Adilson Carvalho

Confesso que Spielberg é um dos meus diretores favoritos. Há pouco mais de um ano tivemos Os Fabelmans, sua sensível cinebiografia, e aguardamos para breve o aguardado Dia D (Disclosure Day). Não há um lugar no mundo em que o nome de Steven Spielberg não seja conhecido e hoje esse fantástico diretor e produtor completa 79 anos. Uma carreira prolífica que o tornou o diretor com mais filmes na lista dos 100 Melhores de todos os tempos de acordo com o AFI (American Film Institute). Me encontro entre seus admiradores e lembro muito bem do impacto que toda minha geração sentiu com “Tubarão” (Jaws) em 1975. Aquelas duas notas musicais criadas pelo maestro John Williams invadiram o inconsciente coletivo saudando a criação do blockbuster de verão, que até aquele ano não existia na mentalidade da indústria hollywoodiana.

Steven Alan Spielberg começou sua história de amor com a câmera quando ainda era criança e costumava filmar com uma câmera Super 8, uma forma criativa de lidar com uma realidade difícil: O divorcio dos pais, o bullying que sofria na escola, o estimulava ainda mais a seguir os passos que o levaria se tornar um mestre em seu ofício. Aos 13 anos já fazia curta-metragens, aos 24 anos começou a dirigir episódios de seriados de TV como “Columbo“, “Galeria do Terror“, e logo em seguida estreou como diretor de longa metragem para a Universal TV com “Encurralado” (Duel), planejado como telefilme, mas com o sucesso acabou sendo exibido nos cinemas, sendo seguido de “Louca Escapada” (The Sugarland Express) três anos depois. Em pouco tempo, Spielberg ganhou confiança e respeito na Universal para fazer “Tubarão“, adaptação do romance de Peter Benchley, que entrou para a cultura pop. Em 1977, aos 31 anos, conquistou sua primeira indicação ao Oscar com o excelente “Contatos Imediatos do 3º Grau” (Close Encounters of the Third Kind). O resultado insatisfatória com a comédia “1941 – Uma Guerra Muito Louca” (1941) não abalou a posição do diretor que sonhava em fazer um filme de 007. Ao se juntar com o amigo George Lucas, fez melhor e criou o maior aventureiro do cinema, o arqueólogo Indiana Jones que surgiu em 1981 em “Os Caçadores da Arca Perdida” (Raiders of the Lost Ark) e assim fez Hollywood relembrar o encanto dos antigos seriados do cinema. Com “E.T – O Extraterrestre” (E.T) Spielberg se consagrou como um campeão de bilheteria, quebrando recordes e ganhando a reputação de um criador de sonhos. Apesar do sucesso de público, Spielberg demorou a ser levado a sério como realizador, razão pela qual o maravilhoso “A Cor Púrpura” (The Color Purple) recebeu 11 indicações ao Oscar, não ganhando nenhum. Em seguida “O Império do Sol” (Empire of the Sun) com 6 indicações e “Além da Eternidade” (Always) com nenhuma indicação mostrava que a mesma indústria que se beneficiava dos seus sucessos, lhe virava o rosto e se negava a reconhecer sua versatilidade. Foi assim, que decidiu assumir a alcunha de eterno Peter Pan e dirigiu Robin Williams como uma versão adulta do menino que não quer crescer em “Hook – A Volta do Capitão Gancho” (1991), mal recebido pela crítica.

Era o início da década de 90 e Spielberg derrubou seus detratores e provou seu valor com dois filmes fabulosos. “Jurassic Park – O Parque dos Dinossauros” (Jurassic Park), adaptação do romance de Michael Chricton, foi uma revolução técnica devido ao realismo com que recriou os dinossauros e tratou o tema da clonagem. No mesmo ano lançou “A Lista de Schindler” (Schindler’s List), drama de guerra que retrata o sofrimento dos judeus na Segunda Guerra que lhe deu o primeiro Oscar de melhor diretor afinal. O tema era pessoal pois seu avô foi prisioneiro de guerra e seu pai lutou no front de batalha asiático. Não demorou muito para que ele voltasse à Segunda Guerra com “O Resgate do Soldado Ryan” (Saving Private Ryan) de 1999, conquistando seu segundo Oscar de melhor diretor, além de mais 4 estatuetas e 6 indicações. Nessa altura, já havia criado o estúdio Dreamworks em associação com Jeffrey Katzenberg e David Geffen e passaria a alternar filmes de ficção científica como “A.I – Inteligência Artificial” (A.I) de 2001 e “Minority Report” de 2002 com filme dramáticos como “Munique” (2005) e “Lincoln” (2013). Recentemente, a produtora Amblin, de Spielberg assinou uma parceria com a Netflix para producão de conteúdo exclusivo, mostrando que o icônico diretor de toque de Midas se conecta com uma nova geração que não brincou de Goonie, não viajou pelo tempo de Delorean nem se assustou com Poltergeists, todos filmes extremamente populares em décadas passadas, produzidos por esse sonhador que mostrou que acreditar em si mesmo é essencial para ser bem sucedido , e que podemos ter os pés no chão, sem que precisemos parar de sonhar. Parebéns Spielberg !