Adilson Carvalho

Uma das mais doces lembranças que tenho de minha infância é cantar o jingle “Feliz Natal pra todos !” de um curta animado da Turma da Mônica na TV. Os personagens de Maurício de Souza acompanham o crescimento de gerações que se divertiram com os planos infalíveis do Cebolinha, com o “Alô mamãe!” do Bugu, com a valentia da Mônica, os causos do Chico Bento ou o apetite infinito da Magali, entre outras. Maurício foi muito além de Walt Disney, buscou matéria prima para suas histórias no dia a dia de crianças, como vocês e eu fomos um dia. Trocando o R pelo L, ou fugindo de um banho, cada um de nós viveu algo parecido com as histórias da Turma da Mônica, que surgiu gradativamente na mente de seu autor, o paulistano Maurício Araújo de Souza, ex-repórter policial, que em 1959 lançou o cão Bidu nas páginas da Folha de São Paulo. Foi o primeiro passo para criar um mundo próprio, baseando-se na sua infância e na infância de seus filhos fez dessas lembranças as traquinagens de um grupo de do fictício bairro do Limoeiro onde se desenrola a vida de Mônica, Magali, Marina, todos esses baseados em alguns de seus 10 filhos de mesmo nome; Cebolinha e Cascão foram inspirados em amigos da infância de Maurício; Maria Cebolinha foi inspirada na filha Mariângela; Nimbus foi inspirado no filho Mauro; Do Contra no filho Mauricio Takeda; e Professor Spada/Dr. Spam , no filho, já falecido, Maurício Spada; Chico Bento no tio-avô de Maurício e o Louco no irmão Márcio Araújo. Já Titi e Franjinha são personagens inspirados em seus sobrinhos, enquanto Horácio, o dinossauro verde, é um alter ego do próprio Maurício. Sua infinita imaginação também deu vida ao Anjinho, Astronauta, o elefante Jotalhão entre outros. Maurício sempre foi inclusivo em suas criações mesmo antes do termo se tornar popular como nos personagens Dorinha (portadora de deficiência visual), Luca (cadeirante), Milena (negra), Papa-Capim (índio), André (autista), todos compondo um universo de personagens infantis ou adultos que dizem muito sobre cada um de nós. Em agosto de 1974 na revista da Mônica #64 (Editora Abril), Mauricio de Sousa se tornou um personagem da sua própria obra na história “O Dia Dos Papais Trocados”

A partir de 1970, seus personagens abriram mais espaço, saindo das tiras de jornal, para revistas mensais começando pela editora Abril, casa onde ficou por 16 anos, passando depois para a editora Globo (1987 a 2006) e finalmente na Panini Comics, onde estão até hoje. Em uma indústria dominada por personagens estrangeiros, Maurício lutou para que 60% do mercado editorial fosse destinado à produção nacional, e isso em pleno governo de João Goulart. Maurício não passou ileso à ditadura militar, perdendo seu emprego de repórter no Folha da Tarde depois de ser acusado de comunista. Contrastando com o dito revés, Maurício de Souza já recebeu diversas honrarias, e inclusive se tornou o primeiro artista dos quadrinhos a ingressar na Academia Paulista de Letras. O cartunista diversificou suas criações, dando a luz ao filosófico Horácio, o divertido Piteco, a turma jovem do Rolo, Chico Bento, a turma do Penadinho e outros.

Pouco antes da Copa do Mundo de 1978, lançou o Pelezinho e seus amigos, e mais tarde fez versões infantis de outros jogadores famosos como Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho e Neymar. Maurício também foi genial em criar sua própria galeria de vilões como o Capitão Feio, Lorde Coelhão (paródia de Darth Vader de Star Wars), a bruxa Viviane, os simpáticos bichinhos de estimação como o Bidu, Floquinho, a gatinha Mingau, o porquinho Chovinista, heroís como o Superomão, o Batimão e o Homem Aranho, todos obvias paródias dos heróis da DC e Marvel. Confesso aqui que meu favorito sempre foi o Louco e todas as vezes que ele apronta perseguindo o pobre Cebolinha. Em 2008, o MSP Estúdio lançou a Turma da Mônica Jovem, editado em formato de mangá. Poucos artistas conseguiram fazer de sua memória e criatividade uma fonte inesgotável de diversão capaz de tocar todas as idades, sendo relevante para tantas gerações. Obrigado por tudo Maurício, e parafraseando Bugu “Alô, papai!”.
Na semana que vem vamos conhecer com detalhes a Turma do Penadinho, já no clima de Halloween.
