HQ TERRITORIO NEUTRO | HOMEM ARANHA ESSENCIAL PARTE 1 : A ERA STAN LEE & STEVE DITKO

Adilson Carvalho

Há 62 anos o público leitor de quadrinhos acompanha as histórias de Peter Parker , um jovem gênio da ciência que se tornou um dos heróis mais populares da Marvel. O Homem Aranha atravessa gerações desde que nasceu desacreditado pelo editor Martin Goodman que publicou o personagem, imaginado por Stan Lee e Steve Ditko, nas páginas da revista Amazing Fantasy #15 (Agosto de 1962). A revista tinha tiragem insatisfatória, e estava marcada para cancelamento iminente. Provando que perdedores conseguem mudar o rumo de suas vidas e se tornar grandes vencedores, o personagem caiu no gosto dos leitores que se identificaram com a história do orfão Peter Parker, criado por seus tios e nada popular entre os colegas de escola. Ao ganhar seus poderes, Peter inicia um processo de amadurecimento, premissa reforçada pela frase criada por Stan Lee e que se tornaria marca registrada do herói “Com Grandes Poderes vem Grandes Responsabilidades”.  O sucesso nas vendas daquela última edição de Amazing Fantasy convenceu os editores a lançar o personagem em seu título próprio The Amazing Spider Man, a partir de março de 1963. No início da década de 60, o mundo estava mergulhado no clima da Guerra do Vietnã, conflitos raciais tomavam conta das ruas e os jovens embalavam sua rebeldia ao som do rock dos Beatles e Stones. A radiação nuclear era a tecnologia do momento e foi o gatilho empregado por Stan Lee para justificar os poderes de Peter Parker, picado por uma aranha contaminada por radiação durante uma experiência no laboratório.

OS COADJUVANTES. Os primeiros três anos do título estabeleceram o status quo do personagem: Peter Parker se torna um herói movido pela culpa de não ter prendido um assaltante, que viria a matar o Tio Ben, única figura paterna que conhecera depois de ter sido abandonado pelos pais, o que seria retomado mais tarde em retcons. Apesar de estar sempre combatendo o crime e arriscando sua vida para ajudar as pessoas, Peter/Homem-Aranha é sempre desmoralizado por J. Jonah Jameson, editor-chefe do Clarim Diário, que o transforma em uma ameaça aos olhos de todos. Peter flerta nesse período com Betty Brant, a secretária de Jameson, e enquanto cursa o hoje chamado Ensino Médio tem dificuldades de socialização com os colegas, principalmente com Flash Thompson, que disputa com Peter a atenção da jovem Liz Allen, mas por ironia do destino é Flash quem se torna o maior fã do Cabeça de Teia. Jameson se torna cada vez mais uma pedra no sapato do Aranha, principalmente por culpá-lo pelo acidente com a aterrisagem da nave do astronauta John Jameson, filho do editor, que teve sua missão sabotada pelo vilão Camaleão.

GALERIA DE VILÕES. O elenco de malfeitores no caminho do amigão da vizinhança é um dos maiores das hqs, rivalizando sua popularidade apenas com a do Batman. Nesse período inicial das histórias surgiram o Camaleão, o Abutre, Dr. Octopus, Kraven, o Lagarto, o Mysterio, o Escorpião, os Esmagas Aranhas (robôs financiados por Jameson para caçá-lo) e, o misterioso Duende Verde, cuja identidade Lee e Ditko manteriam um segredo por um longo tempo. Reza a lenda que Lee e Ditko discordavam em várias decisões artísticas, entre elas sobre a identidade do Duende Verde, que só seria revelado na história dupla publicada em Amazing Spider Man #39 e #40 (agosto e setembro de 1966), mas sobre isso falaremos no próximo artigo. As histórias de Lee e Ditko são obras primas se analisarmos a clássica estrutura da jornada do herói. Peter procura com muita dificuldade equilibrar os problemas de ser considerado persona non grata para a população nova iorquina, sua impopularidade na escola, o esforço para cuidar de Tia May e ainda vê surgir uma inesperada rivalidade com o Tocha Humana, outro herói jovem extremamente popular entre os leitores. Tudo isso, claro temperado com muito humor.

CORAÇÃO DE ARANHA. Apesar de se ver dividido entre o interesse por Betty Brant e Liz Allen, ambas não demoraram a ser descartadas. Betty foi sua primeira namorada, mas quando o Homem-Aranha não consegue salvar a vida de seu irmão, baleado acidentalmente em uma luta do herói com o Dr. Octopus (Amazing Spider Man #11, abril de 1964), Peter desiste pois não haveria como fazer Betty não odiá-lo se ela soubesse de sua identidade secreta. Já Liz sai discretamente de cena depois da formatura no colegial, fazendo sua última aparição em Amazing Spider Man #28 (setembro de 1965). Mais tarde, a personagem reapareceria. No final da fase Lee e Dikto, surgiria a doce Gwen Stacy (Amazing Spider Man # 31, dezembro de 1965), mesma história que se dá a primeira aparição de Harry Osbourn. Já a queridíssima Mary Jane fez rápida aparição sem ter seu rosto e corpo mostrado em detalhes em Amazing Spider Man #25 (junho de 1965), antes de ser mostrada por completo já na fase John Romita.

GRANDES MOMENTOS. O traço de Ditko soube retratar o Homem Aranha com grande agilidade nas cenas de luta, mas sempre com força sobre humana em momentos que ficaram marcados na memória dos leitores como a luta com o Hulk em Amazing Spider Man #14 (julho de 1964), primeira aparição do Duende Verde, a luta com o Escorpião (financiada também por Jameson) e mostrada em Amazing Spider Man #20 (janeiro de 1965) e Amazing Spider Man #29 (outubro de 1965), ou o dramático arco publicado nas edições de Amazing Spider Man #31 #32 e #33 (dezembro de 1965 a fevereiro de 1966). Nele, Tia May está no hospital com envenenamento por radiação em seu sangue devido a uma transfusão de sangue de Peter, mas para conseguir o antídoto que pode salvar sua vida, ele precisa passar pelo vingativo Dr.Octopus. A luta é feroz e traz um determinado Peter erguendo toneladas de equipamento enquanto procura não se afogar no esconderijo submerso do vilão. Outra história inesquecível aqui é o Sexteto Sinistro em Amazing Spider Man Annual #1 (janeiro de 1964), um grupo formado por Dr. Octopus, Homem Areia, Elektro, Mysterio, Abutre e Kraven, os principais antagonistas do herói na época. Todo esse material pode ser lido e relido na coleção O Espetacular Homem Aranha – Edição Definitiva, volumes I e II, editados pela Panini recentemente, compilando as histórias inicialmente publicadas no Brasil pela Ebal e Bloch. Esteja conosco daqui a três semanas para acompanhar a 2ª parte desse ciclo de matérias, quando tratarei da chegada de John Romita ao título.

ESSE TEXTO FOI ESCRITO COM A BENÇÃO E COLABORAÇÃO CONTÍNUA COM LEANDRO “LEO” BANNER, O MAIOR ESPECIALISTA EM HQS E MEU QUERIDO AMIGO.

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