Adilson Carvalho

A mitologia grega sempre foi fascinante para contar grandes aventuras, épicos de fantasia centrados na figura de grandes heróis como Hércules, Perseu e até mesmo a Mulher-Maravilha da DC Comics. Rick Riordan já era um escritor de sucesso nos Estados Unidos com a série Tres Navarre (1997), quando estimulado por seu filho Haley Riordan, explorou a mitologia grega para criar Percy Jackson, um menino de 12 anos que desconhece ser filho do Deus Poseidon. Rick conhecia bastante do assunto já que havia lecionado sobre mitologia grega além de costumar contar histórias para seu filho dormir baseadas nos mitos gregos. O autor fez de Percy Disléxico e portador de TDAH aproximando seu herói dos problemas da vida real. O primeiro livro da série Percy Jackson & O Ladrão de Raios foi lançado em 2005, chegando ao Brasil pela Intrínseca. Na época Riordan foi acusado de plágio devido à coincidências narrativas com a saga Harry Potter: Trio de protagonistas jovens, uma heroína mais esperta que todos (Hermione/Annabeth), vilão jovem (Luke/Malfoy), Magia convivendo com mortais etc. Nada disso abalou o sucesso do autor, que logo parou de lecionar e dedicou-se integralmente à escrita com as sequências Percy Jackson & O Mar de Monstros (2006), Percy Jackson & A Maldição de Titã (2007), Percy Jackson & A Batalha do Labirinto (2008) e Percy Jackson & O Último Olimpiano (2009). Outras obras se seguiram, incluindo uma outra série independente de Percy Jackson centrada nos mitos gregos. O grande encanto da saga de Riordan foi aproximar a mitologia grega do público jovem, tornando-a palatável para uma geração mergulhada na tecnologia. Se por um lado são inegáveis algumas semelhanças com a saga Potter, por outro a trajetória narrativa de Percy Jackson segue um caminho diverso e embebido da riqueza cultural da antiguidade clássica.

Em 2010 e 2013 a extinta Twentieth Century Fox adaptou os dois primeiros livros de Percy Jackson com Logan Lerman, Alexandra Daddario e Brandon T. Jackson nos papéis centrais. As diferenças entre livro e filme foram tantas que os fãs reclamaram já que partes importantes da história foram simplesmente retiradas, e outras foram modificadas profundamente. A começar pela idade do trio Percy-Annabeth-Grover, que de 12 passam a ter 16 anos; o diretor do campo de treinamento no livro é o Deus Dionísio, e no filme o centauro Quirion; o Titã Cronos que no livro é o principal antagonista não aparece assim como Thalia, filha de Zeus; Grover ganha muletas pata disfarçar sua natureza mítica diferente do livro em que apenas usa calças compridas o tempo todo e além destas muitas outras mudanças incluindo no curso das ações detonaram o resultado final. O segundo filme não foi diferente, e em vez de se manter fiel ao segundo livro de Riordan, o roteiro recorre desnecessariamente a elementos das várias sequências do autor. Para começar, Percy descobre a Grande Profecia rapidamente no filme, embora seu equivalente no livro só seja informado sobre ela na quinta e última parte da saga, Percy Jackosn & O Último Olimpiano. É uma mudança estranha, especialmente considerando a intenção inicial dos estúdios de fazer um terceiro filme. Além disso, como O Ladrão de Raios não apresentou determinados personagens e pontos da trama que são cruciais para a saga — e para a sequência do livro, especificamente —, o segundo filme corta pontos-chave e apressa a história de Percy. Por exemplo, Clarisse (Leven Rambin), a filha semideusa de Ares, não é apresentada no primeiro filme, o que torna sua rivalidade com Percy no segundo filme ainda mais aleatória. No terceiro ato do filme de 2013, porém, Luke traz Kronos (ausente do filme anteiror) de volta. Na versão do livro, Kronos possui o corpo de Luke, o que complica os esforços de Percy e Annabeth para matar o titã renascido. Não só a aparição de Kronos na tela troca a possessão por um monstro de fogo gigante em CGI, como Percy leva alguns minutos para matá-lo, minando completamente o risco de toda a saga Percy Jackson. A bilheteria inexpressiva foi determinante para que a adaptação dos demais livros fosse descontinuada, e retomada pela Disney + no formato de série, sendo esta mais respeitosa para a obra, o autor e seus fãs. A série da Disney+, no entanto, é bastante fiel, mas faz mudanças importantes, como dar mais protagonismo à mãe de Percy (Sally) e tornar deuses como Hades menos intimidadores, enquanto os livros criam mais suspense ao fazer com que os personagens descubram suas identidades gradualmente (por exemplo, Percy descobre mais tarde que seu pai é Poseidon). Os principais pontos da trama diferem, como o momento em que se descobre o destino de Sally e como se desenrolam os encontros no Lotus Casino e com Ares, com o objetivo de dar mais destaque aos personagens e tornar suas motivações mais claras, especialmente para Sally e Annabeth. Ares, o Deus da Guerra, ignorado na adaptação de 2010, surge em uma armadilha em forma de cadeira dourada, enquanto a versão do livro usa aranhas mecânicas. A chegada da 2ª temporada da série anima os fãs com a continuidade das adaptações, um material divertido e de qualidade extrema.