Adilson Carvalho

Há quase 6 décadas que a tripulação de uma nave espacial imaginária tem fascinado gerações de fans. Da tela da TV onde estreou em 8 de setembro de 1966, passando por adaptações para livros, HQs e filmes, a odisseia espacial criada por Gene Roddenberry coleciona vários méritos. Surgida nos turbulentos anos 60 em meio aos conflitos pelos direitos civis e bipolaridade mundial, a série soube fazer da exploração espacial uma metáfora para a condição humana, em sintonia com os problemas de sua época como guerra fria, racismo, o movimento hippie, a aniquilação nuclear entre outros. Ousou mostrar o primeiro beijo inter-racial da TV, expôs um alienígena de orelhas pontudas que incomodou os religiosos extremistas, filosofou sobre o futuro e analisou o passado. Foram três temporadas e 79 episódios de uma fascinante utopia que nos fazia desejar aquele ideal de união étnica em busca do conhecimento, rompendo todos os paradigmas televisivos graças a habilidade de seus roteiristas de abordar tais questões driblando os censores e conquistando seu público. Este mostrou pela primeira vez a força de suas convicções garantindo a continuidade da série quando seu cancelamento era iminente, e isso em uma época em que não havia redes sociais ou e mails para se manifestar. As centenas e milhares de cartas fez a NBC perceber que tinha um produto diferente do habitual. Para celebrar a data de hoje vamos conferir dez dos melhores episódios da série original.
#1. A Consciência do Rei (1T/Ep13). Enquanto Capitão Kirk investiga se o ator Anton Karidian (Arnold Moss) é realmente um ditador dado como morto, se envolvendo com sua filha Lenore (Barbara Anderson). Enquanto isso, um assassino misterioso está matando as pessoas que poderiam identificá-lo. Esta é a primeira de uma longa série de produções de Star Trek que apresentam cenas, citações ou referências a William Shakespeare. Foi também o último episódio da personagem Janice Rand (Grace Lee Whitney), que aparece apenas rapidamente em uma cena. A atriz foi forçada a deixar a série original ainda durante a primeira temporada devido a uma combinação de fatores: a atriz sofreu um ataque de assédio sexual por parte de um executivo do estúdio, além da decisão criativa da série de manter variados os interesses amorosos do Capitão Kirk; e as próprias dificuldades pessoais de Whitney que era alcoolotra.

#2. Semente do Espaço (1T/Ep22). Durante uma patrulha no espaço profundo, o Capitão Kirk e sua tripulação encontram e revivem Khan Noonian Singh (Ricardo Montalban), um conquistador do mundo geneticamente modificado e seus compatriotas do século XX da Terra. Foi esse episódio que gerou a base do roteiro de Star Trek II: A Ira de Khan (1982). Os roteiristas apenas se esqueceram que nessa temporada Chekov ainda não fazia parte da tripulação da Enterprise, logo não poderia ter sido reconhecido por Khan no filme dirigido por Nicholas Meyer.

#3. Um Gosto de Armaggedon (1T/Ep23). Kirk e Spock precisam salvar a tripulação da nave quando todos são declarados mortos em combate em uma bizarra guerra simulada por computador, na qual as mortes reais precisam ocorrer de qualquer maneira. A recusa de Scotty em baixar os escudos contra ordens é baseada em uma história real do serviço militar de James Doohan. Como tenente da Artilharia Real Canadense, ele foi ameaçado de corte marcial de verdade por dizer “Não, senhor, não farei” a um coronel visitante, quando percebeu que uma ordem de exercício de treinamento implicaria explodir as cabeças de alguns de seus próprios homens. Felizmente, seus superiores imediatos o apoiaram e, assim como seu personagem fictício, ele acabou sendo promovido a capitão.

#4. A Cidade a Beira da Eternidade (1T/Ep28). Quando inadvertidamente Dr. McCoy volta no tempo e muda a história, Kirk e Spock o seguem para evitar o desastre, mas o preço a pagar é alto, quando Kirk se apaixona pela ativista Edith Keeler (Joan Collins), cuja vida precisa ser sacrificada para restaurar a linha do tempo. Consagrado como o melhor episódio da série, escrito pelo conceituado Harlan Ellison. O guardião da eternidade voltou a ser usado no episódio Yesteryear de Star Trek: A Série Animada (1973).

#5. Tempo de Loucura (2T/Ep30). No auge do Pon Farr, período de acasalamento vulcano, Spock deve retornar a Vulcano para encontrar T’ Pring (Arlene Martel), sua futura esposa, prometida desde a infância. Primeira aparição da saudação vulcana. Leonard Nimoy improvisou este símbolo durante a produção do episódio, adaptado de um gesto religioso judaico tradicional. Também, primeira aparição da saudação “Vida longa e próspera“. Também foi o primeira vez na franquia a mostrar o planeta Vulcano e a apresentar outro vulcano além de Spock.

#6. Um Lobo Entre Cordeiros (2T/Ep43). Kirk e Spock se tornam detetives depois que Scotty é acusado de assassinar mulheres em um planeta de prazer. A história toma rumo inesperado quando é revelado que o assassino é Jack, o estripador, apresentado como uma entidade imortal que se alimenta do medo. Escrito por Robert Bloch, autor de Psicose (1960), o episódio foi filmado pouco depois de Leonard Nimoy ser indicado ao Grammy. James Doohan (Scotty) esconde a mão direita, que estava sem o dedo médio devido a um ferimento sofrido no Dia D da Segunda Guerra Mundial. Enquanto é interrogado com a mão apoiada no detector de mentiras, seus dedos ficam escondidos, curvados ao redor da borda do prato.

#7. Volta ao Amanhã (2T/Ep49). A Enterprise é guiada para um mundo distante e morto há muito tempo, onde sobreviventes de uma raça extremamente antiga — existindo apenas como energia desencarnada — desejam os corpos de Kirk, Spock e da astrobióloga Ann Mulhall (Diane Muldar) para que possam viver novamente. Primeira aparição de Diana Muldaur na franquia. Ela também apareceria como Miranda Jones no episódio Is There in Truth No Beauty? (1968), e como Dra. Kathryn Pulaski em 20 episódios de Jornada nas Estrelas: A Nova Geração (1987).

#8. O Incidente Enterprise (3T/Ep57). Um aparentemente insano Capitão Kirk faz a Enterprise entrar na Zona Neutra Romulana, onde a nave é capturada pelo inimigo. O plano é por as mãos no artefato de camuflagem romulano, o que leva Spock a se envolver com a comandante Romulana (Joanne Linville). Esta foi a última aparição live action dos romulanos na franquia até o episódio The Neutral Zone (1988), em Star Trek : A Nova Geração, 20 anos depois.

#9. O Mundo Finito (3T/Ep65). A Enterprise descobre que um asteroide aparente que está em rota de colisão com um planeta é, na verdade, uma antiga nave geracional povoada. Durante seu tempo à bordo McCoy se apaixona por Natira (Kathryn Woodville). O enredo da história, de uma nave espacial disfarçada de mundo para seus habitantes e em rota de colisão fatal, é muito semelhante à premissa de The Starlost (1973), uma série canadense de ficção científica desenvolvida por Harlan Ellison que durou uma temporada.

#10. Todos os Nossos Ontems (3T/Ep78). Quando Kirk, Spock e McCoy investigam o desaparecimento da população de um planeta condenado, eles se veem presos em diferentes períodos do passado daquele mundo. De acordo com a data estelar, este episódio é cronologicamente o último da série, embora seu número de produção e data de exibição sejam anteriores a O Intruso (1969). Esta é, portanto, a última viagem da USS Enterprise na série original. Este também é o último episódio de viagem no tempo da série original.
