Poema de Sérgio Cortêz
“Banco Do Brasil”

“…criei cenários
onde vivi interpretações
que jamais consagraram minha alma…”
*
Num banco do Brasil
perdido numa praça não encontrada
em algum lugar de Paracambi,
um mendigo se deita.
Ele obtém a cobertura da imprensa
através de jornais municipais
sob os quais se acomoda,
fugindo do frio e de sua realidade,
fugindo da assiduidade
de sentimentos que, antes,
não lhe eram comuns…
O mendigo que já não dorme
mas esconde-se da realidade funesta,
é o Brasil deitado em um banco.
*
E no metrô camuflado de pressa
luxo e riqueza ao estilo de Amélia
o executivo que executa ordens
prepara-se para assumir seu posto
numa filial do Banco do Brasil.
Lá ele tocará em dinheiro,
em papéis e contas de energia.
Ele não pode imaginar o mendigo imundo
que dorme em outro canto do Brasil
tão longe dali e tão longe de tudo,
tão morto quanto ele que morreu em vida,
duas almas separadas pela matéria fantasma:
a carne…
*
Indo à míngua tentando entender a língua
de dois Brasis tão diferentes
descubro, já tarde, que não sou poliglota…
*
Do livro “Ovo À Milanesa”, 1994.
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