PRELO & PELÍCULA | A GUERRA DOS MUNDOS

André Azenha

Publicado em 1898, A Guerra dos Mundos, de H. G. Wells, atravessou gerações e formatos, e a minha versão cinematográfica preferida ainda é de 1953, que tenho em DVD e revi hoje dublado (e que dublagem bacana!) na @istvdigital. Dirigido por Byron Haskin, o filme não se preocupa em suavizar nada. Ele avança com frieza rara, transformando curiosidade científica em pânico absoluto em questão de minutos. A queda do objeto no sul da Califórnia, a falsa tranquilidade inicial e a rápida escalada para a destruição em massa seguem funcionando com precisão cirúrgica. Clayton Forrester (Gene Barry) é menos um herói e mais uma testemunha atônita. Sylvia (Ann Robinson) encarna o olhar civil lançado no centro do caos. Sempre me chamou atenção como o filme não oferece ilusões de controle: autoridades falham, a ciência tropeça e o Exército é irrelevante. Pessoas viram cinzas em segundos, bandeiras brancas não significam nada, e até uma bomba nuclear é ignorada com desprezo. Em 1938, o episódio radiofônico de Orson Welles levou a história ao rádio em formato de noticiário e provocou pânico real. O filme de 1953 parece herdar esse trauma coletivo, usando códigos de realidade para reforçar a sensação de que nada está sob controle. As máquinas marcianas — frias, indiferentes, acompanhadas por um desenho sonoro perturbador — seguem mais assustadoras do que muitos monstros digitais posteriores. Não há vitória humana, apenas sobrevivência acidental, quando os invasores sucumbem a bactérias da atmosfera terrestre. O alívio vem rápido demais para permitir questionamentos, e talvez seja exatamente aí que o filme acerta. Steven Spielberg faria em 2005 uma versão super produzida mas irregular e estrelada por Tom Cruise. Vinte anos depois, o Prime lançou transformou a obra de Wells no pior lançamento de 2025, na versão estrelada por Eva Longoria e Ice Cube. Apesar dos efeitos especiais datados, o longa original mantém seu charme e continua a melhor adaptação.

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