Adilson Carvalho

No início da década de 80, o Homem Aranha seguia com seus três títulos mensais: Amazing Spider Man como o principal da cronologia do personagem, Peter Parker: The Spectacular Spider Man com histórias mais isoladas e Marvel Team Up trazendo sempre uma aventura em dupla do Homem Aranha com outro herói. A popularidade do aracnídeo estava bem alta com o sucesso da animação Homem Aranha & Seus Incríveis Amigos. Embora o seriado live-action estrelado por Nicholas Hammond não tivesse tido o sucesso esperado, suas reprises ao redor do mundo servia para impulsionar as vendas das hqs. No aranhaverso, termo ainda não usado na época, os leitores sentiam falta dos coadjuvantes habituais, Flash Thompson, Mary Jane, Ned Leeds, que gradativamente eram deixados de lado pelos roteiristas. A ideia era renovar o elenco de personagens ao redor de Peter Parker, e para isso a Marvel contratou o experiente roteirista Denny O’Neill, vindo da DC Comics onde esteve no centro de histórias impactantes do Batman, Lanterna Verde/Arqueiro Verde e outros. Assinando com o pseudônimo Sergius O’Shaughnessy, o escritor assumiu The Amazing Spider Man a partir da edição #210 (novembro de 1980) , com desenhos de John Romita Jr. A intenção era dinamizar ainda mais as aventuras do Cabeça de Teia, e já começando surgia a Madame Teia, uma vidente que conhece a identidade secreta do herói. Logo em seguida O’Neill introduz o vilão Homem-Hídrico (The Amazing Spider Man #212, janeiro de 1981), que poucos meses depois se fundiria ao Homem Areia no impactante arco do Monstro de Lama (The Amazing Spider Man #216 #217 e #218). O período de O’Neill acabou em outubro de 1981, sendo interinamente substituído por Bill Mantlo e J. M. DeMateis até a chegada do excelente Roger Stern em The Amazing SpiderMan #224 (janeiro de 1982) em uma aventura que traz de volta o vilão Abutre.

Stern havia escrito Peter Parker: the Spectacular Spider Man começando na edição #43 (junho de 1980) com desenhos de Mike Zeck, onde criou a vilã Beladona, e ficando até a edição #60 (novembro de 1981). Convidado para assumir The Amazing Spider Man, o hábil Roger Stern conseguiu produzir novas histórias sem jamais perder a essência de Peter Parker, equilibrando seus dramas pessoais e sua vida heroica em Nova York. Nas edições #229 e #230 (junho e julho de 1992), Stern joga o Aranha contra um adversário que nunca havia enfrentado antes, o colossal Fanático, que havia sido contratado para matar a Madame Teia, uma luta desigual contra um inimigo imbatível. Decidido a não poupar leitores nem personagens, Stern escreve o arco de histórias das edições #233 à #235 (outubro a dezembro de 1982) que transforma o vilão Tarântula em uma aranha humana. Desprovido de sua humanidade, o vilão prefere morrer a continuar a existir assim, em um final de arco trágico como há muito não se via. Em uma das histórias fechadas mais emotivas intitulada O Menino que Colecionava Homem Aranha (Amazing Spider Man #248, janeiro de 1984), Peter Parker visita uma criança que está morrendo de leucemia e se apresenta como seu maior fã. Peter conta tudo sobre sua vida heróica, em uma história eleita mais tarde como uma das melhores já feitas com o Homem-Aranha. Sem vilões, sem luta, apenas uma doença terrível e um choque de realidade amarga que arranca lágrimas do leitor mais frio. A história foi adaptada em um episódio duplo de Homem Aranha: A Série Animada. O ápice de sua fase foi a criação de um dos maiores vilões do herói, inadvertidamente ligado a um dos períodos mais dramáticos de seu passado… eis que surge o Duende Macabro. Sua identidade permaneceria um mistério, assim como Lee e Ditko fizeram com o Duende Verde vinte anos antes. Com os desenhos maravilhosos de John Romita Jr, e ainda colaboração de John Romita Pai na primeira história publicada nas edições # 238 e #239, o vilão encapuzado se fixaria como seu maior adversário nessa fase. Stern ainda aproveita para atender a uma antiga reivindicação dos fãs trazendo de volta à continuidade Harry Osborn, Liz Allen, Flash Thompson, Sha Shan e … Mary Jane Watson, a amada de Peter Parker. A verdade sobre o Duende Macabro seria o assunto de um desentendimento entre Stern e Tom DeFalco, editor chefe na época. A ideia de Stern era apresentar o magnata Roderick Kingsley e seu irmão gêmeo Daniel Kingsley como o Duende Macabro na edição #264, que estava previsto para maio de 1985. Em vez disso, Stern foi demitido, deixando o título em abril de 1984 (Amazing Spider Man #251) em uma história de luta ferrenha entre o Aranha e o Duende Macabro, que encerraria as histórias do personagem antes do início da era do uniforme negro.
Na sequência dessa matéria vamos lembrar da volta de Bill Mantlo ao herói e as últimas histórias antes do evento Guerras Secretas.