Adilson Carvalho

O British Film Institute restaurou três dos curtas-metragens de dois rolos de filmes mudos da série Sherlock Holmes da Stoll Pictures, do início da década de 1920. A estrela é o ator de teatro inglês Eille Norwood, cujo rosto bonito, perturbado e sensível aparece em close-up extremo no primeiro deles, A Scandal in Bohemia, de 1921. O Dr. Watson é interpretado em todos os filmes por Hubert Willis. Neste primeiro filme, nosso herói demonstra seus talentos como mestre do disfarce; Holmes é abordado pelo rei da Boêmia em seus aposentos na Baker Street, usando uma máscara (tão preocupado está ele em ser reconhecido), embora os poderes de dedução de Holmes (e, claro, seu próprio domínio superior desse tipo de impostura) lhe permitam desmascarar o rei imediatamente. Ele quer que Holmes roube uma fotografia incriminadora tirada dele com uma jovem mulher — uma “aventureira”, como ele curiosamente a descreve — que poderia ser embaraçosa. Trata-se da elegante atriz de teatro Irene Adler, interpretada por Joan Beverley, e Holmes consegue subir ao palco com Adler no meio da apresentação para executar um estratagema ousado. Mas, de forma surpreendente, Adler parece ser a única pessoa capaz de superar Holmes em inteligência. Em The Golden Pince-Nez, de 1922, um homem morto é encontrado com este objeto nas mãos, e Holmes intui brilhantemente exatamente que tipo de pessoa usaria esses óculos. E em O Problema Final, de 1923, Holmes confronta de forma climática o Napoleão do crime, o próprio Moriarty (Percy Standing), em um combate corpo a corpo colossal, transferido das Cataratas de Reichenbach, na obra original, para Cheddar Gorge. O que é surpreendente, especialmente no primeiro deles, é o uso de locações reais em Londres — a cidade que Conan Doyle teria reconhecido. Esses filmes foram rodados com o conhecimento e a aprovação de Conan Doyle, que era um grande fã da atuação de Norwood, e isso pode ter influenciado sua composição das histórias posteriores, da mesma forma que Sean Connery teria influenciado a concepção de Ian Fleming sobre James Bond nos últimos anos de vida de Fleming.