Marcelo Kricheldorf
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Em 1927, Fritz Lang lançou Metropolis, um épico do cinema mudo que transcendeu seu tempo, tornando-se um ícone da ficção científica e uma crítica visceral à sociedade industrial. Com cenários monumentais, simbolismo opressivo e uma narrativa que mistura revolta e redenção, o filme segue atual, desafiando-nos a refletir sobre tecnologia, poder e humanidade.
Em Metropolis, a cidade-futura de 2026 é dividida entre a “Oberstadt”, luxuosa, e a “Unterstadt”, sombria, onde trabalhadores escravizam-se para manter as máquinas. Fredersen, o tirano líder, usa a robô Maria (Brigitte Helm) para manipular os operários e evitar uma revolta. Freder (Gustav Fröhlich), seu filho, se apaixona pela verdadeira Maria, que prega a união entre classes. Quando a farsa é descoberta, a cidade colina: a máquina-Moloch devora trabalhadores, enquanto Freder lidera a reconciliação. O final ambíguo — “O mediador entre Cérebro e Mãos é o Coração“ — propõe harmonia, mas sem romper o sistema. O diretor projetou um futuro sombrio inspirado na Alemanha pós-Guerra, onde desigualdade e autoritarismo cresciam. A Unterstadt ecoa as favelas de Berlim, enquanto a Oberstadt reflete o esplendor vazio da elite. Hoje, Metropolis ressoa em debates sobre Inteligência Artificial e vigilância, lembrando que o progresso tecnológico sem justiça social é um abismo.
A obra é um manifesto expressionista: prédios vertiginosos, luzes cortantes, máquinas infernais. O diretor de arte Otto Hunte criou um cenário que personifica o opressor. Sem diálogos, o cineasta usa gestos amplos e edição rítmica, influenciando filmes como Alphaville (1965) e Blade Runner (1982). Maria simboliza a dualidade mulher-máquina: pura e perigosa. A robô, réplica sua, expõe o medo da mulher como ameaça ao poder. Hoje, esse tropo ecoa em debates sobre Inteligência Artificial e gênero, questionando quem controla a tecnologia. O Moloch (Metáfora do Capitalismo), devorador de trabalhadores, é o capitalismo voraz. Lang critica a exploração, ecoando Marx: os operários, engrenagens descartáveis. A cena da “inundação” reflete o medo da revolução, mas também a fúria contida. Lang rompe com o narrativa linear, alternando cenas entre Ober e Unterstadt, acelerando o clímax. Utiliza a montagem paralela e usa close-ups para intensificar o caos, influenciando Eisenstein e o cinema moderno. Lançado em 1927, Metropolis lfoi mutilado pela censura (perdeu 1/3 do filme!) e rejeitado por críticos. Nos anos 70, foi redescoberto, restaurado em 2010. Lang, que fugiu dos nazistas em 1933, viu o perigo. Metropolis não é profecia, mas alerta.O controle absoluto gera rebelião. Hoje, ecoa em debates sobre vigilância. O filme é mais que um clássico — é um espelho distópico que nos encara. Lang desafiou o futuro, mas o futuro o ultrapassou. Um Filme obrigatório.
Ficha Técnica
- Título Original: Metropolis
- Direção: Fritz Lang
- Produção: Erich Pommer (UFA, Alemanha)
- Roteiro: Fritz Lang, Thea von Harbou (baseado em romance de von Harbou)
- Elenco Principal:
- Gustav Fröhlich como Freder Fredersen
- Brigitte Helm como Maria / Robô Maria
- Alfred Abel como Joh Fredersen (líder de Metropolis)
- Rudolf Klein-Rogge como Rotwang (cientista)
- Gênero: Ficção Científica, Drama, Distopia
- Duração: 153 minutos (original, 1927) | 145 minutos (versão restaurada, 2010)
- País: Alemanha
- Ano: 1927
- Idioma: Mudo (intertítulos em alemão)
- Fotografia: Karl Freund, Günther Rittau (B&W, 35mm)
- Trilha Sonora: Originalmente mudo; versões posteriores com Giorgio Moroder (1984) ou Thomas Newman (2010)
Prêmios e Legado:
- 1927: Sucesso comercial na Alemanha, mas cortado pela censura (perdeu ~1/3 do filme).
- 1984: Versão colorizada (Moroder) com música de Kraftwerk.
- 2001: UNESCO Memory of the World.
- 2010: Restauração completa (145 min) com material reencontrado.
- Influências: _Blade Runner, Matrix, Star Wars, Akira.