Adilson Carvalho – Começando uma série de artigos sobre o icônico diretor.

Martin Scorcese é um dos melhores diretores de sua geração, em breve completando 83 anos. Para começar o ciclo de matérias sobre suas obras nada mais justo que falar de Taxi Driver (1976), escolhido o 52º maior filme americano pelo AFI – American Film Institute, registrando 89% de aprovação no famigerado Rotten Tomatoes e um impacto cinematográfico magistral. Foi o 5º filme do diretor, escrito por Paul Schrader, a quem Marty foi apresentado por Brian dePalma. Ao escrever o roteiro, Schrader se inspirou nos diários de Arthur Bremer, que atirou no candidato presidencial democrata George Wallace em 1972, bem como na canção “Taxi” de Harry Chapin, que é sobre uma antiga namorada de um taxista que pega uma corrida em seu veículo. Para o final da história, em que Bickle se torna um herói da mídia, Schrader foi inspirado pela tentativa de assassinato do presidente Gerald Ford por Sara Jane Moore, que originou uma matéria de capa na revista Newsweek. O roteirista passara por um momento difícil em sua vida, sofrendo de insônia, frequentando o submundo de Nova York, separado da esposa e morando em seu carro. A história captou a desesperança de uma América caótica e desiludida pós Watergate, pós Vietnã e mergulhada na decadência não apenas física mas sobretudo psicológica.
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A história acompanha Travis Bickle (Robert deNiro), um veterano solitário da Guerra do Vietnã que trabalha como taxista nas noites de Nova York. Perturbado por seu isolacionismo voluntário, e pela crescente violência e decadência que testemunha na cidade, ele desenvolve um desejo por uma ação violenta e fica obcecado em “salvar” uma prostituta adolescente (Jodie Foster). Travis é também obcecado por Betsy (Cybill Shephard), que trabalha no comitê eleitoral do senador Palantine (Leonard Harris), candidato à presidência, cuja campanha promete mudanças sociais drásticas; Travis também decide apoiar a candidatura de Palantine após conhecer Betsy. Ela inicialmente fica intrigada com Travis e, identificando-se com sua própria solidão, concorda em sair com ele. No encontro, entretanto, Travis ingenuamente leva-a para ver um filme pornô e a moça o abandona, perturbada. Movido pela frustração e alienação, Travis muda seu visual e se entrega à violência sendo transformado em herói pela mídia.

Robert De Niro se preparou para o papel trabalhando como motorista de táxi noturno na cidade de Nova York no início de 1975. Um de seus passageiros o reconheceu de O Poderoso Chefão: Parte II (1974). O passageiro era um jovem ator, que disse a De Niro, de forma desanimadora: “Espere um minuto, você acabou de ganhar um Oscar. Meu Deus… é TÃO difícil conseguir trabalho assim?” De Niro trabalhou quinze horas por dia durante um mês dirigindo táxis como preparação para este papel. Ele também estudou doenças mentais e, durante seu tempo livre durante as filmagens de 1900 (1976), visitou uma base do Exército dos EUA no norte da Itália e gravou conversas com soldados do Meio-Oeste americano para poder captar o sotaque deles. Embora indicado a 4 Oscars, o filme não levou nenhuma das estatuetas para as quais concorreu : Melhor filme, ator – de Niro, atriz coadjuvante – Jodie Foster e melhor trilha sonora, a última composta pelo fabuloso Bernard Herrmann. A história fez a justiça que a Academia não fez, reconheceu o valor narrativo e visual do filme gravando em nossa memória um DeNiro afrontoso quebrando a quarta parede e dizendo “Tá falando comigo?“.