Por Adilson Carvalho

Quando falamos do gênero terror, é impossível não falar da produtora inglesa Hammer Films, que por 3 décadas reinou absoluta como uma poderosa e criativa fábrica do medo. Reunindo cenógrafos, roteiristas, maquiadores, e talentosos atores dentre os quais os nomes de Christopher Lee e Peter Cushing estrelaram grande parte de seus sucessos nas telas. O impacto cultural foi tão admirável que em 1968 a própria rainha Elizabeth premiou o estúdio em reconhecimento de seu esforço para propagar o cinema britânico.

Tudo começou no final dos anos 50 quando a Hammer Films realizou as adaptações de Frankenstein e Drácula, que lançaram as carreiras internacionais de Lee & Cushing, além de renovar o interesse do público pelos monstros clássicos, que a Universal americana havia explorado nas décadas anteriores. Seguiram-se mais de 40 filmes em que os diretores de arte Bernard Robinson e Don Mingaye trabalharam magistralmente por mais de 10 anos recriando cenários góticos, saídos de pesadelos vitorianos. Em um humilde estúdio próximo ao Tâmisa, Robinson criou a tumba de Drácula, conforme visto no maravilhoso Horror de Drácula (1958), e no mesmo ano o transformou no laboratório de um cientista louco em A Vingança de Frankenstein (1958). Trabalhou em muitos outros filmes como O Fantasma da Ópera (1962), Plague of the Zombies (1966) e outros até sua morte em 1970. O Fotógrafo Jack Asher usou e abusou de lentes especialmente escolhidas para registrar cenários sombrios e extravagantes como na versão Hammer de O Cão Dos Baskervilles (1959), trazendo Peter Cushing como o célebre detetive Sherlock Holmes. Impossível não mencionar o impacto visual das criações dos maquiadores Philip Leakey e Ron Ashton que eram proibidos de usar o mesmo visual imortalizado por Boris Karloff em Frankenstein. Ambos trabalharam com a hercúlea missão de deixar os atores reconhecíveis e sem nenhuma conexão com o trabalho da Universal. Usando cera, algodão e borracha como matéria prima transformaram Christopher Lee em A Maldição de Frankenstein (1957), Horror de Drácula (1958) e A Múmia (1959). No caso do vampiro de Bram Stoker, os maquiadores precisavam se assegurar de que Christopher Lee fosse ao mesmo tempo ameaçador e sedutor. Foi aqui que o Conde Drácula passou a ter presas visíveis com sangue escorrendo e olhos vermelhos assustadores, diferente da versão imortalizada antes por Bela Lugosi.

Foi Ron Ashton quem pessoalmente recomendou a contratação de Oliver Reed para A Maldição do Lobisomem (1963), único filme do estúdio sobre o tema da licantropia. Já Jimmy Sangster foi o roteirista mais prolífico do estúdio, cabendo a ele costurar a narrativa e criar os diálogos. Em 1970, o próprio Sangster resolveu dirigir Luxúria de Vampiros (1970), quando a Hammer já elevava o nível de sedução diluído em sua atmosfera de horror agonizante. Anthony Hinds, filho de William Hinds, o fundador da Hammer, também escreveu para o estúdio resultando no ótimo Rasputin, o Monge Louco (1966). E Christopher Wicking, ex crítico cinematográfico, assinou filmes como Sangue no Sarcófago da Múmia (1971) e Uma Filha Para o Demônio (1976), este último um dos primeiros papeis de Natasha Kinski. Entre os diretores, os nomes de Terence Fisher e Freddie Francis se destacam entre os mais frequentes. Enfim, os scores musicais de James Bernard completavam o time criativo que fez da Hammer a casa do terror, até hoje relevante para a história do gênero.
