O ADEUS A CLAUDIA CARDINALE A BRIGITTE BARDOT

André Azenha

Elas passaram pelo mundo como quem atravessa a tela sem pedir licença. Claudia Cardinale e Brigitte Bardot foram, muito além de atrizes, sinais de uma época em que o cinema ainda acreditava no poder do rosto, do gesto mínimo, do silêncio carregado de sentido. Quando Caetano Veloso as cantou em Alegria, Alegria, não citava nomes ao acaso. Nomeava imagens que já pertenciam ao imaginário coletivo, mulheres que representavam liberdade antes que a palavra virasse slogan. Cardinale tinha a força de quem parecia carregar o Mediterrâneo nos olhos. Era corpo e gravidade, presença que ocupava o quadro sem precisar se impor. Bardot, ao contrário, era ruptura. Um terremoto loiro que desmontou convenções, expôs contradições, confundiu desejo com emancipação. Uma virou mito clássico; a outra, ferida aberta. Ambas atravessaram décadas feito símbolos de um tempo em que o cinema ainda moldava sonhos comuns. Que as duas tenham partido no mesmo ano soa menos coincidência e mais como metáfora. 2025 levou consigo não só duas musas, mas um certo modo de olhar. Um cinema em que o escândalo era estético, não algorítmico. Em que a beleza não vinha filtrada, e a liberdade tinha custo real. Elas viveram intensamente as luzes e as sombras do estrelato, pagando o preço de serem mais do que personagens.

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