André Azenha

Em 1949, Ingrid Bergman era a rainha de Hollywood. Estrela de Casablanca e Por Quem os Sinos Dobram, vencedora do Oscar por À Meia-Luz, vivia o auge da carreira. Elegante, respeitada, parecia intocável. Mas ao assistir a Roma, Cidade Aberta, de Roberto Rossellini, Ingrid se sentiu chamada por outro tipo de cinema — cru, verdadeiro, feito nas ruas. Escreveu ao diretor uma carta improvável: “Se precisar de uma atriz sueca que fala inglês muito bem, não esqueça de mim”. Esse gesto mudaria sua vida para sempre. Quando os dois se encontraram, a atração foi imediata. A atriz largou o casamento com o médico Petter Lindström e deixou Hollywood para viver com Rossellini na Itália. O caso virou escândalo internacional. Senadores dos EUA a atacaram em discursos, jornais a chamavam de pecadora e sua imagem foi rasgada em público. Ainda assim, ela permaneceu. Ao lado de Rossellini, protagonizou filmes como Stromboli e Viagem à Itália. Entre as filmagens, construíram uma família: tiveram três filhos — Roberto, nascido em 1950, e as gêmeas Isabella e Isotta, em 1952. A vida doméstica era caótica, intensa, entre brigas, reconciliações e a rotina dividida entre o set de filmagem e a casa movimentada em Roma. O casamento não resistiria à tempestade de personalidades fortes, mas os anos com o cineasta marcaram Ingrid para sempre. Ela deixou de ser apenas a musa perfeita de Hollywood e se tornou uma mulher que arriscou tudo por amor, por arte, por liberdade. Anos depois, seria acolhida de volta pela indústria norte-americana, venceria mais Oscars e reencontraria o prestígio perdido. Mas por trás da imagem reabilitada estava a lembrança de um tempo em que escolheu o caminho mais arriscado: viver plenamente, ser mãe, amante e artista em meio ao caos. Ingrid Bergman provou que o brilho das telas pode ser menor que a intensidade da vida real. E Rossellini, para o bem e para o mal, foi a página definitiva dessa transformação.