POLTRONA 6 | FRANKENSTEIN ⭐⭐⭐⭐⭐

Adilson Carvalho

Li duas vezes o romance de Mary Shelley, e vejo o quanto o impacto desta obra ainda ecoa em nossas mentes, sendo o projeto dos sonhos de Guillermo del Toro. Sua obra marcada pelo inusitado, pelo fantástico, é marcada por personagens que refletem a humanidade, mesmo que estando à parte dela como em A Forma da Água (2017) ou Hellboy (2004). Com Frankenstein não é diferente, pois apesar do aspecto científico inerente à obra, o diretor mexicano ressaltou o aspecto humano de uma relação entre pai e filho, criador e criatura, ambos distorções da figura humana. Del Toro soube extrair a essência das palavras de Mary Shelley sem se prender a uma tradução literal do texto, comparável em eficácia ao que Peter Jackson fez com O Senhor dos Anéis. As diferenças entre texto e imagem, livro e filme, enriquecem o resultado da adaptação sem que haja prejuízo de um em relação ao outro. É incrível como sua visão até complementa a versão de Kenneth Branagah de 1995 criando um elo de comunicação entre as duas adaptações. Claro que isso não seria possível sem a escalação do elenco como feita. Oscar Isaac é desprezível em sua responsabilidade como Victor, o que se justifica pelo prólogo inicial do filme. Sua narração na primeira parte do filme sai da inocência ultrajada para a pura arrogância. Del Toro da voz à criatura e o faz graças a uma atuação surpreendente de Jacob Elordi. Confesso que não esperava uma interpretação tão sensível em um papel tão difícil. Mia Goth é o 3° vértice desse triângulo narrativo. Sua Elizabeth é uma mulher a frente de seu tempo e não uma figura frágil vítima de um cruel acaso. Ela cumpre seu papel questionador com louvor e muitas vezes diz o que gostaríamos de dizer. A história se desenvolve com a perfeição de um cinema mais físico, livre da artificialidade digital, e por isso mais crível, mais emotivo, e capaz de cumprir sua proposta de nos fazer refletir com a história de um homem que ousou ser Deus e viveu como monstro.

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