Por Adilson Carvalho

Stephen Edwin King é um dos escritores norte-americanos mais populares e um dos mais adaptados para TV e cinema. Suas obras de terror, ficção sobrenatural, suspense, ficção científica e fantasia já venderam mais de 400 milhões de cópias, com publicações em mais de 40 países. É o 9º autor mais traduzido no mundo que completa 77 anos hoje. Vamos rever algumas de suas adaptações disponíveis no streaming.

O Iluminado (MAX)
Um dos seus maiores sucessos literários seria um momento conturbado na vida do escritor. Apesar do sucesso crescente e promissor, Stephen mergulhava na dependência do álcool. Inspirado por um período em que o escritor e sua esposa se hospedaram no Hotel Stanley no Colorado, ele transpôs seus demônios pessoais para a figura de Jack Torrance, um escritor tomado pelo bloqueio durante um inverno rigoroso, enclausurado com sua família em um hotel assombrado por fantasmas que podem ser vistos pelo seu filho Danny em “O Iluminado” (The Shining). A inocência deste contrasta com o tormento de seu dom que lhe permite ver imagens do passado do hotel Overlook, onde um crime terrível ocorreu no passado, no quarto 217, o mesmo no qual King e sua esposa se hospedaram durante o inverno. A história ganhou um alcance maior ainda com a adaptação cinematográfica de Stanley Kubrick estrelada por Jack Nicholson que, no entanto, incomodou o autor pela mudança no desfecho da historia. King criou o Jack Torrance de “O Iluminado” como um simulacro de sua própria persona atormentada, e fez de sua vida pessoal a fonte para várias das histórias que criou. Teve sequência publicada em 2013, e filmada em 2019.

IT – A Coisa / It- O Capítulo Final (HBOMAX)
De importância extrema entre suas obras está “It – A Coisa” em que o autor trabalhou o medo e sua adaptabilidade nas mentes de crianças e adultos. Na história original, sete crianças são afetadas pelos assassinatos brutais cometidos por Pennywise, que pode mudar sua forma e se alimenta do medo que instiga antes de matar. Reunidos para caçar e eliminar a criatura, o Clube dos Perdedores, como as crianças se chamam, promete se reencontrar décadas depois, todos já adultos, para enfrentarem Pennywise (Bill Skarsgard), que voltou a matar crianças. A aventura se divide em dois tempos, no passado quando os membros do clube (Ben,Stanley, Beverly, Mike, Eddie, Ritchie e Bill) têm seu primeiro contato com a criatura em 1958, e na década de 80 quando estão adultos, na casa dos 40 anos, e a trágica morte de um deles anuncia a volta de Pennywise. Cada um dos membros do clube permite que o autor trabalhe características que são fáceis de se identificar como o menino hipocondríaco (Eddie), o garoto boca suja (Ritchie), o garoto inseguro (Stanley), o gordinho gentil (Bem), cada um espelho de nossa própria infância. A interação entre estes e a passagem para a vida adulta é tão importante para a narrativa quanto o embate com o maligno Pennywise. Assim, o livro de King, embora cheio de sequências ricas em sustos e pavor , também encontra espaço para mostrar a importância da amizade dos membros do clube dos perdedores.
Carrie a Estranha (Prime Video)

O cinema e a TV descobriram desde cedo o poder de Midas de Stephen King. Quando “Carrie” foi adaptado para o cinema em 1976, o livro que inaugurou a bem sucedida carreira do escritor contava dois anos de publicação. A princípio o autor tinha escrito apenas uma passagem (a do chuveiro na escola) com a intenção de fazê-la um conto para possível publicação. Frustrado por não saber que direção seguir, e por não ter conseguido publicar nenhum dos outros manuscritos que fizera antes, King jogou seu rascunho de “Carrie” no lixo. Na época, King trabalhava como professor e amargava um sentimento derrotista, um período de vacas magras e desconforto, com um carro quebrado e varias dívidas. Estimulado pela esposa Tabitha, que retirou as páginas de “Carrie” do lixo, o autor ampliou a história dando-lhe o formato de um romance epistolar, construído em torno de notas de diários e noticias a respeito da jovem Carrie White, uma adolescente rejeitada pelos colegas, oprimida pelo fanatismo religioso de sua mãe e detentora de uma descontrolada habilidade psíquica. Os múltiplos narradores relatam os efeitos do poder de Carrie provocado pelo constante bullying sofrido, incompreensão e desajuste seja entre seus iguais, ou em casa. A protagonista, Stephen a criou tendo como base sua lembrança de duas garotas que estudaram com ele no passado, já falecidas na época em que Stephen escrevera. Foi a esposa de King quem enviou o texto final para a editora Doubeday. Mesmo depois de ser bem pago pelo livro, King sempre reclamou que a história era “crua” demais, abaixo do que ele pretendia de fato. O sucesso do livro, que chegou ao Brasil pela editora Nova Fronteira, levou à três adaptações para o cinema, sendo a primeira em 1976, dois anos depois do lançamento do livro, dirigido por Brian De Palma, com Sissy Spacek. Todo esse sucesso tem um revés: o livro é até hoje banido das escolas americanas pelo seu teor extremamente assustador. Houve uma refilmagem para a TV em 2002 com Angela Bettis e outra para o cinema em 2013 com Chloe Grace Moretz.

Outras Obras Importantes do Mestre
Nos anos seguintes, o mestre do terror trataria de assuntos diversos: vírus mortal em mundo pós apocalíptico como em A Dança da Morte (Netflix), pirocinesia e adolescência em A Incendiária, que foi rebatizado de “Firestarter – Chamas da Vingança” (Prime Video), licantropia em A Hora do Lobisomem são algumas das ideias que dão forma aos monstros que guardamos em nosso inconsciente, e que Stephen King projeta na dimensão fantasiosa em que sua mente habita. De um curto período em que alugou uma casa à beira de uma movimentada estrada onde morreu o gato de sua filha, Naomi, King imaginou a história que veio a se tornar o livro “O Cemitério Maldito” (Prime Video), mas que demorou a publicar porque sua esposa não gostou deste, que acabou se tornando um campeão de vendas e um de seus trabalhos mais memoráveis. Desses títulos, um dos mais curiosos é “O Concorrente” (The Running Man), adaptado com o título “O Sobrevivente” sobre uma sociedade futurista que executa seus condenados em um reality show televisionado para todo o planeta. Bachman/King critica o poder manipulativo da mídia evocando o tom Orwelliano, muito antes que distopias se popularizassem como nos trabalhos de Suzanne Colllins ( Jogos Vorazes ) e Veronica Roth ( Divergente ). Apesar de várias mudanças na adaptação para o cinema, a história que ganhou nas telas o nome de “O Sobrevivente” (Oldflix) em 1987, estrelada por Arnold Schwarzenegger, foi um sucesso alcançado sem que os produtores soubessem que Bachman e King eram a mesma pessoa. Não demoraria, no entanto, para que sua persona secreta fosse descoberta. Não resta dúvida que o autor está mais popular do que nunca, fazendo suas obras a prova de que, conforme disse certa vez o filósofo Joseph Joubert, “O medo depende da imaginação”. Nesse sentido, ninguém soube explorar melhor esse sentimento que Stephen King.