André Azenha

Ao Mestre, Com Carinho (To Sir With Love, 1967) é um daqueles filmes cuja força vem da simplicidade. Sidney Poitier, no papel de Mark Thackeray, transmite dignidade e calma em cada gesto. Sua presença domina a tela com uma autoridade silenciosa — um homem que não precisa erguer a voz para ensinar. Engenheiro desempregado, o protagonista aceita lecionar em uma escola pública no bairro operário de East End, em Londres. Encontra uma turma indisciplinada, formada por jovens descrentes e hostis. Aos poucos, transforma o conflito em diálogo e a resistência em respeito. As lições ultrapassam o conteúdo das aulas: tratam de empatia, convivência e responsabilidade. O diretor James Clavell evita exageros melodramáticos. O filme cresce na sutileza — um olhar, um silêncio, um gesto contido. O professor aprende tanto quanto os alunos, e o ensino se torna um processo de troca. Quando surge a chance de voltar à engenharia, ele percebe que a sala de aula lhe oferece algo que nenhum emprego técnico poderia dar: sentido. Interpretada por Lulu, a canção-tema To Sir, With Love é uma síntese afetuosa de tudo o que Thackeray representa. Sua melodia simples e sincera transforma o reconhecimento em gratidão. O professor que chegou por acaso tornou-se inesquecível para aqueles que aprenderam com ele mais do que fórmulas ou regras — aprenderam cidadania e empatia. Ao Mestre, Com Carinho influenciou gerações de dramas sobre professores que enfrentam turmas difíceis e sistemas desiguais. Entre eles estão Meu Mestre, Minha Vida (1989), O Grande Desafio (2007), O Triunfo (2006), Escritores da Liberdade (2007) e Campeões (2023). Todos ecoam o mesmo ideal de Thackeray: ensinar é um ato de coragem. Em 1996, Poitier reprisou o papel em uma continuação feita para a TV — um retorno afetuoso a um personagem que se tornara símbolo de integridade e esperança.