SCORCESE: EXÍMIO CONTADOR DE HISTÓRIAS | ASSASSINOS DA LUA DAS FLORES

Por Adilson Carvalho

Admito ser suspeito quando se trata de avaliar os trabalhos de Martin Scorcese. O diretor italo-americano continua sendo um excelente contador de histórias. Exorcizou os traumas urbanos de uma América pós Vietna em Táxi Driver (1976), falou de apogeu e derrota em Touro Indomável (1980), analisou os laços criminosos e a falência moral da América em Os Bons Companheiros (1989) e em tempos recentes continua sendo aquele que bota mesmo o dedo na ferida. Em 2013 foi o mundo da especulação financeira com O Lobo de Wall Street, em 2019 os bastidores da política entrelaçada com o crime organizado e os sindicatos em O Irlandês é agora o genocídio indígena na adaptação do livro de David Grann. Scorcese nos leva ao início do século XX, pouco depois do fim da Primeira Guerra, quando chega em uma cidadezinha de Oklahoma o matuto Ernest Burkhurt (Leonardo DiCaprio), sobrinho do poderoso fazendeiro William Hale (Robert DeNiro), que está de olho nas terras da tribo Osage, riquíssimas em Petróleo. Hale pesa de bem feitor dos índios, mas esconde seu interesse brutal pela terra, encabeçando uma série de assassinatos de índios. Sem escrúpulos, Hale é uma espécie de Poderoso Chefão de faroeste, e praticamente manipula o sobrinho para que este se case com Molly (Lily Gladstone), herdeira legal das terras. O que esperar de DiCaprio e DeNiro em cena senão o melhor. O primeiro veste a estupidez e a ambição enquanto o segundo está no topo da cadeia alimentar, um grande Tubarão com desprezo total pelas vidas humanas. Mais contido que o habitual, DeNiro mostra porque é um dos melhores atores de sua geração. Mas é Lily Gladstone quem completa o trio. Seus olhos conduzem a narrativa e a todo momento serve de identificação com o público, mesmo que por vezes aparenta uma irritante ingenuidade, seus momentos em cena são muitas vezes de poucas palavras mas de muito em tudo que um ator usa para expressar o que sente, rosto, corpo, olhar, Lily é simplesmente intensa mas equilibrada em tudo. O único problema talvez seja a metragem exagerada do filme, contabilizando 3 horas e 20 minutos. Talvez Scorcese devesse ter reduzido algumas coisas, e demora até que o FBI, recém formado, entre em cena, mas o diretor não poupa a tela para mostrar o sofrimento indígena. Talvez tenha faltado mostrar mais da incompetência intencional do governo em cuidar das terras indígenas. Em todo o caso o filme possui uma forte narrativa para denunciar abusos com todo um povo, acender um clamor por justiça, e isso Scorcese entrega muito bem. Disponível no Apple TV.

Assassinos da Lua das Flores foi indicado a 10 Oscars: Melhor filme, melhor diretor para Martin Scorcese, melhor atriz para Lily Gladstone, melhor ator coadjuvante para Robert DeNiro, melhor figurino, melhor design de produção, melhor fotografia, melhor edição, melhor trilha sonora original e melhor canção original.

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