POLTRONA 6 | JOGO SUJO

André Azenha

Mark Wahlberg volta a território conhecido. Em Jogo Sujo, no Prime, interpreta Parker, ladrão metódico e de “código de honra”, o tipo de personagem que o ator poderia viver de olhos fechados — e, às vezes, parece realmente fazer isso. A direção é de Shane Black, nome por trás de Beijos e Tiros e Dois Caras Legais, que aqui entrega um trabalho menor, longe do brilho afiado de seus diálogos e da ironia que marcou sua filmografia. O humor sarcástico e a autocrítica ao gênero, tão característicos do diretor, aparecem diluídos, quase burocráticos, como se o filme tivesse sido editado no modo automático. Há energia nas cenas de ação. São filmadas com clareza, sem excesso de cortes, e rendem bons momentos de perseguição e tiroteio. Mas a trama se acomoda em convenções já desgastadas: o assalto perfeito, o golpe interno, a traição previsível, a redenção inevitável. Tudo funciona, nada surpreende. Rosa Salazar e LaKeith Stanfield tentam romper o tédio com carisma, e até conseguem criar pequenos respiros, mas o conjunto carece de química e propósito. A suposta tensão entre Parker e a máfia nova-iorquina nunca ameaça de verdade, e o roteiro recicla ideias vistas em dezenas de thrillers melhores. O resultado é um filme eficiente, porém descartável. Jogo Sujo entretém, tem ritmo e boas cenas de ação, mas confirma que até cineastas talentosos tropeçam quando perdem o gosto pelo risco. Shane Black, que já reinventou o gênero policial com sarcasmo e inteligência, aqui apenas cumpre tabela.

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