André Azenha

Dirigido por Sydney Pollack, Três Dias do Condor (The Three Days of the Condor, 1975) é um daqueles filmes em que o suspense nunca se separa da política, e em que a tensão de um homem perseguido reflete os medos de toda uma época. Baseado no romance Seis Dias do Condor, de James Grady, publicado em 1974, estreou nos Estados Unidos em 24 de setembro de 1975 e chegou ao Brasil em abril de 1976. O longa condensa em menos de duas horas a paranoia da América pós-Watergate, quando o público começava a se perguntar até onde ia o alcance da CIA — e a quem, de fato, ela servia. Robert Redford interpreta Joseph Turner, um analista cujo trabalho parece inofensivo: ler livros, jornais e revistas em busca de padrões e códigos ocultos. É justamente essa rotina que o salva, por acaso, de um massacre: ao sair para buscar o almoço, ele escapa da execução de toda a sua equipe. A partir daí, Turner — inteligente, mas ingênuo — é lançado em um jogo em que cada telefonema pode ser uma armadilha e cada porta pode esconder um atirador.

A relação com Kathy Hale (Faye Dunaway), fotógrafa sequestrada e depois improvável aliada, poderia soar forçada em outras mãos. Pollack, porém, filma o romance com a mesma incerteza que guia a narrativa: há ternura, mas também medo; desejo, mas também desconfiança. Nada é simples quando a verdade pode custar a vida. Max von Sydow, como o assassino Joubert, é talvez o personagem mais fascinante. Ele mata sem ódio, com calma profissional quase filosófica. Em uma cena marcante, explica sua visão sobre trabalho e sobrevivência, oferecendo a Turner — e ao público — a única moralidade possível em um universo corroído pela duplicidade. O desfecho é amargo. Turner confronta seus superiores, mas percebe que a vitória é ilusória: mesmo revelando a conspiração, não há garantia de que o público um dia ouvirá. O filme fecha no ponto exato onde paranoia encontra cinismo. Os Três Dias do Condor é um documento do seu tempo, que transforma desconfiança em espetáculo e política em suspense. Quase cinquenta anos depois, continua a ecoar, porque a pergunta central permanece: quem vigia os vigilantes? Disponível para aluguel no Google Play e Apple TV.