HQ TERRITÓRIO NEUTRO | CALVIN & HAROLDO – 40 ANOS

Adilson Carvalho

Uma das tiras em quadrinhos mais criativas e divertidas é, sem dúvida, a história de um garotinho e seu tigre de pelúcia que só está vivo em sua fértil imaginação. Estou falando de Calvin & Haroldo (Calvin & Hobbs), criada pelo cartunista americano Bill Watterson há quase 40 anos. Ambientada nos subúrbios dos Estados Unidos nas décadas de 1980 e 1990, a tira retrata o cotidiano de Calvin, um garoto de seis anos, e sua amizade com seu tigre de pelúcia Haroldo. Nas histórias Haroldo é cumplice de todas as traquinagens de Calvin, e também funciona muitas vezes como uma espécie de grilo falante, uma consciência de certo e errado que acompanha o peralta Calvin. A história também examina os relacionamentos de Calvin com seus pais, que fazem o possível para educar e entender seu filho, e com seus colegas de classe, especialmente sua vizinha Susie Derkins. A natureza dupla de Haroldo é uma característica vital para muitas piadas na tira, funcionando como um amigo invisível para Calvin, e percebido pelos adultos como um brinquedo, embora Watterson muitas vezes cruze a linha entre realidade e fantasia, numa transição tão frequente que a percepção dos pais parece confusa. Embora a série não mencione frequentemente figuras políticas específicas ou eventos em andamento, ela explora questões amplas como ambientalismo, educação e dilemas filosóficos quando a inocência de Calvin confronta o mundo adulto. Watterson publicou as tiras de 18 de novembro de 1985 até 31 de dezembro de 1995, quando decidiu por conta própria parar alegando que já havia escrito tudo o que podia, não desejando se repetir ou cair na mesmice. O autor, hoje com 67 anos, sempre foi crítico do funcionamento da indústria de quadrinhos e preferiu viver afastado da mídia desde então, raramente aceitando dar entrevistas e se opondo à comercialização de seu personagem bem como nunca aceitando adaptação para mídias como cinema e TV. Sua criação é marcante e mantem seu poder de despertar a criança interior de cada um além de nos refletir e, claro, divertir com as histórias.

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