ENTREVISTA COM CLAUDIA ALENCAR, ATRIZ & POETISA

Por Adilson Carvalho

Claudia Alencar é atriz, poetisa, escritora, cenógrafa e professora de artes cênicas. Formada Bacharel e Licenciada em Teatro pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP). Trabalhou no teatro, no cinema e na TV tendo cursado Ciências Sociais, também na USP. Premiada com o Troféu Super Cap de Ouro e Prêmio Qualidade por seu trabalho na novela Anjo de Mim (1996/1997), Melhor atriz no Festival Nacional de Petrópolis em 2011 pelo filme Réquiem para Laura Martin, homenageada por sua contribuição artística com o Prêmio Dia Internacional da Mulher em 2003, e pelo conjunto da obra com o Troféu Top Brasil de 2012. Vamos conhecer um pouco mais de sua prolífica carreira.

1. Na televisão, você começou na TV Cultura e depois foi para a TV Tupi por volta de 1975. Como foi a transição de sua formação no teatro para o meio televisivo ? Tenho uma formação universitária, tenho bacharelado em teatro pela USP, fiz ciências sociais na USP e aos 20 anos de idade fui dar aula de teatro. Quatro anos depois a cadeira de teatro foi retirada pelo diretor. Para sobreviver levei meu currículo para o diretor de teleteatro na TV Cultura, mas eu já havia feito algumas coisas no ECA (Escola de Comunicações e Arte) na USP onde tínhamos a cadeira de teatro, televisão e cinema. Fiquei com o papel de protagonista na minha primeira peça Somos Todos do Jardim de Infância, do Domingos de Oliveira, contracenando com o Antônio Fagundes. Vida de atriz é assim: Você faz um papel agora, e depois desce, aí faz outra e volta a ficar em evidência. Em seguida voltei a dar aula na Faculdade Alcântara Machado, e algum tempo fui apresentada ao Antônio Calmon, que falou com o Carlos Zara (marido da Eva Wilma) que era diretor na TV Tupi na época. Eu tinha 25 anos na época, mas ele me aconselhou a dizer que tinha 17 e o papel era de uma jovenzinha de família rica, contracenando com o Edwin Luise. Falei com o Zara e fiz a protagonista na novela A Canção para Isabel na TV Tupi. Daí vieram outros trabalhos para a Tupi até que a emissora faliu. Na época eu estava fazendo a novela Drácula, escrita pelo Rubens Ewald Filho, que foi concluída na Band com o nome de Um Homem Muito Especial. Fizemos assembléia de classe para poder receber nossos direitos, já que a Tupi estava três meses sem pagar. Nesta novela do Rubens Ewald Filho eu fazia a cigana Alcina. Fiz a famosa cena da cachoeira, que estava geladíssima e precisamos tomar conhaque para gravar esta extrena com as baixas temperaturas do lugar. O resultado é que peguei pneumonia na época.

2. Você atravessou o duro período da ditadura militar. As artes cênicas te ajudaram de alguma forma a suportar as provações do período? Essa época, eu era menininha em 1964. Meu pai era sociólogo e trabalhava na câmera municipal. Os militares arrobaram a porta de minha casa e tiraram os livros de meu pai. Eles fizeram o que quiseram. Meu pai ficou quatro meses preso. Eu fiz o ginásio e vi os militares invadindo a escola com metralhadora. Cheguei a ficar 20 dias presa. Era 1975, época do Médici. Meu pai ficou preso com vários intelectuais e submetidos a extensos interrogatórios. Vi companheiros serem quase mortos, e os militares deixavam que víssemos tudo, mas eu consegui ser libertada porque um tio meu, que era Coronel, intercedeu, me localizou e me tirou de lá. Eu não falei nada para meu pai. É preciso falar o que aconteceu na ditadura militar para que não esqueçamos. É o poder da arma sobre muitos, milhões, milhares, de alguns sobre todos, o oposto de uma democracia. Falo para que não haja mais ditadura. No dia da invasão ao Congresso, eu estava em meu escritório quando recebi a mensagem de meu assessor falando do golpe. Foi uma sensação horrível.

3. Na TV você esteve presente no elenco da novela Drácula / Um Homem Muito Especial que começou na Tupi e terminou na Band. Como foi a experiência de trabalhar com o texto do saudoso Rubens Ewald Filho, que era crítico de cinema também? Eu não o conhecia pessoalmente quando fui chamada para fazer a Alcina, a cigana em Drácula / Um Homem Muito Especial. Na reunião com o diretor e o elenco me mandaram cortar o cabelo para o personagem, no estilo chanel, bem burguesia. Fomos ter uma reunião na Bandeirantes quando encontrei o Rubens pela primeira vez. Ele me perguntou “Cláudia, o que você fez com seu cabelo?”, “Isso acabou com seu personagem“. Voltei ao cabelereiro e pedi para cortar bem curtinho, bem joãozinho. Assim eu começei a fazer o personagem até o dia em que reencontrei o Rubens que me elogiou, disse que eu estava maravilhosa, e assim ficamos amigos, fui até convidada a jantar na casa dele. Ele me disse na ocasião para me dizer que eu estava fazendo mais sucesso que o esperado. Eu era uma revolucionária e meu personagem foi levado para a prisão. O público se identificou ainda mais comigo e fui um sucesso absoluto na novela.

Cena de Um Suburbano Sortudo

4. Você fez em torno de 23 peças de teatro, 32 trabalhos na TV e 12 filmes. Como é para você transitar entre as linguagens dos três meios, a TV, o teatro e o cinema? Eu tenho muita dificuldade de escolher… música, filme, teatro, autor etc.. eu gosto de várias coisas. A televisão tem o desafio de decorar textos enormes toda semana, mas não dá tempo de ensaiar como no teatro. Você passa o texto uma vez e vai gravar. Tira a maquiagem, troca de roupa, chora… tudo é muito rápido. É muito difícil fazer televisão, muito desafiador, são muitos atores, você grava em um núcleo e depois grava em outro. Você tem que estar bem afiada. Graças a Deus nunca precisei fazer a cena voltar porque esqueci o texto. Eu passava os finais de semana cuidando de meus filhos, criança no colo e eu decorando o texto para ficar na ponta da língua. Teatro é outro desafio, tem aquele dia a dia, como em um casamento. O público está lá ao vivo, as cenas eram marcadas, o diretor dava orientações. Tudo acontece naquele momento, o teatro é a vida como ela é. No cinema a dificuldade é fazer os planos, gravando várias cenas por dia. Tudo tem seus desafios e suas maravilhas.

5. Algum de seus papéis é especial para você em suas lembranças? Enfim, todos meus personagens são como meus filhos. Fiz parte do elenco de duas peças com Paulo Autran, uma semana era uma e na semana seguinte o mesmo elenco fazia outra. No Vaudeville, que era uma comédia onde eu fazia a amante de Paulo Autran, e a Karen Rodrigues fazia a esposa dele. Eu era a empregada da mãe dele. Lembro que eu fazia o último papel em uma peça e na outra eu fazia a primeira a entrar em cena outra peça. Pela minha personagem em o Tartufo de Moliére, a crítica me elogiou e me deu cinco linhas dizendo “Claudia Alencar está muito bem“. Eu entrava muda e saía calada da cena, mas atraí a atenção do público quando comi uma mosca no palco. Em Porto dos Milagres também fiz um papel em 30 capítulos e saí protagonista da história matando Cassia Kiss, Antônio Fagundes, morrendo e virando fantasma. Em um workshop, usei máscara japonesa em um personagem que vinha a ensinar alguém a fazer arakiri. Tudo que aprendi de japonês aos 14 anos eu usei. Eu consegui fazer a máscara falar, a máscara falava e meu rosto estava quieto. Somente quatro pessoas haviam conseguido fazer a máscara falar. Pouco tempo depois o Aguinaldo Silva me chamou para fazer um personagem novo na novela Fera Ferida, que já estava no ar há alguns meses. Eu era Perla Menescal, uam atriz decadente de cinema pornô. Fui capa de várias revistas na época contracenando com o José Wilker.

Com José Wilker em Fera Ferida

6. Você esteve em um drama Doce (Delírio) em 1982, terror (Shock) em 1983, comédia (Um Suburbano Sortudo) em 2016, além de trabalhado em Inspetor Faustão & O Malandro (1991) e Xuxa & Os Duendes (2016). Sua versatilidade é inegável através de vários gêneros. Qual seu favorito? Comédia, drama, suspense ? A comédia é mais difícil porque precisa ser muito verdadeiro. Ser engraçado é falar sério uma coisa estranha. Mas tanto a comédia como o drama tem suas dificuldades, mas é fascinante.

7. Na Tv você esteve também em grandes sucessos como Os Imigrantes, Roda de Fogo, Tieta, Vidas em Jogo, Rock Story entre outros. O que é o sucesso para você ? Sucesso é o reconhecimento por seu trabalho, sua capacidade física, emocional e intelectual. Você faz seu trabalho e as pessoas reconhecem. Isso é o sucesso para mim.

8. Você é escritora e poetisa, já tendo publicado 5 livros e ganhado o prêmio Internacional da Lusofonia. Como se deu essa passagem de atriz para uma premiada escritora? Na verdade tudo é trabalho diário, paixão, disciplina, esforço diário. Talento a gente forja. Eu fui galgando esses degraus. Muito amor e dedicação,

9. Meu querido Diário é um podcast autobiográfico. A exposição pela internet não te intimida ou assusta? Não, minha geração gostava de diário, como a Pamela Anderson revela no documentário sobre sua vida no qual ela fala que escrevia no diário.

10. As perguntas abaixo são inspiradas no questionário de Bernard Pivot:

10.1. Qual sua palavra preferida? Vou falar três: Mamãe, amor e filhos

10.2. Qual profissão gostaria de exercer se não tivesse a sua? Bailarina

10.3. Que som ou barulho você gosta? O som do vento é Deus junto da gente.

10.4.. Se o céu existe, o que gostaria que Deus lhe dissesse ao lhe encontrar? Que Deus me contasse uma piada que me fizesse gargalhar e me fizesse cada vez mais feliz, mais do que jamais.

11. Com tantos prêmio e homenagens em uma carreira prolífica e brilhante, o que a Claudia Alencar almeja para breve? Tenho planos para um documentário sobre minha carreira

Página inicial do site da atriz

Mais sobre a atriz e poetisa Claudia Alencar no site http://www.claudiaalencar.com.br.

Um comentário

Deixar mensagem para POESIA IN FOCUS : MUITO PRAZER DE CLAUDIA ALENCAR Cancelar resposta