NA TELA DA NETFLIX | A NOITE QUE MUDOU O POP

Por Adilson Carvalho

Era Janeiro de 1985, Tancredo Neves era eleito presidente do país que abrigava o hoje histórico Rock n’Rio. Nos Estados Unidos, Ronald Reagan iniciaria seu segundo mandato, mas na Etiópia, o povo morria de fome. Cerca de um milhão de pessoas morria em um país devastado por guerras civis e desastres naturais. Poucos meses antes aconteceu o famoso Live Aid, concerto londrino que envolveu grandes nomes da música pop como Queen, David Bowie, Elton John, Mick Jagger e outros. Nos Estados Unidos, o músico e ativista norte-americano Harry Belafonte teve a ideia de reunir um grupo de músicos negros para compor uma música que fosse um hino humanitário pela causa da luta contra a fome.

O excelente documentário A Noite Que Mudou o Pop (The Greateast Night in Pop) estreou no final de janeiro passado, com imagens inéditas dos bastidores e dos ensaios da gravação de We Are The World. Já no início descobrimos que foi Belafonte quem contatou Lionel Ritchie, que começou a compor juntamente com Michael Jackson. Na época, tanto Ritchie como Jackson estavam no auge de suas carreiras, e logo decidiram chamar outros grandes nomes, não apenas negros, mas qualquer um que pudesse se juntar ao projeto. O obstáculo era como conseguir cada um dos 45 astros, que se comprometeram, tendo cada um uma agenda conflitante a cumprir. A influência e a habilidade diplomática de Quincy Jones conseguiu equilibrar egos e temperamentos, muitas das vezes antagônicos. Foi assim que Prince se recusou a integrar o seleto grupo, por não aceitar gravar junto com os demais artistas. Estas e outras histórias são lembradas pela narração de Lionel Ritchie, hoje com 74 anos.

À medida que o documentário recria a noite de 28 de janeiro de 1985 somos levados de volta no tempo e vemos como as figuras pop mais consagradas da época passaram mais de 8 horas, toda uma madrugada reunidos para realizar um projeto que põe seus talentos vocais em prol de uma causa divina, reduzir o sofrimento de pessoas que não podiam contar com ninguém mais, com nada mais além de orações. Diana Ross chorou, Bob Dylan teve um surto de insegurança, Cindy Lauper deixou Huey Lewis surdo com seus agudos, essas e outras histórias mostram como foi a noite que não curou a fome do mundo, mas que mostrou que o esforço humano pelo próximo é capaz de maravilhas para mostrar que ao salvar uma vida, ao alimentar uma criança, podemos salvar a nós mesmos. Um exemplo a ser seguido. Disponível na Netflix.

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