, interpretando Mark Kerr como um gigante gentil com demônios que não revelam seus nomes, mas que o público consegue sentir; queremos ver esses demônios curados. Você pode pensar que a palavra-chave no título do filme é “esmagar”, mas na verdade é “máquina”. Mark é um homem que controla sua violência tendo construído todo o seu ser — corpo e personalidade — como um motor controlado de demolição. O filme, cuja história se passa entre 1997 a 2000, é sobre como esse homem-máquina se torna um ser humano. A previsão de estreia é para 16 de outubro de 2025.