Por Adilson Carvalho

Lendas de vampiros ou desmortos já faziam parte do folclore europeu, muito antes que Abraham Stoker (1847 – 1912) as usasse como matéria-prima de seu mais famoso romance. A esses mitos e superstições, o autor de Drácula fundiu a figura histórica do príncipe romeno Vlad Tepes que governou a região da Valáquia, atual Romênia, combatendo os invasores turcos com requintes de crueldade notória. Vlad, o empalador, fincava uma estaca de madeira no peito de seus inimigos e bebia seu sangue. A mente criativa de Stoker soube unir todos esses elementos na figura de Drácula, nome da família de Vlad, ligada à Ordem do Dragão – linhagem religiosa do auge do Império Romano. Contudo, o livro de Stoker não foi, como muitos pensam, o primeiro livro sobre vampiros. Antes dele houve O Vampiro (Vampyre) de 1819 de John Polidori e Carmila (1871) de Sheridan Le Fanus.

A obra de Polidori foi extraída da história que Lord Byron contou como parte da mesma competição que gerou o romance Frankenstein de Mary Shelley. O Vampiro é praticamente o precursor do gênero vampiro romântico na literatura de ficção, sendo a primeira narrativa em prosa do gênero. A obra é considerada a primeira história de sucesso para fundir os elementos díspares de vampirismo em um gênero literário coerente, antecedendo Bram Stoker em 78 anos. Polidori foi quem teve a ideia de fazer do vampiro não uma figura folclórica mas um aristocrata, no caso Lord Ruthven, um nobre britânico que arrasta o jovem Aubrey para uma viagem pela Europa, marcada por eventos sobrenaturais, morte e degradação. Lord Ruthven engana, manipula Aubrey e todos em sua busca por um banquete de sangue. Em 1945 houve a adaptação The Vampire’s Ghost com John Abbott no papel principal e com o cenário mudado da Inglaterra e Grécia para a África. A influência é inegável e se estendeu até a era atual, pois o texto é visto como “canônico” e – juntamente com Drácula, de Bram Stoker, e outros – é uma das obras mais antigas sobre o vampirismo.

52 anos depois de Polidori, o escritor irlandês Joseph Sheridan Le Fanu publicou o conto Carmilla, em capítulos na revista Dark Blue, entre 1871 e 1872. A história é narrada por Laura, uma jovem que conta os dias passados na companhia da misteriosa Carmilla e os eventos estranhos que ocorreram na região após a chegada desta. Um clássico da literatura britânica, Carmilla apresenta a primeira vampira feminina da literatura, criando a figura da vampira lésbica. Carmilla é retratada como extremamente bela, encantadora e sensual, dona de hábitos estranhos como não acordar antes do meio-dia, dormir com as portas e janelas trancadas, quase nunca se alimentar e ter acessos de raiva quando ouve um hino fúnebre ou se julga ofendida por um vendedor. Carmilla serve de protótipo literário para incontáveis histórias de vampiros que varrem a Europa Central, onde a história se desenvolve, desde eras medievais. A figura do caçador de vampiros apareceu aqui no personagem Baron Vordenburg, sendo este a inspiração para que Stoker criasse o Professor Van Helsing. A primeira adaptação para o cinema foi Vampyr (1932) de Carl Dreyer, que preferia trabalhar com atores não profissionais, e a maioria dos atores que aparecem nesse filme eram amadores que ele conheceu nas ruas de Paris. Carmilla foi vivida, por exemplo, pela viúva francesa Henriette Gerard. A ela se seguiram várias adaptações, sendo as duas que mais valem a pena mencionar são Rosas de Sangue (1960), de Roger Vadim estrelado por Annette Stroyberg e Carmilla – A Vampira de Karnstein (1970), da Hammer Films, estrelado pela voluptuosa atriz britânica Ingrid Pitt.