Adilson Carvalho

Viajar através das eras passadas e futuras tem sido um sonho apenas alcançado no campo da imaginação. Antes de H.G.Wells (1866-1946) já haviam várias histórias de personagens viajando pelo tempo, mas sempre por meio de mágica ou devaneio. Foi o escrito inglês Herbert George Wells o primeiro a escrever uma história em que a passagem das eras seguia um rigor científico, com meio mecânicos de se mover pela chamada 4° dimensão. O livro, originalmente publicado em 1895, giravem torno de um inventor conhecido apenas como O Viajante do Tempo, que desenvolve, com base em conceitos matemáticos, uma máquina capaz de se mover pela Quarta Dimensão, neste caso considerada como a dimensão do tempo. Desiludido com sua própria época, com o imperialismo britânico, o Viajante avanca até ao ano de 802.701 d.C. esperando encontrar uma raça humana melhorada. O que encontra são os Elóis, pacíficos e dóceis remanescentes dos humanos, aparentemente vivendo num mundo paradisíaco, sem qualquer tipo de preocupações, até perceber que eles, na realidade, servem de alimentos para uma raça de mutantes, os Morlocks que vivem no subterrâneo e que, apesar de outrora terem sido dominados pelos Elóis, tornaram-se seus predadores. O mundo dividido entre Elois e Morlocks serve como paralelo filosófico para a Inglaterra da revolução industrial com nobres e proletariado formando uma contraste incômodo para a visão idealista de H.G. Wells. Este foi um gênio que transformou os anseios de sua realidade em relatos que ecoam a condição humana em futuros hipotéticos, impactados por descobertas ou invenções. No caso de A Máquina do Tempo, Wells mexeu com o velho questionamento “Para onde vamos?” E que inflama teóricos e cientistas interessados na viagem temporal, tema discutidos já por nomes como Carl Sagan, Stephen Hawkins ou o físico brasileiro Mario Novello.

A primeira adaptação para o cinema foi dirigida por George Pal em 1960 com Rod Taylor como ator principal, sendo relativamente fiel ao livro original apesar de adicionar alguns conceitos de sua época, o por adicionar licenças poéticas como de batizar o viajante de George. Refinado em 2002 por Gore Verbinski e Simon Wells, bisneto de H.G.Wells. O personagem central da história passa a ser o cientista Alexander Hartdegen (Guy Pearce), um homem obcecado por duas coisas: sua bela noiva Emma e a possibilidade de viajar no tempo; porém uma tragédia acaba vitimando a noiva do cientista. Desesperado ele resolve construir uma máquina do tempo para voltar no tempo e mudar o passado. Após muito pesquisar, Hartdegen consegue construir um aparelho capaz de transportar as pessoas pelo tempo. Ele retorna ao passado e tenta salvar sua noiva. Entretanto, apesar das tentativas, ela acaba sempre morrendo. Desesperado, o cientista resolve viajar até o futuro para descobrir por que ele é incapaz de alterar o passado. Testando suas teorias com a máquina, Alexander viaja de 1889 para o ano de 802.701 d.C quando descobre que a humanidade se dividiu nas raças dos Morlock e dos Elois.

A obra de Wells é referência no tema mesmo que desperte debates calorosos sobre paradoxos curiosos influenciando filmes como a franquia O Exterminador do Futuro, De Volta Para o Futuro a serie Dr Who e muitas outras, certamente ainda sendo revisitada muitas vezes com a certeza de que o tecido infinito das eras guarda lições que a aventura não para de redescobrir.