Adilson Carvalho

Pode ser difícil explicar o de impacto de Sociedade dos Poetas Mortos, clássico adorado de Peter Weir estrelado por Robin Williams para os jovens de hoje, porque nenhum adolescente sensato, com a mínima inclinação para ser descolado, admitiria ler poesia (e provavelmente a maioria não lê). Ainda assim, é um filme atemporal, de alguma forma muito específico de uma certa época, a época daqueles adolescentes, o que não é tão fácil de compreender e com o qual os jovens de três décadas depois possam se identificar. Muita coisa mudou no mundo. Ao mesmo tempo, todos que já foram adolescentes entendem que, em nossos anos de formação, sabemos imediatamente quando alguém diz (ou faz) algo falso e irrealista sobre nós. Em 1989, Ethan Hawke, então com 18 anos, também entendia isso. Sua crítica a uma de suas cenas principais foi ouvida pelo diretor, que o deixou reescrever a sequência, baseando-se em uma experiência pessoal dolorosa, porém verdadeira. Como Hawke relembrou em uma recente retrospectiva da Rolling Stone, “Eu tinha que fazer um discurso sobre o pai do personagem. Depois de ensaiarmos, eu disse para o Robert Sean Leonard [meu colega de elenco]: “Essa cena está horrível”. O Peter Weir ouviu e perguntou: “Por que você disse isso?”. Eu respondi que jamais diria aquelas coisas para outro homem. Ele retrucou: “O que você diria?”. Conversamos, e eu contei a ele sobre como meus pais me deram o mesmo presente de aniversário, e o fato de eles não saberem que tinham feito aquilo… Nunca me senti tão invisível na vida. O Peter perguntou: “Se isso acontecesse com você agora, o que você faria?”. Eu disse que jogaria a coisa do telhado. “Certo, então por que não fazemos isso?”. Então, sentamos, reescrevemos a cena inteira, e ela está no filme!“