ENTREVISTA COM NIZO NETO

Por Adilson Carvalho

Nizo Neto emprestou sua voz para Michael J. Fox (Teenwolf – O Garoto do Futuro) , Tom Hanks (Quero Ser Grande) , Ralph Macchio, Mathew Broderick entre outros. Nizo já fez sua voz ir ao espaço em Star Trek Deep Space Nine, experimentou a sabedoria do Myagi-dô em Cobra Kai, e nos fez curtir a vida adoidado. Herdeiro de um dos maiores nomes do humor brasileiro, sendo filho do saudoso Chico Anísio, ator, dublador, escritor, radialista e mágico. Tenho o prazer de conversar com Nizo Neto.

Adilson: Você começou a carreira em 1972 ao lado de seu pai, na televisão. Como foi crescer cercado de tantos talentos, não apenas seu pai como também vários artistas que brilhavam ao seu lado?

Nizo: Crescer nesse ambiente foi um privilégio muito grande, uma coisa para poucos e para um cara da minha geração, ter tido a oportunidade de conviver, trabalhar e contracenar com figuras que já não estão mais aqui há muito tempo foi um privilégio do qual me orgulho muito.

Adilson: Como ator e dublador você já é um mágico com sua voz, dando vida a personagens que fizeram parte do convívio de todos. Ainda assim você é um excelente ilusionista. O que o atraiu ao mundo da mágica?

Nizo: Entrei para a mágica em 1988, quando fui chamado para o programa Criança Esperança, onde tinha um quadro chamado Circo dos Astros. Perguntaram se eu queria fazer mágica. Eu nem tinha prestado atenção em mágica antes mas aceitei. Contrataram um mágico para me assessorar e aquilo me encantou. Tem um fator psicológico poder fazer algo que ninguém faz. Isto te coloca em um patamar de auto estima elevada. Foi muito importante pois é uma arte maravilhosa e eu me tornei diretor social por dois anos consecutivos do círculo brasileiro de ilusionistas do Rio de Janeiro. Sempre gostei muito de mágica, mas confesso que me desiludi depois do Mister M.

Os irmãos Nizo Neto e Lug de Paula

Adilson: Nas gravações da Escolinha do Professor Raimundo, onde você fazia o Ptolomeu, sempre dava a entender que havia muita improvisação em meio às gravações. De fato, isto é o que acontecia ou tudo era previsto no script ?

Nizo: Olha, o improviso na Escolinha é muito menor do que se pensa. Vamos dizer que era assim 10 por cento de improviso. Aí entram dois fatores: Primeiro, não líamos os textos uns dos outros. Recebíamos aquele bloco de texto e a gente decorava nosso texto. Tudo era surpresa e ríamos espontaneamente uns dos outros de verdade, e claro o talento de todos até dava a impressão de que a maioria era improviso. Mas não, era tudo texto.

Adilson: Você fez algumas novelas como Sinhá Moça, O Cravo e a Rosa e A Próxima Vítima. O trabalho de dublador te atrai mais do que ator em uma novela ?

Nizo: Bem difícil comparar essas duas modalidades. O trabalho de dublagem é um trabalho de ator como outro qualquer, mas ele também é bem específico, bem especializado. O trabalho de ator em TV, teatro ou cinema você não apenas a voz, mas também todos os recursos que você tem. Já na dublagem, você concentra tudo na voz e ela te leva para um mundo diferente, o mundo das séries, da animação, de dublar os grandes atores. Acho tudo fascinante, cada qual dentro de seu estilo.

Adilson: Você dublou personagens marcantes da década de 80 como Michael J. Fox na sitcom Caras & Caretas, Jon Cryer em A Garota de Rosa Shocking e Mathew Broderick em Curtindo a Vida Adoidado. Os anos 80 parecem estar muito vivos ainda, constantemente revistados não apenas em reprises, mas também em sequências como Top Gun Maverick e reboots anunciados. Por que, em sua opinião, os anos 80 ainda fascinam tanto?

Nizo: Os anos 80 fascinam muito porque o ser humano é muito saudosista. A gente quer que tudo seja como nosso tempo. Pessoas reclamam muito do humor de hoje, realmente mudou muito. Mas, os humoristas dos anos 80 também reclamavam do humor que era feito na época e diziam que humor bom era o dos anos 60. O ser humano nunca está satisfeito com sua época e acho que isto está muito forte por causa da internet. Antigamente não tínhamos um veículo que trouxesse tudo o tempo inteiro, e não podemos negar que os anos 80 eram muito ricos em termos de comédia, filmes e música.

Adilson: Você dublou Willie Kat na clássica Thundercats, Presto em Caverna do Dragão, Apu em Os Simpsons entre outros. A dublagem das animações é mais divertida que as de live action?

Nizo: Isso depende. Tem muita animação boa e muita animação ruim. Acho que podemos dizer o mesmo de live action. Talvez em termos de criação de voz, a animação seja mais versátil, mas o live action atmbém tem muita coisa boa. Dublagem é assim mesmo, tem de tudo, muita coisa boa, muita coisa péssima. Mas não tem como escolher, mas sem dúvida o live action traz a responsabilidade de dublar atores. A animação já foi feita para que alguém coloque uma voz. Quando um filme ou animação é bom, ambos são bem divertidos.

Adilson: Retomando os anos 80, você é a voz de Daniel Larusso em Cobra Kai, série da Netflix que vem fazendo muito sucesso. Você também era fã dos filmes da franquia Karate Kid ?

Nizo: Gostei do Karate Kid, principalmente o primeiro, mas não posso dizer que eu era um fã assíduo. Mas o filme foi um clássico. Naquela época eu não era criança, então não veio com o mesmo impacto que para uma criança ou adolescente.

Adilson: Em Star Trek Deep Space 9 você fez a voz do Dr. Julian Bashir por 7 temporadas e em O Vidente você dublou Johnny Smith por 6 temporadas. Dublar um personagem fixo durante tanto tempo é cansativo ou mais divertido?

Nizo: Não acho cansativo dublar um personagem por muito tempo. Ainda mais esses exemplos de séries boas com personagens bons. Cansativo é quando o filme é ruim, ne? Você gira a chave da dignidade quando aceita um trabalho e procura fazer o melhor como profissional. Tem coisas claro que você faz com uma garra diferente como o Cobra Kai. Você sabe que tem uma quantidade enorme de pessoas assistindo e isso é muito empolgante.

Adilson: Em As Branquelas você faz a voz do Marcus Copeland, personagem de Marlon Wayans. É um filme bastante reprisado e divertido. Comédias são mais difíceis de dublar que dramas?

Nizo: Como eu jogo nas duas, para mim não tem essa de uma ser mais difícil que a outra. Mas na comédia muitas vezes tem jogo de palavras e o tradutor nem sempre tem tempo hábil de fazer uma adaptação, com isso algumas piadas se perdem. Isso me incomoda um pouco, mas em termos de dificuldade, não sinto isso. Mas o que precisamos ter o cuidado ao dublar é nunca tentar ser mais engraçado do que o ator que você está dublando. Senão fica uma coisa forçada.

Adilson: As perguntas a seguir são inspiradas no questionário de Bernard Pivot. Qual profissão gostaria de exercer se não tivesse a sua?

Nizo: Não consigo me imaginar fazendo outra coisa, pois faço isso desde muito pequeno. Lembro, no entanto, que quando criança eu queria ser joquei, mas como 1 metro e 80 isso seria meio difícil, ne? Não consigo me imaginar fazendo outra coisa, até porque eu não sei.

Adilson: Qual a profissão não gostaria de exercer jamais?

Nizo: Limpador de fossa.

Adilson: Se o céu existe, o que gostaria que Deus lhe dissesse ao lhe encontrar?

Nizo: Gostaria que ele dissesse “Eita, erramos. Pode voltar. Não é a sua hora ainda.”

Adilson: Quais serão seus próximos trabalhos em vista?

Nizo: Os trabalhos que tenho em vista tem sigilo e eu não posso te falar, mas um dos mais recentes que fiz foi o Rota 66, que está no Globoplay e fiz O Rei da Tv, a minisérie sobre o Silvio Santos que está no Star Plus. Estou em cartaz no teatro com a peça Nunca Desista de Seus Sonhos, do Augusto Cury e vamos fazer uma temporada no Teatro Itália, aqui em São Paulo no mês de maio inteiro e depois vamos continuar com a turnê viajando. Bem é isso. Um abraço.

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