Adilson Carvalho

Embora hoje em dia crossovers sejam mais comuns, quando criança era um sonho imaginar uma hq em que um herói da DC encontrasse um herói da Marvel. Nos anos 70  não líamos as histórias imaginando que DC e Marvel fossem universos diferentes, apesar das claras distinções entre ambos. Foi explorando esse conceito que Gerry Conway escreveu o hoje histórico Superman X Homem Aranha: A Batalha do Século. A premissa segue o esperado clichê em que os dois heróis mais populares de casa editora se estranham e saem na porrada, até que descobrem que seus interesses amorosos (Lois Lane e Mary Jane) são sequestradas pelos vilões Dr. Octopus e Lex Luthor, uma aliança profana que ameaça o mundo. Na verdade esta edição não foi o primeiro trabalho editorial conjunto entre as duas majors dos quadrinhos. Em 1975, ambas haviam co-produzido o especial The Marvelous Wizard of Oz, adaptação do clássico do cinema. A ideia, no entanto, de juntar o último filho de Krypton e o popular e amado cabeça de teia surgiu através do escritor David Obst que imaginou um encontro entre ambos os heróis, na época no topo de suas popularidades, como um roteiro para um filme. Obst levou sua ideia a Stan Lee, editor chefe da Marvel, e a Carmine Infantino, da DC Comics, mas na época o projeto não encarado com seriedade por nenhum estúdio, lembrando que a Disney ainda não era a proprietária da Marvel na época. Já a DC Comics, sendo já uma empresa ligada a Warner decidiu seguir com um filme solo do Superman, que veio a ser a super produção dirigida por Richard Donner, e estrelada pelo saudoso Christopher Reeve. Lee e Infantino, no entanto, gostaram da ideia o suficiente para produzirem uma revista especial com o encontro dos heróis. Conway, então com 24 anos, já escrevia The Amazing Spider Man há 5 anos e trouxe o desenhista Ross Andru para o projeto. Andru também era o desenhista oficial do Homem-Aranha na época, e já era conhecido da DC Comics, onde desenhou a Mulher Maravilha e o Superman por um bom tempo. Outros desenhistas que se somaram ao épico foram John Romita Sr, esboçando o Aranha em algumas páginas, e Neal Adams fazendo o mesmo com o Superman. A edição foi enfim publicada em janeiro de 1976 com 100 páginas coloridas.

Como forma de justificar a luta inicial dos heróis, Conway estipulou que o Supeman e Homem Aranha habitavam a mesma realidade, e que o Superman julgou o herói aracnídeo a partir das matérias difamatórias do Clarim Diário. Já o Homem-Aranha, em sua identidade de Peter Parker, presencia o sequestro de Lois e Mary Jane por um Superman fake criado pelo diabólico Lex Luthor. O plano deste, em cumplicidade com Octopus era roubar uma arma de destruição de massa com qual chantageariam o mundo. O problema é que Octopus desconhece que Luthor é louco o suficiente para usá-la de fato com intenção de governar um mundo posto em pedaços. Outro detalhe que Conway precisou justificar é como o Homem-Aranha, por mais forte que fosse, conseguiria sair no mano a mano com o Superman, que nos anos 70 era retratado como imbatível. Assim, o roteiro mostra Luthor usando uma arma que projeta raios de uma estrela vermelha para deixar o Aranha no mesmo nível que o Superman, ainda que temporariamente. A peleja em plena Nova York é épica, com momentos que ficariam gravados até hoje na memória dos fãs pelo ineditismo da história. Não demora, claro, para que os heróis percebam a manipulação dos vilões e venham a juntar forças para salvar o mundo, com um momento espetacular em que, depois do Aranha usar de psicologia para jogar Octopus contra Luthor, vemos o Superman mergulhar criando um estrondo sônico para bloquear e dissipar um tsunami criado por Luthor.

A história foi publicada no Brasil pela primeira vez pela Ebal no Almanaque de Heróis (1977), em tamanho 27 x 36 cm. Dez anos depois a edição foi republicada pela Editora Abril, agora em formatinho (13,5 x 19 cm), e novamente em março de 1993, também pela Editora Abril. Em 1981, as duas editoras se juntaram novamente para um segundo encontro entre Superman e Homem Aranha, mas aí já é uma outra história que contamos depois.