POLTRONA 6 | CORAÇÃO DE LUTADOR

Andre Azenha

Dwayne Johnson se tornou ícone do cinema de ação e comédia em franquias como Jumanji, Adão Negro e Arranha-Céu: Coragem Sem Limite. Antes disso, fez história nos ringues: foi uma das maiores estrelas da luta livre profissional, herdeiro de uma família ligada ao esporte, transformando seu carisma em popularidade global. É justamente esse passado que torna especial sua entrega neste longa. Em Coração de Lutador, o astro se desvincula da persona dos blockbusters e assume um registro mais dramático, vivendo Mark Kerr, lutador pioneiro do MMA em uma época em que as regras eram frágeis e a remuneração estava longe dos valores milionários de hoje. O filme retrata um período duro, quando o esporte ainda buscava reconhecimento e os atletas precisavam lidar não só com a brutalidade dos combates, mas também com vícios, inseguranças e pressões psicológicas que ameaçavam suas carreiras e vidas pessoais. Vemos a relação entre Kerr e Dawn, interpretada por Emily Blunt. Sua personagem chega a ser “demonizada” em alguns momentos, o que pode despertar certa antipatia do público. Ainda assim, Blunt entrega uma performance intensa, equilibrando fragilidade e firmeza, revelando as tensões de uma companheira que convive com os altos e baixos da carreira e com a dependência química do marido. Não há a fórmula tradicional que conduz o protagonista à vitória redentora, como acontece em histórias fictícias de superação, a exemplo de Rocky Balboa. Tampouco se rende ao tom hagiográfico presente em cinebiografias esportivas, como as de Éder Jofre ou José Aldo. Aqui, a abordagem é mais crua e observacional: um retrato das dores, vícios e contradições de um atleta que marcou o início do MMA, mas não desfrutou da mesma glória e estabilidade das gerações seguintes.

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