Por Adilson Carvalho

Uma das hqs que eu mais gostava de ler quando criança era o Recruta Zero, que completou 75 anos neste mês. O que pouca gente sabe é que o personagem, em sua primeira hq, era um universitário da universidade de “Rockview” e os personagens eram baseados em colegas de classe do autor, estudante da universidade de Missouri. A recepção do público não era das melhores, e a distribuidora das tiras, a King Features, queria cancelá-las até que em 13 de março de 1951 o cartunista Mort Walker (1923/2018) decidiu, em meio à onde ufanista gerada pela Guerra da Coreia (1950-53), transferir seu personagem para o fictício Quartel Swampy. Sempre preguiçoso e bem-humorada, Zero é implacavelmente perseguido pelo mal humorado Sargento Tainha, que não admite nenhuma insubordinação. Walker sempre dizia que as histórias de Zero não eram uam crítica aos militares, mas sim de humor que, por acaso, acontecem em um quartel. Apesar disso, a tira sofreu alguns revezes durante as guerras da Coreia e do Vietnã, como publicações americanas que tentaram proibir a publicação das tiras do Zero, por considerá-lo uma afronta à ordem militar.

Walker nunca escreveu sobre assuntos militares ou políticos, mantendo o desenrolar das histórias em torno de situações que podem ocorrer em qualquer lugar, e com a personalidade dos personagens coadjuvantes como motor para as histórias. Nas tirinhas, o Recruta Zero é sempre visto com um chapéu ou capacete cobrindo sua testa e seus olhos. No original O Recruta Zero, que se chama Beetle Bailey, só quer saber de sombra e água fresca; Sargento Tainha, mandão e comilão; seu cachorro Otto; o conquistador Quindim; o inepto General Dureza; o ingênuo Dentinho (que no original se chama Zero); o cozinheiro Cuca, cujos pratos só agradam mesmo ao Tainha; o caprichoso Tenente Escovinha; o jogador Roque; e a sexy Dona Tetê, a secretária do General Dureza. Entre os outros personagens, tem o Capelão, o jogador Cosme, o intelectual Platão, o caprichoso Tenente Escovinha e o Sargento Mironga, primeiro personagem negro das tiras.

Depois de publicado nos jornais americanos, o personagem ganhou sua revista em quadrinho, publicada entre 1953 e 1980, aparecendo pelas editoras Dell Comics, Gold Key Comics, King Comics, Charlton Comics e Harvey Comics. No Brasil, muitas editoras foram responsáveis pela circulação do personagem entre as décadas de 60 e 90, mas a principal foi a RGE, depois rebatizada de Editora Globo. Na revista houve muitas adaptações para o público brasileiro, feitas por artistas brasileiros como as histórias parodiando o Rock n’Rio (Rock n’ Swampy) e a nova Roque Santeiro (Roque Swampeiro). A tom irônico das histórias gerava situações hilárias, flertava muitas vezes com o nonsense, mas sempre com um humor simples de acompanhar, espalhadas em revistas mensais, almanaques e super almanaques, algumas das quais tematizadas como a edição #3 (Junho/Julho de 1980) do Super Almanaque Zero (RGE) com histórias de heróis começando com Zerobin Hood, a edição #5 (Junho/Julho de 1981) do Super Almanaque Zero (RGE) com histórias de terror ou a edição #7 (Fevereiro / Março de 1982) Super Almanaque Zero (RGE) com os filmes famosos do Zero. Na década de 70, o Recruta Zero circulou por pouco tempo pela editora Saber com o nome Zé, o Soldado Raso e, entre as mais recentes publicações, estão as editoras: LP&M Pockets e Mythos Editora. Entre 1963 e 1964 teve uma série animada na TV entitulada Beetle Bailey and His Friends, e exibida no Brasil pelo SBT, e mais tarde no extinto canal Boomerang. Com a morte de Mort Walker em 2018, as histórias do Recruta mais amado dos quadrinhos ficaram a cargo de seu filho Greg Walker, e seguem sendo publicadas em jornais diversos, embora no Brasil, ironicamente, estejam relegadas no limbo, esquecidas pela atual geração, mas ainda amadas por quem, como eu, economizava no bolso para chegar até a banca de jornal mais próxima e se alistar nesta diversão.