HQ TERRITORIO NEUTRO | SPAWN ORIGENS VOLUME 2

Por Leandro “Leo” Banner

Essa edição da Panini Comics dá continuidade às aventuras de Spawn, O Soldado do Inferno, criado por Todd McFarlane, surfando na onda de seu sucesso na primeira metade da década de 1990, reunindo as edições #8 a 13 de SPAWN originalmente publicadas pela Image Comics em 1993, incluindo a até então inédita edição #10 Depois do confronto com o Chacina, Spawn continua sua peregrinação na tentativa de se lembrar de mais ocorrências de sua vida pregressa, bem como das circunstâncias que levaram à sua morte. Antes disso, porém, o personagem mergulha num arco de quatro histórias ilustradas por seu criador e escritas por grandes nomes das HQs, a saber: ALAN MOORE (Spawn #8), NEIL GAIMAN (Spawn #9), DAVE SIM (Spawn #10) e FRANK MILLER (Spawn #11), sobre as quais teceremos breves considerações.

SPAWN #8 começa com a chegada de Billy Kincaid ao que se pode considerar como “recepção” do inferno. Ao tentar escapar, Kincaid se depara com várias almas, e a alma específica de uma criança que começa a lhe ensinar sobre a estrutura daquele lugar infernal, composto de 10 grandes esferas. Ao se deparar com Vingador, um dos irmãos Flebíacos, Kincaid se vê enredado numa louca caminhada com o objetivo de submetê-lo a Malebólgia, do Oitavo Círculo, demônio responsável pelo pacto com Al Simmons, o que pode ocasionar consequências inesperadas para a alma do assassino de crianças. A edição #9 traz a primeira aparição do Spawn Medieval e a caçadora Ângela na Idade das Trevas, e depois a trama avança para os dias atuais em que uma “Corporação” formada por seres angelicais toma ciência da existência de um novo Spawn surgido recentemente, decidindo enviar Ângela para caçá-lo. Em seu confronto com o novo Spawn (Al Simmons), a caçadora é derrotada pela primeira vez. Ao examinar a lança de Ângela, algo inesperado acontece ao Soldado do Inferno.

Essas duas histórias, escritas, respectivamente, por Alan Moore e Neil Gaiman, são tramas muito boas – e infinitamente superiores às escritas por Todd McFarlane – que acrescentam conceitos e situações que aprofundam e tornam o cânone de SPAWN muito mais interessante, dando até um certo incentivo para continuar acompanhando a saga do personagem. 😝 Entretanto, antes de continuar a análise do volume 2 de SPAWN: ORIGENS, necessárias algumas considerações sobre a história seguinte, originalmente publicada em SPAWN #10, publicada aqui no Brasil pela PRIMEIRA VEZ, e escrita por DAVE SIM, um autor canadense que despontou na segunda metade da década de 1970 com sua criação CEREBUS, um “aardvark” (ou porco da terra) que se constitui numa paródia aos quadrinhos mainstream, de forma geral. Com o sucesso de sua criação crítica e politicamente incorreta, Sim conseguiu provar que era possível a publicação de quadrinhos independentemente das grandes Marvel e DC Comics, sendo laureado e reconhecido diversas vezes por novas experimentações em forma e conteúdo de sua obra.
Não obstante, depois de terminar seu roteiro da história de SPAWN a convite de Todd McFarlane, o criador do Soldado do Inferno disse a Sim “Não vai rolar, Dave”, para o quê o autor respondeu mais ou menos “É isso que temos; você não vai ter outro roteiro, Todd”. O resto é história, e depois de sua primeira publicação, SPAWN #10 se tornou uma edição proibida de ser republicada em função desse suposto desentendimento entre os artistas e, a partir de então, temeroso de se envolver em embates judiciais que pudessem prejudicar seus negócios em ascensão, o criador do Soldado do Inferno se viu obrigado a suprimir a mítica história em futuras republicações.
Quase não dá para acreditar que uma situação tão banal tenha causado uma rixa que durou quase 17 anos, mas não é difícil entender suas razões porque tratam-se de dois autores com temperamentos muito similares, ambos vaidosos e arrogantes. E é muito fácil de se perceber isso ao ler o grande texto explicativo escrito pelo próprio SIM que antecede sua história de Spawn, que proporciona ao leitor uma visão mais clara de todo esse imbróglio (certamente com omissão de 90% dos detalhes mais escabrosos). 😝
Sobre a polêmica história em si, Dave Sim procurou fazer uma trama essencialmente política, uma crítica contundente à postura das grandes editoras – sobretudo Marvel e DC Comics – que não reconheciam o direito de propriedade dos criadores sobre seus respectivos personagens.
Na trama, depois de derrotar Ângela e manusear sua lança, Spawn é transportado para um uma espécie de limbo onde se vê aprisionado junto a inúmeros heróis com seus respectivos criadores totalmente indefesos. A metalinguagem é fantástica e vai realmente como um tapa com luva de pelica à situação imposta pelas grandes editoras aos criadores. O texto é direto e “Aquele que Veio Primeiro” (um enorme vulto com uma enorme e esvoaçante capa vermelha e traje azul e vermelho), diz a Spawn que seu criador ainda não lhe vendera.
Ainda nesse limbo, Spawn encara o Violador personificando a “justiça” e um delírio onírico onde vive uma doce realidade de felicidade com Wanda e Cyan. Encerrando o arco escrito por grandes autores, a história escrita por FRANK MILLER mostra Spawn se recuperando do delírio ocasionado pelo contato com a lança de Ângela , deparando -se com um conflito envolvendo uma disputa de territórios que atinge o beco onde o herói vive com seus amigos em situação de rua.
Desse arco de grandes autores, é a história mais fraca e decepcionante, não acrescenta absolutamente nada à trama, exceto o nome de Miller nos créditos de uma história de Spawn, nada mais. Nas duas últimas histórias do encadernado, edições #12-13, Todd McFarlane retorna aos roteiros com a história FLASHBACK, na qual Spawn se lembra de que seu assassino fora o membro do grupo Younblood chamado Capela, e decide finalmente partir para o acerto de contas. Mais da típica verborragia desnecessária e característica de McFarlane numa história que, finalmente, acrescenta alguma coisa ao cânone de seu personagem. Uma edição razoável que até empolga em alguns momentos, mesmo com a grande decepção da história escrita por Frank Miller. Sem dúvida a cereja do bolo da edição é a trama escrita por DAVE SIM, de longe a melhor história do lançamento, com uma narrativa muito interessante e que nos leva a algumas boas reflexões.

Avaliação: 3/5

Por fim, ainda que nesse seu começo, a IMAGE COMICS não primasse muito pela qualidade de suas histórias, é necessário reconhecer e salientar que foi a editora que iniciou e impulsionou os chamados “quadrinhos de autor”, permitindo que as criações dos personagens permanecessem sob a propriedade de seus criadores, se consubstanciando no começo de uma grande vitória para os artistas de quadrinhos nesse sentido.

Vida longa e próspera e até a próxima!🖖🏻

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