Por Adilson Carvalho

Versátil, divertido, contraditório, Peter Sellers deixou saudades quando nos deixou em 24 de julho de 1980, aos 54 anos., mas também marcou sua passagem nas telas com seu talento, e esse talento celebramos hoje em seu aniversário de 99 anos. Nasceu em 8 de setembro de 1925, em Southsea, um subúrbio de Portsmouth, na Inglaterra, filho de William “Bill” Sellers (1900-1962) e Agnes Doreen “Peg”,  Antes do sucesso no cinema fez a série de rádio da BBC The Goon Show, mas não há dúvida que seu papel mais famoso foi inspetor Jacques Clouseau, na série A Pantera Cor-de-Rosa (1963), que lhe valeu sua primeira indicação ao Globo de Ouro.

Além de Clouseau, Sellers criou personagens antológicos como o sinistro Doutor Fantástico (Dr. Strangelove) em 1964, que lhe rendeu sua primeira indicação ao Oscar de Melhor Ator, interpretando 3 personagens diferentes, e o atrapalhado é ingênuo ator indiano Hrundi V. Bakshi no hilário Um Convidado bem Trapalhão (The Party) de 1968. Ambos polos opostos de sua capacidade incrível de criar personagens que eram saídos de sua personalidade antagônica e confusa. Em uma entrevista disse certa vez : “odeio tudo o que eu faço, não sei como vocês gostam“. Também fez O Quinteto da Morte (The Ladykillers) de 1955, onde fez um trapaceiro; O Rato Que Ruge (The Mouse That Roared) de 1959, no qual interpretou 3 personagens (A Duquesa Gloriana XII , o Primeiro-Ministro Rupert “Bobo” Mountjoy é o Marechal Tully Bascomb), uma critica ácida à política internacional.

Mostrou um cinismo divertidíssimo como o ladrão internacional Aldo Vanucci, vulgo “A Raposa” no ótimo filme de Vittorio de Sica (1901-1974) O Fino da Vigarice (1966), mas foi sob a batuta de Blake Edwards que Peter Sellers alcançou o auge de sua popularidade vivendo o Inspetor Closeau em A Pantera Cor de Rosa (1963), Um Tiro no Escuro (1964), A Volta da Pantera Cor de Rosa (1975), A Nova Transa da Pantera Cor de Rosa (1976) e A Vingança da Pantera Cor de Rosa (1978), além do excelente Um Convidado Bem Trapalhão (1968). Tanto sucesso, no entanto, guardava várias histórias de conflito nos bastidores, e diversas discussões com Blake Edwards. Certa vez, tarde da noite, depois de um dia decepcionante lutando com uma cena problemática em um dos filmes da Pantera Cor-de-Rosa, Edwards foi despertado por uma ligação de Sellers. “Acabei de falar com Deus!”, exclamou ele, ”e ele me disse como fazer isso!” No dia seguinte, Edwards fez a vontade de Sellers, e o resultado foi um desastre absoluto, levando um irritado Edwards a dizer, “da próxima vez que você falar com Deus, diga a ele para ficar fora do show business!”. Sellers era amplamente considerado pelos profissionais do setor (especialmente Blake Edwards) como um doente mental sem personalidade própria. Ele habitualmente assumia as personalidades dos personagens que interpretava, transformando-se em outro personagem em um papel seguinte. As pessoas que o conheceram intermitentemente durante anos ficaram perplexas com suas transformações. Como ator, Sellers podia ser brilhante com um roteiro forte, mas sua vida pessoal foi extremamente atribulada: Tinha uma relação estranha com a mãe dominadora e submeteu suas mulheres e filhos a torturas psicológicas. Teve passagem marcante também como agente secreto em Cassino Royale (1967), de John Houston, juntou-se ao elenco do polêmico Lolita (1962), em papel mais dramático, e teve uma atuação histriônica como o inspetor Wang de Assassinato por Morte (1976). O conflituoso ator migrou para uma atuação mais contida e emocionante em Muito Além do Jardim (Being There) de 1979, conquistando sua segunda indicação ao Oscar. No ano seguinte fez seu último filme O Diabólico Dr. Fu Manchu (The Fiendish Dr. Fu Manchu), que co-dirigiu, mas não foi creditado. Em 1982 Blake Edwards ainda realizou A Trilha da Pantera Cor de Rosa, usando fotomontagens e antigas cenas de Sellers como o Inspetor Clouseau.

Em 1964, aos 38 anos, quando filmava a comédia de Billy Wilder (1906-2002) Beija me Estúpido (Kiss me Stupid), Sellers sofreu uma sequência de 13 ataques cardíacos, o que danificou permanentemente seu coração. A condição de Sellers deteriorou-se quando ele adiou tratamento médico adequado e optou por “curandeiros psíquicos“. Ele também teve um marca-passo implantado no final de 1970, o que lhe trouxe mais problemas consideráveis. Foi um ataque cardíaco severo que lhe tirou a vida aos 54 anos Em seu testamento, Sellers solicitou que a canção de Glenn Miller “In the Mood” fosse tocada em seu funeral. O pedido é considerado o seu último toque de humor, já que ele odiava a peça. Em 2004, estreou o filme biogr[afico The Life and Death of Peter Sellers, com Geoffrey Rush interpretando Peter Sellers, o que lhe deu um BAFTA por esta atuação. Ele é a principal influência para a carreira de Sacha Baron Cohen, Robin Williams, Eddie Murphy, Mike Myers e Will Ferrell, um ícone que soube fazer de sua insanidade pessoal a força de sua arte.